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Linfócitos T: relógio das células imunológicas funciona independente do tempo de vida

Cientistas americanos descobriram que os linfócitos T de defesa sobrevivem a pelo menos quatro ciclos de vida, envelhecendo no seu próprio ritmo

Linfócito T de defesa: cientistas ficaram intrigados de como essas células, com as taxas aceleradas de proliferaçãoLinfócito T de defesa: cientistas ficaram intrigados de como essas células, com as taxas aceleradas de proliferação - Foto: NIAD

Cientistas do Hospital Infantil de Pesquisa St. Jude e da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, descobriram que os linfócitos T de defesa saudáveis, células que fazem parte do sistema imunológico do corpo humano, não envelhecem de forma alinhada à idade cronológica do indivíduo.

Pelo contrário, elas parecem se proliferar de forma indefinida e sem prejuízos. Em experimentos conduzidos para o novo estudo, publicado na prestigiosa revista científica Nature Aging, as células continuaram a sobreviver ao que correspondeu a pelo menos quatro vidas de um ser vivo.

"Os seres humanos não vivem para sempre. Mas, nesse caso, poderíamos testar esse conceito para as células T. Existe um fim para o relógio epigenético? Ele se estabiliza? E isso não aconteceu por até quatro vidas, ele continuou contando, o que foi incrível. Essas células não estão limitadas pelos limites razoáveis da vida útil do organismo”, diz Ben Youngblood, autor do estudo e pesquisador do departamento de Imunologia do St. Jude, em comunicado.

Por outro lado, ao estudar células T malignas de pacientes pediátricos com leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T), um tipo de câncer, eles observaram que elas tiveram um envelhecimento acelerado, o equivalente a até 200 anos ainda que o paciente fosse uma criança.

"Se os relógios epigenéticos estivessem ligados à idade cronológica do hospedeiro, seria de se esperar que as células T de pacientes pediátricos com LLA-T parecessem jovens em idade. Mas nosso relógio previu que essas células eram muito antigas”, resume a também autora do trabalho Caitlin Zebley, do departamento de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular do St. Jude.

Os pesquisadores explicam que o interesse pelo tema foi despertado quando exploravam o processo de envelhecimento das células, que ocorre por meio de sua replicação e proliferação no organismo.

"O sistema imunológico, por natureza, precisa montar uma resposta proliferativa rápida a um patógeno ou tumor. E em alguns ambientes, como patógenos endêmicos ou infecções virais crônicas, isso acontece repetidamente. É muita proliferação que essas células T sofrem durante a vida útil de um ser humano”, diz Youngblood.

Nesse contexto, os cientistas ficavam intrigados de como essas células, com as taxas aceleradas de proliferação, não desencadeavam, por exemplo, o desenvolvimento frequente de tumores, já que a cada vez que uma célula se replica há o risco de uma mutação que a torne cancerígena.

"As células T têm muitas oportunidades de se tornarem cancerígenas, mas não podem, caso contrário a humanidade não existiria”, diz Youngblood. A resposta, afirma, está na capacidade de as células T desafiarem o envelhecimento.

Para estudar isso, eles utilizaram informações conhecidas como marcadores epigenéticos, que se acumulam numa célula e podem indicar o seu ciclo de vida, como o acúmulo de mutações no DNA e o comprimento dos telômeros – camadas que protegem os cromossomos e que se encurtam com o tempo.

"Uma das grandes dúvidas que tínhamos era se esses relógios epigenéticos estão vinculados ao tempo de vida do organismo ou não”, diz o pesquisador. Por isso, eles utilizaram um camundongo e induziram a produção de células de defesa T por meio de vacinação.

Depois, essas mesmas células foram transplantadas para outros animais. Eles observaram que as células continuaram funcionando por pelo menos quatro vidas do ser vivo, corroborando que o seu “relógio” avançava de forma independente da idade do indivíduo.

Depois, para entender o que aconteceria em casos como de câncer, em que a proliferação das células é acelerada e prolongada, o time de cientistas estudou os linfócitos T dos pacientes com LLA-T. Eles observaram que elas pareciam ter entre 100 e 200 anos de idade.

"Achamos que isso estava relacionado ao fato de que elas estavam se proliferando tão rapidamente", diz Zebley.

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