Logo Folha de Pernambuco

Imunização

Líder na vacinação, Dinamarca se prepara para decuplicar ritmo

País já aplicou mais de 93% das doses recebidas

Dinamarca agora se prepara para aplicar 10 mil injeções diáriasDinamarca agora se prepara para aplicar 10 mil injeções diárias - Foto: AFP

A última sexta-feira (26) foi um dia de estresse na Dinamarca, mas por um bom motivo. País que mais doses de vacina aplicou por 100 habitantes - entre os principais da União Europeia - e que melhor usou as doses que recebeu (mais de 93% das 638.240), ela agora se prepara para decuplicar o ritmo: de 10 mil injeções diárias, passará a 100 mil.

Na sexta, o estresse fez parte de um ensaio controlado, no qual as aplicações, de um dia para o outro, deram um salto de 10 mil para 35 mil. A ideia era verificar gargalos de estrutura, equipamento e fluxo, para que a escalada definitiva funcione sem sobressaltos.

Esse preparo com antecedência é um dos fatores que explicam a liderança dinamarquesa até agora, diz o especialista em saúde pública Jens Lundgren, professor da Universidade de Copenhague.

Meses antes de as vacinas começarem a chegar (no final de dezembro), equipes de diferentes áreas da esferas federal, regionais e municipais montaram juntas um plano de imunização.

Mapeou-se quem receberia primeiro as vacinas, quantas doses seriam necessárias em cada cidade e quais os caminhos mais curtos para fazer chegar as ampolas até os locais de vacinação.

O detalhamento era especialmente importante porque o primeiro imunizante a chegar era o da Pfizer, de manejo mais difícil: precisa ser mantido e transportado a menos 70 graus Celsius, e dura poucas horas depois de manipulado.

Para evitar perdas, cada uma das cinco regiões dinamarquesas levantou hospitais com ultracongeladores e traçou as rotas das vacinas dali até os postos de vacinação, nas quantidades exatas previstas.

Estabelecer esses volumes e prazos não era trivial com três produtos diferentes em uso, cada qual com intervalos diferentes entre a primeira e a segunda dose. Nesse passo, fez diferença outra ferramenta dinamarquesa: um registro centralizado pelo qual o governo sabe quantas pessoas de cada idade moram em cada local e um controle digital de imunização em operação desde 2013, diz a diretora-geral do departamentos de dados da Autoridade de Saúde da Dinamarca, Lisbeth Nielsen.

O sistema permite entrar em contato direto com cada habitante - por SMS ou e-mail, por exemplo -, informando quando e onde será a vacinação e informando o link para o agendamento. No começo, porém, houve uma dificuldade: um dos grupos mais prioritários -o dos idosos acima de 80 anos- tinha menos facilidade com os meios eletrônicos.

Foi preciso adaptar o esquema para enviar também cartas e oferecer um serviço de agendamento por telefone, o que atrasou um pouco o processo, diz Lundgren, também conselheiro do governo para o combate à Covid-19. Nos cerca de 1.000 asilos do país, um dos focos prioritários, a imunização foi combinada diretamente com os diretores.

Imprescindível para lidar com as vacinas mais perecíveis, como as da Pfizer e da Moderna, o agendamento e o controle detalhado da logística são importantes não apenas para a eficiência do processo, diz a diretora do departamento de dados: "Numa pandemia, você não quer dezenas de pessoa se aglomerando em filas".

Os números mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a meta de evitar desperdício foi até superada. Em 2 das 5 regiões -Nordjylland e Sjaelland- mais de 100% das doses recebidas foram aplicadas (isso é possível com agulhas específicas que conseguem tirar seis doses em vez de cinco dos frascos de imunizante).

Lundgren e Lisbeth afirmam que o "modelo dinamarquês" será ainda mais relevante nos próximos meses, não só porque o número de vacinas por dia vai escalar rapidamente, mas porque imunizantes de outros fabricantes -com prazos e necessidades diferentes- começarão a chegar.

Além disso, diz o especialista em Saúde Pública, devem ser necessárias novas rodadas de imunização no final deste ano, seja por causa de variantes, seja porque não se sabe ainda por quanto tempo dura a proteção da vacina.

Para dar o salto definitivo, falta garantir um fornecimento robusto de vacinas. Como todos os países da União Europeia, a Dinamarca também recebeu menos doses que as previstas, o que causou um dos principais problemas até agora, segundo Lisbeth: "Receber o convite para agendar a vacinação cria uma enorme expectativa, e é preciso estar preparado para atendê-la".

Também serão necessários alguns ajustes técnicos, mostrou o teste de sexta-feira: nas primeiras horas, uma queda no sistema provocou filas nos postos. "Quando o processo é todo digitalizado, é preciso garantir que ele seja fácil de usar e confiável", diz Lisbeth.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter