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BELARUS

Líder antiditadura da Belarus é condenada a 11 anos de prisão

Mais de 500 casos de tortura foram notificados no país

Maria Kalesnikava, uma das principais opositoras da ditadura da BelarusMaria Kalesnikava, uma das principais opositoras da ditadura da Belarus - Foto: Ramil NASIBULIN / BELTA / AFP

A música Maria Kalesnikava, uma das principais opositoras da ditadura da Belarus, foi condenada nesta segunda (6) a 11 anos de cadeia. Kalesnikava, 39, fez parte do trio de mulheres que liderou uma frente contra o ditador Aleksandr Lukachenko na eleição presidencial de 2020.

No mesmo julgamento, feito a portas fechadas, o advogado Maksim Znak, 40, foi condenado a 10 anos em prisão de segurança máxima. Ambos integravam a liderança do comitê de transição, criado logo no ano passado para tentar negociar com a ditadura a realização de novas eleições justas e livres.
Os dois podem recorrer da sentença.

Kalesnikava estava presa desde 8 de setembro do ano passado, quando escapou pela janela de um carro e rasgou seu passaporte para evitar uma expulsão forçada da Belarus. No dia anterior, ela havia sido sequestrada quando caminhava em Minsk e interrogada por agentes da KGB, polícia secreta belarussa.
Znak foi detido no dia 9 de setembro. Os dois integram a lista de 659 presos políticos contabilizados nesta segunda pela organização de direitos humanos Viazna.


Eles foram condenados por "conspiração com o objetivo de tomar ou reter o poder do Estado de forma inconstitucional", "incentivar publicamente a tomada do poder do Estado, ou mudança forçada da ordem constitucional" e "criar ou liderar organização extremista".

De acordo com a acusação, que havia pedido 12 anos de cadeia para os dois, eles tentaram uma "mudança ilegal de poder", ao promover protestos de massa "como uma ferramenta para atingir objetivos e criar clima de protesto entre os participantes".

"Repetidamente, diretamente e de forma velada, eles pediram o reconhecimento das eleições como inválidas e do chefe de Estado como em exercício ilegítimo", afirmou a Promotoria em um comunicado.

As manifestações na Belarus começaram de forma espontânea na noite da eleição presidencial, em 9 de agosto, quando a comissão eleitoral divulgou que Lukachenko havia sido reeleito para um sexto mandato, com 80% dos votos.

A ditadura afirmava que a principal candidata independente, Svetlana Tikhanovskaia -que formava um trio com Kalesnikava e Veronika Tsipkalo- , obtivera pouco mais de 10% dos votos, o que foi visto como fraude pelos manifestantes.

O protesto foi duramente reprimido pela polícia, detonando novas manifestações, que duraram diversas semanas. Desde então, a ditadura deteve dezenas de milhares de pessoas por participar de eventos ilegais -atos só podem ser realizados com permissão do regime – mais de 500 casos de tortura foram documentados por entidades nacionais e internacionais.

Em entrevista à emissora independente russa Dozhd antes do julgamento, Kalesnikava chamou de "absurda" a acusação contra ela e Znak: "É uma prova da ilegalidade do Estado policial".

Segundo a defesa de Kalesnikava e Znak, durante o julgamento eles mantiveram sua posição de que as eleições foram fraudadas e negaram conspiração para derrubar a ditadura de forma ilegal. Kalesnikava cantou durante várias das sessões, de acordo com seus defensores -entre as músicas estavam canções dos Beatles, de Ella Fitzgerald e a "ária de Lensky", da ópera "Ievgueni Oniéguin", do russo Tchaikovski.
Um vídeo publicado em rede social mostra a música sorrindo e dançado durante o julgamento. O objetivo dos ativistas, de acordo com a defesa, era manter o ânimo dos opositores da ditadura.

Kalesnikava foi no ano passado a chefe de comunicação da campanha eleitoral do mais popular rival de Lukachenko, Viktor Babariko, 57, também condenado pela ditadura a 14 anos de prisão.

Quando foi detido pela ditadura, em junho do ano passado, Babariko já havia assegurado 435 mil assinaturas em apoio a sua candidatura a presidente, mais que o quádruplo do necessário.

O patamar jamais havia sido alcançado por um opositor desde que Lukachenko assumiu o poder, em 1994, na primeira eleição –e a única livre– pós-URSS.

Mesmo depois de preso, o ex-candidato manteve sua popularidade -pesquisas independentes são quase impossíveis na Belarus, mas um levantamento online feito em janeiro pela ONG Chatham House o colocou na liderança do apoio popular, com 28,8% das citações.

No ano passado, Babariko e Kalesnikava anunciaram a formação de um novo partido, o Vmeste (juntos, em russo). A previsão era inscrever formalmente a legenda em maio deste ano, mas a repressão política crescente por parte da ditadura frustrou os planos.

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