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CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO

Líder do Hamas viaja ao Egito para negociar novo cessar-fogo em Gaza

Após mais de dois meses de guerra e diante da pressão internacional, as duas partes parecem dispostas a estabelecer uma segunda trégua

Líder do Hamas, Ismail HaniyaLíder do Hamas, Ismail Haniya - Foto: Said Khatib/AFP

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, chegou nesta quarta-feira (20) ao Egito para negociações sobre um cessar-fogo em Gaza, depois que Israel anunciou que estaria disposto a aceitar uma nova pausa em troca da libertação de reféns.

Após mais de dois meses de guerra e diante da pressão internacional, as duas partes parecem dispostas a estabelecer uma segunda trégua. A primeira, que durou uma semana, resultou na libertação de 105 reféns sequestrados pelo Hamas e de 240 palestinos detidos em prisões israelenses.

Ismail Haniyeh, que vive no Catar, desembarcou no Egito, segundo o movimento islamista palestino, que governa a Faixa de Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

À frente de uma delegação de "alto nível", Haniyeh deve se reunir com o diretor do serviço de Inteligência egípcio, Abbas Kamel, e as discussões se concentrarão em "interromper a agressão e a guerra, preparar um acordo sobre a libertação de prisioneiros (palestinos) e acabar com o cerco imposto à Faixa de Gaza", afirmou na terça-feira uma fonte do Hamas à AFP.

No encontro, serão abordadas "várias propostas, incluindo a de uma trégua de uma semana em troca da libertação pelo Hamas de 40 prisioneiros israelenses", afirmou outra fonte do grupo islamista, em referência aos reféns mantidos em Gaza.

Um dirigente do Hamas afirmou, contudo, que "um cessar-fogo total e a retirada do Exército de ocupação israelense de Gaza são condições necessárias para qualquer troca" entre reféns israelenses e prisioneiros palestinos.

Segundo uma fonte da Jihad Islâmica, um movimento palestino aliado do Hamas, o líder da organização, Ziad al Nakhala, também viajará ao Cairo na próxima semana.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, declarou na terça-feira que o país está "preparado para outra pausa humanitária e uma ajuda humanitária adicional para facilitar a libertação de reféns".

Já o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, descartou qualquer possibilidade de cessar-fogo sem primeiro ter conseguido "a eliminação" do Hamas.

"Continuaremos a guerra até o fim. Ela continuará até a eliminação do Hamas, até a vitória. Aqueles que acham que vamos parar vivem desconectados da realidade", disse Netanyahu em um vídeo divulgado por seu gabinete, após as exigências do Hamas de um cessar-fogo para permitir a libertação de reféns.

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, que está no poder em Gaza desde 2007, depois que o movimento palestino atacou o país em 7 de outubro, uma ofensiva que matou quase 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nos dados oficiais mais recentes divulgados pelas autoridades israelenses.

Quase 250 pessoas foram tomadas como reféns no ataque, e 129 delas continuam em Gaza, segundo o governo de Israel.

No território palestino, 19.667 pessoas, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, morreram nos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Negociações nos bastidores 
Segundo o portal americano de notícias Axios, o diretor do serviço de Inteligência israelense Mossad, David Barnea, reuniu-se na Europa com o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, e com o diretor da CIA, Bill Burns, para discutir um possível acordo de libertação de reféns.

Uma fonte próxima a essas negociações disse à AFP que "as conversas continuam", depois de "uma reunião construtiva no início dessa semana em Varsóvia".

"O objetivo é chegar a um acordo sobre a libertação dos reféns (...) em troca de uma trégua e de uma eventual libertação de (prisioneiros) palestinos", acrescentou.

As negociações também prosseguirão nesta quarta-feira na ONU. Desde segunda-feira, o Conselho de Segurança não consegue votar uma resolução para acelerar o envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.

A votação foi adiada duas vezes, e os membros do Conselho buscam a fórmula adequada para evitar o veto dos Estados Unidos, principal aliado de Israel.

Crise humanitária 
Enquanto as negociações continuam, Israel mantém a ofensiva contra Gaza.

Fontes do Hamas afirmaram pela manhã que pelo menos 11 pessoas morreram em bombardeios noturnos em Rafah, Khan Yunis (sul), Deir el Balah (centro) e no norte da cidade de Gaza.

Horas depois, o Ministério da Saúde de Gaza, dirigido pelo Hamas, denunciou que pelo menos 12 pessoas morreram em Rafah.

"Acordamos com uma explosão enorme", afirmou Samar Abu Luli, que mora no acampamento de refugiados de Shabura, em Rafah, à AFPTV. "Conseguimos escapar por um milagre [...] Mas para onde devemos ir? Não há nenhum lugar, nenhuma escola, nenhuma mesquita, clínica, ou hospital. Tudo foi destruído".

O Exército de Israel, que perdeu 134 soldados desde o final de outubro, disse que, desde terça-feira, bombardeou 300 alvos e que efetuou uma operação em um centro de controle e comando do Hamas em Khan Yunis, no sul do território palestino.

Sob cerco total de Israel desde 9 de outubro, o território palestino enfrenta uma profunda crise humanitária: a maioria dos hospitais está fora de serviço, e 85% de sua população, ou seja, 1,9 milhão de pessoas, fugiu da destruição no norte do enclave para buscar refúgio no sul.

Um relatório do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU publicado nesta quarta-feira destaca que metade da população sofre de fome extrema, ou grave.

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