Leitura física ou digital? Veja cuidados e saiba como equilibrar uso de cada uma
Joyce, Mariana e Rogério representam pessoas que cultivam o hábito da leitura dentre as tarefas cotidianas
Bastante presente no dia a dia de estudo e trabalho de grande parte da população de todo o mundo, a leitura é uma verdadeira aliada para absorver conhecimento e também na hora de cumprir tarefas.
A versatilidade do seu formato, que pode se apresentar de modo físico ou digital, impulsiona a praticidade da escolha mais adequada para cada momento, mas também pode causar dúvidas relacionadas à saúde e ao aprendizado.
Por isso, a reportagem da Folha de Pernambuco entrevistou especialistas que destacam as principais vantagens de cada uma, além de ouvir pessoas que têm a leitura como hábito.
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Professora e neurocientista pedagógica e clínica, Regiane Melo, de 40 anos, listou as principais vantagens de cada formato, defendendo ambos.
“Segundo estudos em neurociência, é recomendado buscar equilíbrio entre a leitura digital e a leitura física. A digital oferece benefícios como acesso a uma variedade de materiais, facilidade de transporte e recursos interativos. No entanto, a leitura física também possui vantagens, como a sensação tátil do livro, a possibilidade de marcar páginas e a menor exposição à luz azul dos dispositivos eletrônicos, que podem afetar o sono e a saúde ocular”, disse inicialmente.
A professora especificou três particularidades positivas permitidas através do contato “real” com as obras, indicando sua utilização para uma apreciação mais demorada e detalhada.
“A leitura física tende a promover maior compreensão, retenção de informações e memorização, pois envolve uma interação mais profunda com o texto. Por outro lado, a leitura digital pode ser mais eficiente em termos de busca rápida por informações específicas ou para leitura rápida de artigos e pesquisas. A leitura física pode ser reservada para obras mais extensas e complexas”, acrescentou.
Apesar disso, se baseou outra vez na neurociência para assegurar que não há comprovação científica de que um modelo se coloque como superior ao outro no que diz respeito à aprendizagem.
“A neurociência não aponta modelo específico como o melhor para a assimilação do conteúdo. Isso pode variar de acordo com cada indivíduo e suas preferências, habilidades cognitivas e experiências pessoais”, garantiu.
Para finalizar, ela também se voltou ao prejuízo que o uso constante de telas traz à saúde, dando dicas para evitar acometimentos ao corpo de forma generalizada.
“Não há consenso sobre o mais prejudicial, mas estudos apontam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode afetar níveis de sono, atenção e bem-estar geral, vícios, alteração de humor e ansiedade. É recomendado limitar o tempo de exposição das telas e fazer pausas regulares durante a leitura digital”, exemplificou.
Quando a preocupação é direcionada exclusivamente aos olhos, a oftalmologista e diretora do Instituto de Olhos Fernando Ventura (IOFV), Catarina Ventura, de 44 anos, ressalta que não há diferença física entre os dois modelos no ato de ler, mas faz alertas sobre o uso de eletrônicos.
“Para os olhos não há grande diferença entre ler em telas ou em livros físicos. Entretanto, compreendemos e nos lembramos melhor daquilo que lemos no papel. A leitura em telas é cognitiva e fisicamente mais desgastante que em papel. A luz emitida pelos dispositivos faz com que a vista seja forçada, podendo causar dores de cabeça e visão embaçada”, comparou.
O excesso desse tipo de exposição, segundo a oftalmologista, pode ocasionar danos à saúde da visão. E o corpo dá sinais.
“Coceira, vermelhidão, olho seco, visão turva, dores de cabeça, sensibilidade à luz, tremores involuntários, fadiga ocular, sensação de peso nas pálpebras e sensação de que ao final do dia não enxerga bem para longe”, listou.
É possível “contornar” o cenário inserindo algumas práticas na hora da leitura. Estar na companhia de um colírio lubrificante e fazer ajustes, se possível, no tamanho da letra e na luminosidade da tela estão entre as recomendações.
“Piscar frequentemente os olhos, dar pausas fechando os olhos conscientemente, tirar a visão de telas e olhar para uma janela, manter a tela afastada na altura dos olhos pelo menos 30 centímetros, aumentar o zoom, fazer uso de colírio lubrificante durante quatro ou cinco vezes ao dia e configurar brilho, contraste e saturação da tela”, detalhou Catarina.
Entre a demanda do seu trabalho como coordenadora de conteúdo, Joyce Rodrigues Viana, de 30 anos, experimenta a vivência de um tempo dedicado apenas à leitura.
Os gêneros mais lidos por ela são romance, suspense policial, clássicos e true crime (gênero literário em que a obra se baseia em crimes reais e na ação dos envolvidos).
Diferente da exatidão em listar os seus tipos de leituras preferidos, a forma em que isso acontece é dividida, sendo o digital exaltado pela praticidade e o físico marcado pelo afeto.
“Atualmente, consumo mais o formato digital, mas apesar de adorar a praticidade dele, sempre acabo comprando as edições físicas dos meus livros favoritos para guardar, reler e marcar trechos de uma forma mais fácil de revisitar”, confessou.
O cuidado com a saúde durante a leitura, no entanto, começou a ser pensado por ela somente há pouco. As principais manobras da coordenadora são com a luminosidade e o tamanho das letras.
“Agora eu tomo um pouco mais de cuidado. Evito luz baixa ou luz branca direto nos olhos durante a leitura, faço pausas recorrentes para evitar que os olhos ressequem, evito papel branco para os livros físicos e fontes muito pequenas também”, detalhou Joyce.
A museóloga Mariana Clara de Brito Araújo, de 32 anos, garante que lê pelo menos dois livros a cada mês.
Ficção, romance, poesia e thriller (obra que reúne drama, mistério, suspense e ficção psicológica) ocupam a prateleira dos seus preferidos.
Ela também se divide entre os dois formatos de consumo. Em casa, opta por “viajar” na leitura de forma virtual, por meio de um leitor para livros digitais. Essa decisão não é apenas por gosto, mas também por falta de segurança pública nos percursos que faz diariamente no Recife, entre sua residência, na Zona Sul, e seu trabalho, na área central da capital pernambucana.
Nessas outras “viagens”, ela carrega livros físicos. “Ando com um livro na bolsa pra ler no ônibus e marcar. Em casa, leio bem mais no Kindle, já que não tenho coragem de andar com ele na rua. Gosto da praticidade dele, além da visão confortável, já que normalmente em casa eu leio mais a noite. Mas confesso que o livro físico me ‘pega’ mais, porque gosto de folhear, marcar e usar marcadores”, ressaltou.
A explicação para isso passa por acreditar numa experiência melhor, que possibilita mais absorção do conteúdo apresentado. “Por toda parte sensorial, principalmente”, justificou.
Autor da coluna Papo de Primeira na Folha de Pernambuco, Rogério Morais, de 38 anos, que também é administrador e sócio da Newmark Educação Corporativa, é mais um a incluir a leitura como hábito na sua vida, alimentando a meta de desfrutar de ao menos uma obra nova a cada 30 dias.
“Tenho o hábito de leitura. Atualmente, leio pelo menos um livro por mês. Gosto mais de livros técnicos de políticas públicas, educação e primeira infância. Além disso, gosto de ler jornal. Sempre gostei do físico, mas também leio os digitais”, iniciou.
Em seu histórico profissional, Morais já foi secretário executivo de Gestão Pedagógica e conselheiro de Educação do Recife de 2013 a 2019, além de secretário executivo para a Primeira Infância da capital pernambucana de 2019 a 2020. No ano seguinte, teve início na diretoria do projeto Primeira Infância, Plantar Amor (PIPA).
No lado pessoal a leitura também é protagonista. Unindo o que há de positivo nos dois universos, Morais faz paralelos com outras formas de aprendizado e espera deixar essa herança viva na sua filha Joana, de apenas três anos, com quem compartilha histórias.
“Para mim, é como teatro e novela, ou ir a campo e assistir o evento esportivo na TV. São experiências diferentes. Hoje tenho o hábito de ler e contar histórias para minha filha”, concluiu.
Leitura desde o berço
A leitura, na visão da professora Amanda Rocha Carneiro da Cunha, de 36 anos, perdeu o lugar de exclusividade por conta do passar do tempo e do aumento do alcance das plataformas multimídias, entretanto ainda permanece sendo a base mais consistente no quesito do aprendizado. Na sala de aula, Amanda ensina as disciplinas de língua portuguesa, produção textual e espanhol.
“Nós não podemos mais afirmar radicalmente que a leitura seja a única fonte de conhecimento e também de crescimento na área da educação, porém, ela ainda detém as mais complexas literaturas e apresenta as bases das mais diversas áreas. Aquele que quer ir a fundo no estudo, não poderá ficar só nos vídeos e áudios”, disse.
Organização e preparo na hora de se debruçar sobre a leitura são “ingredientes” indispensáveis para a receita de quem busca cultivar a leitura ao longo da vida. Para Amanda, essa semente deve ser regada desde antes mesmo dos primeiros passos.
“A leitura quando é realizada de forma bem feita, selecionada e organizada, irá trazer frutos incontestáveis para a pessoa. A combinação dessa leitura incansável às atualizações dos outros gêneros será incrível para um bom estudante. O hábito da leitura deve ser cultivado desde o berço”, afirmou, antes de elencar os benefícios que a ação pode trazer para o bem-estar, inclusive no âmbito mental.
“A pessoa que lê tem mais habilidade na escrita, consegue estimular mais o cérebro, a sua criatividade e ainda o seu pensamento crítico. Ler regula até mesmo o lado emocional e melhora a concentração. São muitas as vantagens”, explicou.
Experiência em sala de aula foi o que fez com que a docente avaliasse, na esfera prática, o que funciona ou não na hora da leitura.
“É preciso manter uma boa postura, nunca ler até ficar exausto, não fazer outra atividade simultânea, ler sobre o livro antes e nunca pular os parágrafos”, listou.
A professora reforçou último item da sua lista, garantindo que essa não é uma tática eficaz, contrariando o senso comum dos leitores.
“Há, aliás, quem ache que, para ler de forma mais rápida, pular os trechos não vai atrapalhar, mas essa é, sem dúvida, uma péssima ideia”, alertou.
Substituindo a bata branca da professora em sala de aula pelo colo colorido da mãe dentro de casa, Amanda continua ensinando e fazendo a sua parte na hora de plantar a semente da leitura no berço.
Ela faz isso através do seu filho Rodrigo, atualmente com um ano de idade, fruto do casamento com o desenvolvedor Luís Fernando de Espíndola Castro, de 35 anos.
Orgulhosa, a mãe relata que desde os oito meses de vida ela e o companheiro recebem livros infantis pelas mãos do filho, como um pedido para leitura.
“Ele adora livros, e traz para a gente ler, nos entrega. Quem sabe, colhemos os frutos disso, né”, projetou entre risos.