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ÁFRICA

Líbia pede sacos para corpos para evitar doenças e ONU diz que algumas mortes poderiam ser evitadas

Números oficiais passam imagem confusa da tragédia, enquanto apelos pela responsabilização de autoridades pela destruição das represas aumenta

Tempestade na Líbia deixa mais de 2 mil mortosTempestade na Líbia deixa mais de 2 mil mortos - Foto: AFP

A procura por desaparecidos na Líbia, atingida por devastadoras enchentes no começo da semana, continua nesta quinta-feira (14), em meio aos apelos pelo envio de mais ajuda internacional e de investigações sobre o desastre. Equipes de resgate na cidade de Derna, a mais atingidas pela inundação, pediram por mais sacos para transportar cadáveres, que continuam a surgir em grandes quantidades, aumentando o receio de que alguma doença seja espalhada aos sobreviventes.

"Precisamos de equipes especializadas na recuperação de corpos. Temo que a cidade seja infectada por uma epidemia devido ao grande número de corpos sob os escombros e na água" disse o prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, citado pelo jornal britânico The Guardian.

Os números oficiais ainda passam uma imagem confusa da real dimensão da tragédia líbia. O Ministério do Interior informou, na noite de quarta-feira, que cerca de 2.700 mortes foram documentadas e 2.500 pessoas são dadas como desaparecidas. Contudo, as autoridades anteriormente haviam falado em 5 mil mortos e mais de 10 mil desaparecidos. Em Derna, al-Ghaithi disse à televisão Al Arabiya que o número de mortos poderia chegar a 20 mil, com base no número de distritos destruídos.

O rompimento de duas represas no rio Wadi Derna, provocadas por chuvas torrenciais trazidas pela tempestade Daniel, devastaram o país, levando bairros inteiros. Testemunhas comparam os estragos ao de um tsunami, enquanto os corpos de pessoas que foram levados pela correnteza começam a ser devolvidos pelo mar.

Embora especialistas apontem que a soma do fenômeno climático extremo, da infraestrutura castigada em um país assolado por conflitos internos e pobreza tenham amplificado a tragédia, a ONU afirmou que milhares de vítimas das inundações devastadoras no leste da Líbia “poderiam ter sido evitadas” se os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergências tivessem funcionado adequadamente.

"Os alertas poderiam ter sido emitidos e as forças de gestão de emergências poderiam ter realizado a evacuação da população, e poderíamos ter evitado a maioria das vítimas" disse Petteri Taalas, chefe da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM), nesta quinta-feira.

A declaração do representante da OMM coincide com o aumento dos apelos por responsabilizações pela tragédia. Um alto funcionário líbio pediu que uma investigação sobre o colapso das barragens fosse aberta pela Procuradoria.

"Pedimos ao procurador-geral que abrisse uma investigação abrangente sobre os acontecimentos do desastre" disse Mohamed al-Menfi, chefe do Conselho Presidencial da Líbia, em uma publicação nas redes sociais na quarta-feira. — [Serão responsabilizados] Todos os que cometeram erros ou negligenciaram a abstenção ou a tomada de medidas que resultaram no rompimento das barragens na cidade de Derna.

O apelo à responsabilização por parte do conselho de al-Menfi, baseado no oeste da Líbia, ocorreu quando o Exército Nacional Líbio, a principal autoridade no leste do país dividido, incluindo Derna, fechou as entradas da cidade e permitiu apenas equipas de resgate e comboios de ajuda. No dia anterior, o Exército instou os residentes sobreviventes a deixarem a cidade.

A ajuda internacional se intensificou nesta quinta, com aviões militares e navios de países do Oriente Médio e da Europa seguindo em direção ao norte da África. No entanto, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), os desafios enfrentados pelos trabalhadores humanitários são imensos.

“As estradas estão bloqueadas, destruídas e inundadas, dificultando o acesso à ajuda humanitária”, disse a OIM em comunicado.

A ONU prometeu US$ 10 milhões (R$ 49 milhões) em apoio aos sobreviventes na Líbia, incluindo pelo menos 30 mil pessoas que, segundo ela, ficaram desabrigadas em Derna.

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