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CIÊNCIA

Lua entra pela primeira vez em lista de locais ameaçados pela ação humana

World Monuments Fund diz que inclusão se deve ao risco destruição causados pelas viagens comerciais e necessidade de preservar artefatos deixados durante corrida espacial

Foto: Reprodução/Unsplash

Nem mesmo a Lua, a mais de 384 mil quilômetros da Terra, escapou dos impactos severos provocados pela atividade humana. O satélite natural está pela primeira vez entre os 25 locais vulneráveis listados pelo World Monuments Fund (WMF, na sigla em inglês), devido ao risco de saques e destruição causados pelas viagens comerciais "realizadas sem protocolos adequados", explicou a presidente e diretora executiva da ONG, Bénédicte de Montlaur.

Para efeitos práticos, a menção do satélite serve para pensar "estratégias proativas e cooperativas para proteger o patrimônio" e "refletir a necessidade de reconhecer e preservar os artefatos que testemunham os primeiros passos da humanidade além da Terra":

— Itens como a câmera que capturou o pouso televisionado na lua; um disco memorial deixado pelos astronautas Armstrong e Aldrin; e centenas de outros objetos são emblemáticos desse legado... — exemplificou a presidente, citada pelo jornal britânico The Guardian, acrescentando: — A proteção do patrimônio lunar evitará danos causados pela aceleração de atividades privadas e governamentais no espaço, garantindo que esses artefatos perdurem para as gerações futuras.

 

Nos últimos anos, o interesse humano na Lua tem ganhado novos rumos. As pesquisas sobre presença de água e minerais, por exemplo, se concentram em transformar o satélite em um ponto de parada para voos mais longos, como uma viagem para Marte. A Nasa iniciou em 2017 o seu Programa Artemis, que planeja não só dar um fim ao jejum de décadas desde que um humano pisou na Lua, mas também amplificar os estudos que permitirão o estabelecimento de bases de exploração no local.

Também os atores se diversificaram: enquanto na década de 1950 a Lua era disputada pelos americanos e os soviéticos, agora novos países entram na corrida, incluindo potências espaciais como a China e a Índia, e atores privados, como a Space X, do bilionário Elon Musk, e a Blue Origin, do bilionário Jeff Bezos, cuja participação pretende principalmente baratear as viagens.

Antropoceno Lunar
Um artigo publicado em dezembro de 2023 na revista Nature Geoscience defende que a Lua já entrou em uma nova era geológica por conta das mudanças provocadas pelo homem. De acordo com o estudo, o "Antropoceno Lunar" teria tido início quando a espaçonave não tripulada da antiga URSS, a Luna 2, aterrissou pela primeira vez na Lua e, segundo a Nasa, criou uma cratera na sua superfície.

A ideia, segundo o principal autor do estudo, Justin Holcomb, à CNN, é a mesma do Antropoceno na Terra, isto é, "a avaliação de quanto os humanos impactaram nosso planeta”. Mas, diferentemente do nosso habitat, a Lua não é povoada por humanos, o que significa que suas mudanças não são naturais e, portanto, não ocorreriam sem a atuação humana.

O documento da WMF, o primeiro desde 2022, também inclui o Qhapaq Ñan, um vasto sistema viário Inca, a cidade de Antáquia, na Turquia, e a Península de Noto, no Japão. E boa parte dos locais são zonas de conflito, como a Ucrânia e a Faixa de Gaza, ou áreas em risco devido a crise climática. A lista também é bastante ponderada e observa que, enquanto alguns locais podem se beneficiar de um turismo mais sustentável, outros são advertidos quanto à superlotação de visitantes e seus impactos.

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