Líder supremo do Irã considera 'imprudentes' as ameaças de ações militares dos EUA
Aiatolá Ali Khamenei comentou sobre carta enviada pelo presidente americano a autoridades em Teerã, pressionando por uma negociação sobre limitações ao desenvolvimento nuclear do país
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta quarta-feira que a nação persa não está em busca de desenvolver armas atômicas e considerou "imprudentes" ameaças feitas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em uma carta enviada ao governo iraniano, ameaçando usar meios militares para conter o programa nuclear do país, caso as autoridades de Teerã se recusassem a sentar e negociar com representantes de Washington.
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— Se quiséssemos fazer armas nucleares, os EUA não poderiam nos impedir. O fato de não termos armas nucleares e não estarmos buscando armas nucleares é porque nós mesmos não as queremos — disse Khamenei em uma reunião com estudantes.
— Os EUA estão ameaçando [usar] o militarismo. Na minha opinião, essa ameaça é imprudente.
O comentário do aiatolá veio a público pouco após o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, confirmar à imprensa iraniana ter recebido uma carta assinada por Trump — à qual o presidente americano já havia feito menção na semana passada — por meio de diplomatas dos Emirados Árabes Unidos.
Em um vídeo divulgado pela Fox Business na última sexta-feira, Trump disse ter alertado Teerã por escrito de que esperava "uma negociação" sobre o programa nuclear iraniano, sugerindo que uma resposta militar era uma possibilidade para Washington.
— Se tivermos que fazer pela força militar será algo terrível para eles. Não se pode permitir que eles tenham uma arma nuclear — disse Trump à emissora americana.
Durante a primeira passagem do republicano pela Casa Branca, os EUA se retiraram do acordo nuclear que o Irã havia firmado com o governo de Barack Obama, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), assinado em 2015, que impunha restrições ao programa nuclear iraniano em troca de alívio a sanções financeiras.
Trump afirmou (e continua a defender) que a saída do acordo foi uma grande vitória para o Ocidente, mas a maioria dos analistas externos diz que a medida foi negativa, com Teerã ampliando a produção e afastando o programa das fiscalizações internacionais.
No mês passado, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, disse que o país estava enriquecendo urânio a 60%, de modo que "quase atinge o grau de armamento", e que mesmo um retorno aos termos de 2015 já não é útil.
Em meio ao arroubo de Trump, a China anunciou que receberá representantes da Rússia e do Irã na sexta-feira para negociações trilaterais sobre o programa nuclear de Teerã.
— Os três lados trocarão opiniões sobre a questão nuclear iraniana e outras questões de interesse mútuo — disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quarta-feira.
O vice-ministro das Relações Exteriores chinês, Ma Zhaoxu, e seus homólogos da Rússia, Sergei Ryabkov, e do Irã, Kazem Gharibabadi, participarão da reunião.
O porta-voz diplomático iraniano, Esmaeil Baqaei, confirmou os planos de realizar negociações em Pequim e afirmou que a reunião se concentraria em "desenvolvimentos relacionados à questão nuclear e ao levantamento de sanções".
— Essas conversas (...) também abordarão e trocarão opiniões sobre outras questões de interesse dos três países", disse Baqaei, mencionando eventos regionais e internacionais, bem como questões relacionadas à cooperação no âmbito do Brics e da Organização de Cooperação de Xangai.