Líderes internacionais reagem ao retorno de Trump à Casa Branca
Mensagens de felicitação sintetizam tanto o temor das ameaças feitas pelo republicano quanto a busca por manter boas relações com os EUA
Líderes de todo o mundo reagiram ao retorno de Donald Trump à Casa Branca nesta segunda-feira, em mensagens que sintetizam tanto o temor em relação às suas ameaças quanto a busca por boas relações com o inconstante presidente americano.
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Panamá
Entre os preocupados com o futuro governo Trump, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, reafirmou que o canal do país, principal hidrovia interoceânica do mundo, permaneceria sob controle panamenho.
A declaração foi uma resposta ao discurso do republicano na posse, repetindo que iria "recuperá-lo" porque estar supostamente "operando" para a China.
“O Canal é e seguirá sendo do Panamá e sua administração continuará estando sob controle panamenho, com respeito à sua neutralidade permanente", disse Mulino em uma declaração publicada nas redes sociais. "Não há presença de nenhuma nação no mundo que interfira em nossa administração", afirmou, refutando Trump: "O Canal não foi uma concessão de ninguém".
Em 1903, os EUA receberam o controle da área onde seria construído o Canal do Panamá, cujas obras foram finalizadas em 1914, com poderes de usar a força para garantir a neutralidade da passagem usada hoje por cerca de 14 mil navios anualmente.
Os panamenhos retomaram a soberania sobre o canal em 1999, em uma decisão criticada por Trump que foi parte de um acordo firmado em 1977 entre o então presidente americano, Jimmy Carter, e o ditador Omar Torrijos, que comandava o Panamá na época.
Irã
O Irã afirmou que espera que o novo governo americano adote "abordagens realistas" em relação a Teerã e mostre "respeito" pelos interesses das nações do Oriente Médio.
— Esperamos que as abordagens e políticas do governo americano sejam realistas e baseadas no respeito pelos interesses (...) das nações da região, incluindo a nação iraniana — disse o porta-voz do Ministério da Relações Exteriores, Esmaeil Baqaei, durante uma coletiva de imprensa semanal.
Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump adotou uma política de "pressão máxima" em relação ao país persa, marcada sobretudo pela saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, firmado durante o governo do democrata Barack Obama (2009-2017). O tratado garantia que Teerã limitasse seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções americanas. Desde que o magnata deixou o acordo, em 2018, o Irã impulsionou o seu estoque de urânio enriquecido a níveis além do limite estabelecido, alcançando patamares próximos ao necessário para a fabricação de uma ogiva.
Canadá
O Canadá, que vem sendo alvo de ameaças de anexação e guerra comercial por parte de Trump, buscou pôr panos quentes na relação entre os dois países com a posse do republicano.
O primeiro-ministro Justin Trudeau felicitou o magnata e disse que as nações, histórias aliadas, são "mais fortes" quando agem "juntas".
No mês passado, depois de um almoço entre os dois, Trump começou a repetir, como provocação, que seria uma boa ideia transformar o vizinho no "51° estado americano" .
— O Canadá e os Estados Unidos mantêm a parceria económica mais frutífera do mundo, e são o maior parceiro comercial um do outro — ressaltou o chefe de governo canadense, que teme que o presidente americano cumpra a ameaça de impor tarifas de 25% caso o país não aumente o controle nas fronteiras.
Otan
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar ocidental liderada pelos EUA, vai “turbinar” os gastos e a fabricação de produtos de defesa com Donald Trump de volta à Casa Branca, disse o secretário-geral da aliança, Mark Rutte, nesta segunda-feira
. Os comentários foram feitos em meio à incerteza sobre o compromisso do novo presidente americano com a organização transatlântica.
— Juntos, podemos alcançar a paz por meio da força, por meio da Otan — disse Rutte, oferecendo uma visão otimista do futuro.
Trump disse anteriormente que encorajaria a Rússia a fazer “o que bem entendesse” com qualquer país membro da Otan que não cumprisse as diretrizes de gastos e não ofereceria a esse país a proteção dos EUA, sugerindo romper com a política de defesa mútua da aliança.
Nas últimas semanas, também disse que pressionaria os membros da Otan a aumentarem os gastos com defesa para 5% do PIB.
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Rússia
Apesar da rivalidade histórica entre Rússia e EUA, o presidente russo, Vladimir Putin, acenou a Trump horas antes da sua posse.
Em um vídeo transmitido na TV do país, ele parabenizou "o presidente eleito dos Estados Unidos por sua posse" e disse que Moscou está disposto a retomar os diálogos com Washington.
Em diversas ocasiões, Trump afirmou que acabaria com a guerra entre Rússia e Ucrânia, mostrando-se favorável à concessão de territórios ucranianos para isso.
— Nós tomamos conhecimento da declaração do recém-eleito presidente dos Estados Unidos e de membros de equipe sobre o desejo de restaurar contatos diretos com a Rússia, que não foram interrompidos por nós, mas pela administração que agora se encerra — disse Putin. — Nós nunca recusamos o diálogo, sempre estivemos prontos para manter uma atitude de cooperação com qualquer administração americana. Eu disse isso em inúmeras ocasiões. Prevemos que o diálogo será construído em uma base igual e mutuamente respeitosa, levando em conta o papel significativo desempenhado por nossos países em uma série de questões-chave na agenda mundial, incluindo o fortalecimento da estabilidade estratégica e da segurança.
Ucrânia
Por outro lado, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também parabenizou Trump, destacando que sua chegada é uma oportunidade para "alcançar uma paz justa e de longo prazo" na guerra.
Trump já criticou diversas vezes o volume de ajuda militar enviado a Kiev, e a expectativa é que o republicano pressione a Ucrânia a sentar na mesa de negociações cortando os suprimentos destinos ao país.
“O presidente Trump é sempre decisivo, e a política de paz por meio da força que ele anunciou oferece uma oportunidade de fortalecer a liderança americana e alcançar uma paz justa e de longo prazo, que é a principal prioridade”, disse Zelensky. "Somos mais fortes juntos e podemos oferecer maior segurança, estabilidade e crescimento econômico para o mundo e para nossas duas nações."
Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também cumprimentou Trump pela posse.
Apesar de o Brasil estar longe de ser uma das prioridades da política externa americana, as ameaças de um tarifaço a produtos estrangeiros (principalmente de países que estimularem a desdolarização, como vêm fazendo os membros do Brics) e a ligação entre Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro (convidado para a posse, mas impedido de comparecer pelo STF, que retém seu passaporte), preocupam Brasília.
Lula, no entanto, adotou um tom conciliador.
"Em nome do governo brasileiro, cumprimento o presidente Donald Trump pela sua posse. As relações entre o Brasil e os EUA são marcadas por uma trajetória de cooperação, fundamentada no respeito mútuo e em uma amizade histórica", escreveu o presidente nas redes sociais. "Nossos países nutrem fortes laços em diversas áreas, como o comércio, a ciência, a educação e a cultura. Estou certo de que podemos seguir avançando nessas e outras parcerias. Desejo ao presidente Trump um mandato exitoso, que contribua para a prosperidade e o bem-estar do povo dos Estados Unidos e um mundo mais justo e pacífico."
União Europeia
Quem também optou por uma mensagem conciliadora, apesar de declarações inflamadas feitas por Trump no passado, foi a presidente da Comissão Europeia, braço executivo da UE, Ursula von der Leyen.
“A UE espera trabalhar em estreita colaboração com vocês [EUA] para enfrentar os desafios globais”, escreveu no X. ”Juntas, nossas sociedades podem alcançar maior prosperidade e fortalecer sua segurança comum.”
Itália
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, uma das líderes da extrema direita global convidada para a posse de Trump, parabenizou o republicano e saudou "os valores" compartilhados entre os dois países.
Ela também citou um papel para a Itália na “consolidação do diálogo entre os Estados Unidos e a Europa”.
“Tenho certeza de que a amizade entre nossas nações e os valores que nos unem continuarão a fortalecer a colaboração entre a Itália e os EUA, enfrentando juntos os desafios globais e construindo um futuro de prosperidade e segurança para nossos povos”, escreveu Meloni nas redes sociais.
Israel
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, parabenizou o presidente Donald Trump e lhe afirmou em mensagem de vídeo que “os melhores dias” da aliança entre os dois estão por vir.
Na semana passada, Netanyahu agradeceu Trump e sua equipe pelo papel na mediação do acordo de cessar-fogo e devolução dos reféns em Gaza que pôs em suspenso a guerra após 15 meses de confrontos.
A relação entre os dois estava estremecida desde que o líder israelense havia parabenizando o ex-presidente Joe Biden pela sua vitória sobre Trump nas urnas em 2020, num pleito contestado, sem provas, pelo republicano.
— Acredito que, trabalhando juntos novamente, elevaremos a aliança EUA-Israel a patamares ainda maiores — disse Netanyahu. — Tenho a confiança que que vamos acabar com os atos de terror do Irã e trazer uma nova era de paz e de prosperidade para a nossa região.
Índia
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, parabenizou "o querido amigo" Donald Trump, e disse que espera que os dois países voltem a trabalhar juntos.
"Estou ansioso para trabalhar novamente em estreita colaboração, para beneficiar nossos dois países e para moldar um futuro melhor para o mundo", publicou Modi, do nacionalista Bharatiya Janata Party (BJP), na rede social X.
Alemanha
O chanceler alemão, Olaf Scholz, desejou a continuação do que chamou de “boas relações transatlânticas” com os Estados Unidos, o “aliado mais próximo” da Alemanha.
"Os EUA são nosso aliado mais próximo e o objetivo de nossa política é sempre um bom relacionamento transatlântico. A UE, que tem 27 membros e mais de 400 milhões de pessoas, é uma união forte", ressaltou Scholz em comunicado nas redes sociais.
Reino Unido
Outro aliado histórico, o Reino Unido também saudou os EUA pelo novo governo.
O primeiro-ministro britânico, do Partido Trabalhista, publicou um vídeo no X em que destaca o "relacionamento especial" entre o Reino Unido e os Estados Unidos.
— Juntos, podemos defender o mundo do terrorismo e trabalhar rumo à segurança mútua. Os EUA e o Reino Unido sempre trabalham juntos para garantir o sucesso dos dois países. Continuaremos construindo fundações sólidas dos nossos parceiros históricos para enfrentar os desafios globais e levar nossa parceria para outro nível — afirmou.
Starmer ainda afirmou que deseja se encontrar com o presidente americano enquanto continua "uma missão compartilhada para garantir paz, prosperidade e segurança para as duas nações".
O rei Charles III também enviou uma mensagem de felicitação a Trump, em que citou o que chamou de "relação especial e duradoura entre Reino Unido e Estados Unidos".