Guerra

Líder do Hamas envia carta para chefe do Hezbollah de esconderijo após quase um ano de silêncio

Arquiteto do ataque de 7 de outubro, Yahya Sinwar assumiu o posto após o assassinato da liderança política do grupo, Ismail Haniyeh, em um ataque israelense no Irã, em julho

Líder militar do Hamas desde 2017, Yahya Sinwar é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro a Israel Líder militar do Hamas desde 2017, Yahya Sinwar é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro a Israel  - Foto: Mohammed Abed/AFP

O líder do Hamas, Yahya Sinwar, que assumiu como número 1 após o assassinato no Irã do então chefe político do grupo terrorista, Ismail Haniyeh, em julho, escreveu uma rara carta do seu esconderijo direcionada ao chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah.

No texto, Sinwar reafirma o seu compromisso de lutar contra Israel e apoiar as organizações militares financiadas por Teerã no Oriente Médio, cuja aliança ficou conhecida como Eixo de Resistência.

Arquiteto do ataque de 7 de outubro, Sinwar afirmou a Nasrallah que o Hamas está comprometido com o caminho de resistência tomado por seu antecessor — embora Haniyeh, que vivia no Catar, fosse considerado mais moderado do que o atual líder, que antes ficava à frente apenas da ala militar do grupo.

Ele reafirmou atuar em prol da “unidade da Ummah (nação islâmica), no coração da qual está o Eixo de Resistência, em face do projeto sionista”.

A carta, compartilhada pelo canal Telegram do Hezbollah, foi escrita para mostrar gratidão pela luta contínua do Hezbollah contra Israel na fronteira norte do país com o Líbano, que começou apenas um dia depois que do ataque terrorista do Hamas ao sul do território israelense que deu início à guerra. Mais de 1.200 israelenses morreram naquele dia, e outras mais de 200 foram sequestradas, com cerca de 90 ainda sob custódia em Gaza. A reação israelense, por outro lado, já matou 41 mil pessoas no enclave palestino, a maioria delas mulheres e menores de idade, segundo estimativas da ONU.

Na carta, Sinwar prometeu a Nasrallah que vai continuar defendendo locais sagrados para o Islã, em especial a mesquita al-Aqsa, em Jerusalém, considerado o terceiro local mais importante para a religião, atrás apenas da Meca e Medina.

O líder do Hamas prometeu lutar “até a expulsão e erradicação da ocupação de nossa terra e o estabelecimento de nosso Estado independente com total soberania e sua capital, Jerusalém”.

Sobre o ataque de 7 de outubro, Sinwar classificou o episódio na carta como “uma das batalhas mais honrosas da história do nosso povo palestino”.

Um dos homens mais procurados por Israel, Sinwar não é visto desde a guerra. Em agosto, o serviço de inteligência israelense, Shin Bet, revelou que ele vive escondido em túneis subterrâneos em Gaza, mudando de esconderijo a cada 36 horas para evitar se capturado.

Durante a troca, ele costuma se disfarçar usando trajes femininos, informou o Shin Bet.

Até esta semana, ele também não se manifestava publicamente a quase um ano. A quebra do silêncio aconteceu na terça-feira, quando parabenizou o presidente argelino Abdelmadjid Tebboune por sua vitória nas eleições em uma postagem no canal Telegram do Hamas.

No dia seguinte, seu gabinete disse que ele escreveu cartas agradecendo àqueles que ofereceram condolências pela morte de Haniyeh, até a divulgação nesta sexta-feira da carta para Nasrallah.

— Ele está tentando dizer que estou aqui, estou vivo, estou no comando. Estou constantemente atualizado e ciente de tudo o que acontece fora de Gaza — disse Muhammad Shehada, escritor e analista de Gaza, à CNN americana. — Ele quer mostrar que é capaz de operar em várias frentes, a frente doméstica, o campo de batalha em Gaza, e a frente diplomática, as mediações.

Segundo o analista, o público-alvo das cartas é principalmente Israel, como uma forma de demonstração de força apesar dos amplos esforços para capturá-lo.

Além disso, Shehada afirmou à rede americana que as cartas também seriam um recado para o próprio Hamas, sobretudo aos “céticos de dentro do movimento ou até mesmo mediadores como o Catar, os EUA e o Egito, que duvidam que ele possa ser capaz de cumprir seu papel de liderança a partir dos túneis em Gaza”.

Com a morte de Haniyeh, que atuava como negociador do grupo nos encontros diplomáticos no Catar ou no Egito, a perspectiva por um cessar-fogo é vista como ainda mais remota.

Em mais de uma ocasião, a delegação palestina abandonou as conversações e culpou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de buscar a escalada do conflito para uma guerra regional.

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