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Leptospirose, hepatite e cólera: Ucrânia teme surto de doenças após explosão de barragem

Aumento da transmissão de doenças por água contaminada é uma das principais preocupações de autoridades locais e entidades como a OMS

Foram derrubados seis mísseis e dois drones nesta sexta-feira (16)Foram derrubados seis mísseis e dois drones nesta sexta-feira (16) - Foto: Anatolii Stepanov/AFP

Conforme as inundações provocadas pelo rompimento de uma barragem na cidade ucraniana de Kakhovka recuam, autoridades de saúde do país se preparam para um possível surto de doenças transmitidas pela contaminação da água, como leptospirose, cólera e hepatite.

O alerta é mais um dos desafios que Kiev enfrenta quase duas semanas após a destruição da barragem no sul da Ucrânia — que vem tentando a passos lentos uma contraofensiva para recuperar territórios perdidos para Moscou. O rompimento, que o governo ucraniano atribui a um ataque russo, provocou a inundação do Rio Dnipro, afetando as regiões de Kherson e Mykolaiv. Neste sábado, as autoridades locais desenharam alguns planos para garantir o fornecimento de água potável à população.

— Atualmente, os caminhões que transportam suprimentos médicos essenciais para doenças infecciosas, como a cólera, estão sendo descarregados — disse Oleksandr Chebotarov, diretor médico do Hospital Clínico da Cidade de Kherson, em entrevista. — Até hoje, não tivemos nenhum caso relatado de doença, mas estamos nos preparando ativamente.

A escala total do desastre, que drenou um reservatório gigante usado para água potável e irrigação, está apenas começando a aparecer. Centenas de áreas residenciais ainda estão submersas, inclusive algumas sob domínio russo. Organizações humanitárias internacionais compartilharam suas preocupações sobre a poluição generalizada e a possibilidade de surto de doenças como febre tifoide, cólera, leptospirose e hepatite A.

Jarno Habicht, chefe do escritório nacional da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Ucrânia, disse que o risco de surto era a principal preocupação da agência. A organização já havia fornecido kits de cólera preventivos para pessoas na região de Kherson e arredores antes da destruição da represa. Habicht advertiu que, embora ainda não tenham sido registrados casos, a situação ainda está evoluindo. Segundo ele, a OMS e entidades parceiras estão monitorando os efeitos a longo prazo da liberação de produtos químicos perigosos na água.

O Ministério da Saúde da Ucrânia incentivou as pessoas nas áreas afetadas pelas enchentes a beberem apenas água engarrafada e está monitorando a qualidade do fornecimento.

Viktor Lyashko, ministro da Saúde ucraniano, afirmou que a área próxima à represa de Kakhovka estava altamente poluída e imprópria para qualquer uso, incluindo natação ou pesca. Pessoas e animais não devem beber a água, disse ele em uma entrevista à BBC, acrescentando que até mesmo tomar banho nela pode causar doenças.

— As instalações de tratamento mudaram para o modo de desinfecção de emergência — disse ele na entrevista. — O monitoramento da qualidade da água na rede de abastecimento de água foi intensificado para evitar um surto.

O Ministério, porém, tentou abafar os temores de um surto de cólera, alegando que não havia casos ou suspeitas até quarta-feira. Amostras de fontes ambientais afetadas pela inundação e de pacientes com sinais de infecção intestinal aguda foram estudadas e consideradas negativas, disse o órgão em um comunicado.

Tanto nas áreas ocupadas pela Rússia quanto nas áreas mantidas pela Ucrânia afetadas pelo rompimento da barragem, o combate a qualquer surto pode ser um desafio. Oleksandr Prokudin, líder da administração regional em Kherson, disse neste sábado que, apesar de uma queda nos níveis de água, dezenas de áreas residenciais continuavam debaixo d'água.

Em uma mensagem de vídeo, Prokudin afirmou que a empresa de água local está monitorando a qualidade da água diariamente para garantir que ela permaneça segura para uso, e que dois poderosos sistemas de tratamento chegariam neste sábado. Esforços semelhantes acontecem na região de Mykolaiv, informaram as autoridades locais por telefone.

Milhares de pessoas tiveram que ser evacuadas por causa das enchentes. Oleksandr Khorunzhyy, porta-voz do Serviço de Emergência do Estado, disse em uma reunião na tarde de sexta-feira que as operações de resgate e recuperação ainda estão em andamento.

Mesmo em áreas que escaparam do efeito das enchentes, o potencial de doenças permanece. No porto de Odesa, no Mar Negro, lixo, minas, plásticos, galhos e animais mortos têm aparecido ao longo do famoso litoral da cidade após o desastre da barragem.

O Conselho Municipal de Odesa proibiu os moradores de nadar na região, afirmando em um comunicado que foram encontrados nas águas locais patógenos perigosos que representam "uma ameaça real à vida e à saúde da população".

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