Líder pró-Rússia lidera pesquisas e pode se tornar premier na Eslováquia, que faz parte da Otan
Presidente da Eslováquia condena discurso de 'ódio' na campanha eleitoral, marcada por fake news
A Eslováquia elege, no sábado,seu quinto primeiro-ministro em apenas quatro anos e, o partido da oposição, liderado pelo simpatizante do Kremlin, Robert Fico, aparece à frente nas pesquisas — o que vem sendo observado com alarme no Ocidente. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o país tem sido um dos aliados mais firmes de Kiev. Os dois partilham uma fronteira, e a Eslováquia foi o primeiro país a enviar defesas aéreas para a Ucrânia, além de acolher dezenas de milhares de refugiados.
Caso seja eleito, Fico, que já foi primeiro-ministro três vezes, promete acabar "imediatamente" com a ajuda militar à Ucrânia. O candidato, que é contra a candidatura de Kiev à Otan, também já denunciou as sanções impostas pela União Europeia (UE) a Moscou pela invasão. Seu principal rival é o partido liberal Eslováquia Progressista, do vice-presidente do Parlamento Europeu, Michal Simecka.
Leia também
• Inflação da Alemanha atinge menor nível desde início da guerra na Ucrânia
• Rússia aumenta gastos militares para enfrentar "guerra híbrida" na Ucrânia
• Maior jogador da história da Ucrânia, Shevchenko é nomeado conselheiro de Zelensky
Nesta quinta, a presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, condenou a "raiva" e o "ódio" na campanha eleitoral. Para Caputova, "o fator medo pode influenciar" a votação de sábado.
— Alguns acham que a paz pode ser alcançada se pararmos todos os tipos de ajuda à Ucrânia, e nesse ponto não concordo — acrescentou a ex-advogada de 50 anos, cujo mandato presidencial de cinco anos termina em 2024.
Assim como muitos simpatizantes da Rússia, Fico justifica seu apoio a Moscou como uma iniciativa de “paz”.
— Ele e os seus aliados argumentam que não deveríamos enviar armas para a Ucrânia porque isso faria com que a guerra continuasse por mais tempo — afirmou à CNN Grigorij Meseznikov, analista político e presidente do Instituto de Assuntos Públicos, um think tank eslovaco.
A campanha também foi caracterizada, segundo analistas, por uma onda de desinformação através das redes sociais. Nos últimos anos, as lutas internas entre governos e vários escândalos de corrupção de grande repercussão enfraqueceram a confiança das pessoas nas instituições públicas e criaram um terreno fértil para campanhas de propaganda e desinformação.
— As redes sociais são um fenômeno novo que ameaça a democracia, de certa forma, e não apenas na Europa Central. E estamos deixando a questão da sua regulação democrática de lado — afirmou a presidente. — A democracia pode definhar devido à ingenuidade dos democratas.
De acordo com uma pesquisa realizada pela GlobSec, think tank de segurança com sede em Bratislava, apenas 40% dos eslovacos acreditavam que a Rússia é responsável pela guerra na Ucrânia, a proporção mais baixa entre os oito estados da região. Na vizinha República Checa, que formava um país com a Eslováquia, por exemplo, 71% das pessoas culpam Putin pela guerra.
Crise interna
O vencedor das eleições legislativas deste sábado substituirá o gabinete interino instalado no ano passado, após a queda de uma coligação de quatro partidos de centro-direita. Caputova diz compreender que os eleitores estejam insatisfeitos depois de terem vivido três governos diferentes em três anos.
— Consigo compreender que muitos estejam frustrados e preocupados. Alguns optarão por uma solução radical, rápida, populista e até extremista. Outros, no entanto, preferirão uma mudança construtiva, decente, conciliatória e orientada ao Ocidente.
Fico foi primeiro-ministro da Eslováquia durante mais de uma década, primeiro entre 2006 e 2010 e depois novamente de 2012 a 2018. Mas foi forçado a renunciar em março daquele ano, após semanas de protestos em massa contra o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak e de sua noiva, Martina Kušnírová. Kuciak denunciava a corrupção na elite política do país, incluindo pessoas diretamente ligadas a Fico e ao seu partido, o SMER.
O caos dos últimos anos, no entanto, deu a Fico uma nova chance.
— Um ano depois das últimas eleições, parecia quase que o partido iria desaparecer completamente. Mas (Fico) conseguiu reabilitar-se e é agora o favorito — disse Meseznikov à CNN. — O SMER ainda tem um forte apoio entre os seus principais eleitores, um apoio que está emocionalmente ligado a Fico, mas que também foi ajudado pelos muitos conflitos dentro do governo e por alguns fatores externos, incluindo a Covid-19, a alta inflação, a crise energética e a guerra na Ucrânia.