Líderes árabes se reúnem em Riade para discutir plano sobre Gaza
O objetivo do encontro é o de definir um "plano alternativo ao de Trump". O presidente estadunidense propôs o deslocamento dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza para a Jordânia e o Egito
A Arábia Saudita recebeu, nesta sexta-feira (21), uma cúpula com oito líderes árabes para elaborar um plano alternativo à ideia de Donald Trump, que propôs que os Estados Unidos assumam o controle da Faixa de Gaza e que a população local seja expulsa.
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A ideia de Trump para o futuro de Gaza gerou rejeição nos países árabes, mas não há consenso sobre quem deve governar o estreito território palestino e sobre como financiar sua reconstrução após a guerra.
Uma fonte próxima ao governo saudita disse à AFP que a reunião terminou no início da tarde e que os debates são "confidenciais", não havendo, portanto, uma declaração final.
A televisão estatal saudita divulgou imagens do príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, com os líderes de Egito, Jordânia e outros países do Conselho de Cooperação do Golfo, com exceção de Omã.
O gabinete do presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, informou que o mandatário já deixou a capital saudita após se reunir com representantes de Bahrein, Jordânia, Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
A agência oficial de notícias saudita (SPA) informou que a cúpula é "uma reunião fraternal informal" dos líderes dos seis países do Golfo, além de Egito e Jordânia.
As decisões dos participantes desta reunião estarão na pauta de outra cúpula árabe prevista para o Egito no dia 4 de março, acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos propôs, no início de fevereiro, deslocar os 2,4 milhões de habitantes de Gaza para Jordânia e Egito e transformar o pequeno território palestino, atualmente em ruínas, em um destino turístico de luxo, como "a Riviera do Oriente Médio".
A ideia gerou indignação e espanto em grande parte da comunidade internacional, mas foi celebrada por Israel.
"Virada histórica"
"Estamos diante de uma grande virada histórica no conflito árabe-israelense ou palestino-israelense [...] em que os Estados Unidos, sob a presidência de Trump, poderiam instaurar novas realidades irreversíveis no terreno", explicou o analista Andreas Krieg, do King's College de Londres.
Uma fonte próxima ao governo saudita afirmou à AFP que os líderes árabes discutirão um "plano de reconstrução alternativo ao de Trump para Gaza".
O rei Abdullah II da Jordânia disse na semana passada, durante uma visita à Casa Branca, que o Egito apresentaria um projeto em resposta à proposta de Trump.
Segundo a fonte próxima ao governo saudita, a reunião em Riade se concentra precisamente em um "plano egípcio de reconstrução" de Gaza.
O Egito não comentou oficialmente nenhum detalhe dessa proposta.
O desafio do financiamento
A Faixa de Gaza se encontra devastada por 15 meses de guerra entre Israel e o Hamas, desencadeada pelo ataque sem precedentes do movimento palestino em 7 de outubro de 2023.
A reconstrução do pequeno território palestino, controlado pelo Hamas desde 2007, é avaliada em mais de 53 bilhões de dólares (302 bilhões de reais), segundo a ONU.
Para os líderes árabes, é fundamental apresentar um plano alternativo para a reconstrução de Gaza depois que Trump apontou a magnitude da tarefa como uma justificativa para o deslocamento da população.
O Egito não delineou os detalhes de sua proposta, mas o ex-diplomata egípcio Mohammed Hegazy, membro do Conselho Egípcio de Assuntos Externos, um think tank no Cairo, destacou que o plano tem três fases e exigirá de três a cinco anos.
"Durante a primeira fase, de seis meses [...], equipamentos pesados vão remover os escombros e preparar três zonas seguras para reassentar os deslocados", explicou.
Durante este período, residências temporárias serão entregues aos habitantes.
A segunda fase exigirá "uma conferência internacional sobre a reconstrução" e a terceira buscará "relançar um processo político visando uma solução de dois Estados", acrescentou.
"O maior desafio do plano egípcio é seu financiamento", indicou um diplomata árabe à AFP, além da delicada questão da governança de Gaza após a guerra.