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Líderes indígenas exigem 'posição concreta' do governo Lula sobre demarcação de terras

As comunidades indígenas expressaram preocupação e rejeição à tese do "marco temporal", fundamental no debate sobre a demarcação das terras ancestrais

Foto de arquivo tirada em 16 de janeiro de 2020, o líder indígena Raoni Metuktire, da tribo Kayapó, posa para uma fotografia na aldeia Piaracu, perto de São José do Xingu, Mato Grosso, BrasilFoto de arquivo tirada em 16 de janeiro de 2020, o líder indígena Raoni Metuktire, da tribo Kayapó, posa para uma fotografia na aldeia Piaracu, perto de São José do Xingu, Mato Grosso, Brasil - Foto: Carl de Souza / AFP

Líderes de 54 comunidades indígenas, incluindo o cacique Raoni Metuktire, exigiram do governo Lula, em uma carta entregue nesta sexta-feira (28), "uma posição concreta" sobre a demarcação de terras, assunto sobre o qual o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá em um julgamento considerado crucial.

A carta foi entregue à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, no encerramento de um encontro de povos originários iniciado na segunda-feira e convocado por Raoni, símbolo da luta pelos direitos indígenas, na aldeia Piaraçu, território Kayapó em São José do Xingu, no Mato Grosso.

As comunidades indígenas expressaram preocupação e rejeição à tese do "marco temporal", fundamental no debate sobre a demarcação das terras ancestrais.

Essa tese reconhece apenas como terras indígenas aquelas ocupadas pelo povos originários quando a Constituição foi promulgada, em 1988.

No entanto, os indígenas argumentam que muitas comunidades não ocupavam certos territórios naquele ano porque haviam sido expulsas, especialmente durante a ditadura militar (1964-1985).

O julgamento, no qual o STF deverá validar ou rejeitar a tese do marco temporal, foi retomado e suspenso novamente em junho, com um resultado parcial de dois votos contra e um a favor.

"A aplicação do Marco Temporal teria como consequência a exclusão de milhares de indígenas de nossos territórios tradicionais, comprometendo nossa subsistência", indica a carta, que contém onze pontos.

Entre eles, os líderes indígenas pedem que o Ministério da Justiça "cumpra seu papel de demarcar as Terras Indígenas" e exigem a "desintrusão" das áreas já demarcadas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que a defesa dos direitos dos povos originários seria uma prioridade de seu governo, iniciado em janeiro.

Em abril, o petista assinou decretos que homologaram seis novos territórios para povos indígenas, os primeiros desde 2018, incluindo um vasto território na Amazônia.

A demarcação autoriza os povos originários a ocuparem suas terras ancestrais e a utilizarem de forma exclusiva seus recursos naturais, fator-chave, segundo especialistas, para a preservação.

A ação de Lula representou um avanço para os indígenas, uma vez que nenhuma nova reserva havia sido criada durante o mandato de seu antecessor, Jair Bolsonaro (2019-2022).

No entanto, o líder de esquerda também teve sua agenda ambiental limitada após derrotas no Congresso, como a que resultou no esvaziamento das atribuições do Ministério dos Povos Indígenas, que perdeu em maio a autoridade para homologar novas terras ancestrais.

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