Liberação dos corpos das vítimas de acidente aéreo na Coreia do Sul pode levar até 10 dias
Legistas revelaram que apenas cinco corpos estão 'aptos' para os procedimentos fúnebres; identidades de 164 das 179 vítimas foram confirmadas
Autoridades da Coreia do Sul afirmaram que a liberação dos corpos das 179 vítimas do acidente com um avião da companhia Jeju Air, no domingo, pode levar até 10 dias por causa da dificuldade do processo de identificação e por causa do estado dos restos mortais — apenas cinco corpos estariam aptos para liberação imediata.
Em entrevista coletiva, Na Won-oh, chefe do departamento de investigação da polícia de Jeonnam, que está a cargo do inquérito criminal, cerca de 600 partes de corpos das vítimas do desastre foram recuperadas, que estão sendo identificadas através de impressões digitais e análise do DNA.
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— Há muitos corpos com braços e pernas quebrados — afirmou Na Won-oh. — Podemos identificar os corpos, mas não podemos liberá-los ainda.
Segundo representantes dos parentes das vítimas, citados pela agência Yonhap, as autoridades prometeram iniciar a liberação de 90 corpos nesta terça-feira, mas a lista com os nomes dos passageiros que poderão ser enterrados ainda não foi divulgada. Na entrevista, Na Won-oh reconheceu que alguns restos mortais podem ser entregues às famílias apenas na quarta-feira da semana que vem.
— A família se reveza para entrar no hangar e verificar o corpo por cerca de 5 minutos. Acho que não reconheço minha filha, mas minha esposa disse que o colar que sobrou era da minha filha — disse à Yonhap o pai de uma das vítimas, que não quis se identificar.
Críticas
Os parentes ainda reclamam que os corpos estão armazenados de maneira incorreta, e que os freezers prometidos pelas autoridades ainda não foram instalados. Segundo um representante do governo, os equipamentos já estão no aeroporto de Muan, mas problemas técnicos impediram que fossem ligados.
— Solicitamos um veículo frigorífico para armazenar os corpos desde ontem (domingo) e nos prometeram que o trabalho poderia ser concluído esta tarde. No entanto, quando verificamos o local, nem um único corpo foi colocado no veículo — afirmou um representante das famílias, citado pela Yonhap.
—Os funcionários do governo apenas dizem coisas boas para apaziguar as famílias enlutadas, mas não cumprem as suas promessas. As vítimas devem ser tratadas com a máxima dignidade, mas a realidade atual é que estão esparramadas no chão do hangar.
Até a manhã de segunda-feira, 164 das 179 vítimas foram identificadas.
— A dignidade das vítimas está sendo seriamente danificada — disse um representante dos parentes, Park Han-shin, cujo irmão Hyung-gon foi morto no desastre, citado pelo New York Times. — Estou criticando fortemente as autoridades.
Acidente
O voo 2216 da Jeju Air deixou a capital da Tailândia, Bangcoc, no domingo com 181 pessoas a bordo, 175 passageiros e seis tripulantes, em direção a Muan, no sul da Coreia do Sul. Pouco antes do pouso, a aeronave, um Boeing 737-800 com 15 anos de uso, recebeu um alerta para o risco de choque com pássaros, e emitiu um alerta de socorro um minuto depois.
O piloto, que tinha 6.800 horas de voo, arremeteu na primeira tentativa de pouso, e na segunda tentativa a aeronave chegou a tocar a pista, mas sem o trem de pouso acionado, e colidiu contra uma barreira de concreto. Apenas dois tripulantes que estavam na cauda foram resgatados com vida.
O desastre foi o maior em termos de vidas perdidas na história da aviação sul-coreana, e o incidente mais mortal desde o naufrágio do MW Sewol, em 2014, quando 304 pessoas morreram. Entre os passageiros, quase todos — 173 — eram sul-coreanos, e dois eram tailandeses.
— É insuportável para ele. Esta era sua filha mais nova — afirmou à BBC Pornphichaya Chalermsin, prima de uma das vítimas tailandesas, se referindo ao tio, que segundo ela tem problemas cardíacos.
Em Gwangju, cidade que também é servida pelo aeroporto de Muan, foi montado um memorial na Praça da Democracia 18 de Maio, e um grupo de estudantes do Ensino Médio prestou uma homenagem a uma colega de classe que estava no voo da Jeju Air.
— Devíamos tirar fotos de formatura juntos, mas agora é uma promessa que não podemos cumprir — disse uma das jovens à Yonhap.
Cerca de 700 pessoas já passaram pelo local.
— Perdi um aluno educado e gentil da minha cidade natal em um acidente. As crianças ainda são pequenas, estão na primeira série do ensino fundamental e estão sendo pisadas — disse ao jornal Hankyoreh um morador de Gwangju que acendeu um incenso no memorial.
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Ao mesmo tempo em que tentam liberar os corpos para as famílias, as autoridades sul-coreanas querem descobrir o que provocou a falha catastrófica que levou ao desastre do fim de semana. Um primeiro foco de investigações é a condição de voo do Boeing 737-800: de acordo com a Yonhap, a aeronave realizou 13 voos nas 48 horas que antecederam o acidente, com passagens por aeroportos na Coreia do Sul, Malásia, Tailândia, Japão e Taiwan.
— Dados comprovam que a Jeju Air tem uma taxa de utilização de aeronaves maior do que outras [empresas] — afirmou, em entrevista coletiva, Joo Jong-wan, representante do Ministério de Terras, Infraestrutura e Transportes, afirmando que a empresa passará por uma inspeção “detalhada”.
Joo Jong-wan ainda anunciou que os 101 aviões do mesmo modelo da aeronave que caiu em Muan que operam na Coreia do Sul já começaram a ser avaliados de maneira minuciosa. Além da Jeju Air, as empresas T’way Air, Jin Air, Eastar Jet, Air Incheon e Korean Air voam com o Boeing 737-800.
De acordo com investigações preliminares, houve falhas técnicas no trem de pouso e em um dos motores, mas ainda não está claro o que as provocou.
Imagens feitas da aeronave sugerem que ela se chocou com algo, supostamente pássaros, antes da queda, e as autoridades já analisam o conteúdo das caixas-pretas em busca de mais elementos para o inquérito.
Nesta segunda-feira, um outro avião da Jeju Air precisou retornar ao aeroporto Gimpo, em Seul, por causa de uma suposta falha no trem de pouso.