Lula e Charles III pedem ação urgente na luta contra a mudança climática
O pedido foi feito durante seus discursos na reunião de cúpula da COP28, em Dubai
A luta contra a mudança climática exige uma ação urgente, afirmaram nesta sexta-feira (1º) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o rei Charles III da Inglaterra, em seus discursos na reunião de cúpula da COP28, que acontece em Dubai.
"O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos", declarou Lula, que desembarcou em Dubai com uma iniciativa internacional para proteger as florestas tropicais.
Os países pobres estão fartos "do auxílio financeiro que não chega", afirmou, destacando que ante aos "discursos eloquentes e vazio", são necessárias ações concretas.
"Peço de todo coração que a COP28 seja uma guinada decisiva para uma ação transformadora decisiva", disse o rei Charles III.
"A Terra não pertence a nós, nós pertencemos à Terra", disse o monarca, um reconhecido defensor do meio ambiente.
A reunião de cúpula de líderes mundiais sobre o clima em Dubai foi ofuscada pela guerra em Gaza.
A delegação iraniana abandonou a conferência em protesto contra a presença israelense.
O presidente israelense, Isaac Herzog, que participaria de uma assembleia com várias autoridades, deixou Dubai sem fazer declarações, enquanto bombas voltavam a cair sobre Gaza.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, altamente crítico da resposta israelense ao sangrento ataque do Hamas em 7 de outubro, garantiu que o que a população de Gaza está vivenciando "é um teste" para as crises climáticas do futuro.
Conferência de todos os recordes
A COP28 é a conferência do clima de todos os recordes: mais de 80.000 delegados oficiais, o que representa o dobro do número anterior.
Também é uma conferência que deve apresentar um balanço dos recordes climáticos: 2023 é o ano mais quente já registrado e o planeta emitiu mais gases do efeito estufa do que nunca.
O presidente da COP28, Sultan Al Jaber, conquistou um triunfo diplomático na abertura da conferência com a aprovação, por unanimidade, de um fundo de perdas e danos para os países mais afetados pela mudança climática.
O fundo, exigido há mais de três décadas pelos países em desenvolvimento, foi negociado em tempo recorde e começará a funcionar em 2024, sob controle do Banco Mundial, com uma dotação inicial de 500 milhões de dólares (2,4 bilhões de reais na cotação atual), após uma promessa da Itália de aportar 100 milhões (493 milhões de reais).
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Como abandonar os combustíveis fósseis?
Tradicionalmente, os líderes mundiais comparecem às reuniões do clima com anúncios de planos e investimentos ecológicos debaixo do braço, para enfrentar as grandes expectativas dos ativistas e cientistas.
Discretamente deixada para trás fica a realidade da transição energética e as suas dificuldades.
Lula não mencionou que o Brasil foi oficialmente convidado a aderir a uma aliança com o clube dos países exportadores de petróleo, a Opep.
"Quer ser um líder climático ou um país dependente de combustíveis fósseis? Não pode ser ambas as coisas ao mesmo tempo", reagiu a organização 350.org.
Os Emirados Árabes Unidos anunciaram um novo fundo de 30 bilhões de dólares (148 bilhões de reais) para combater as mudanças climáticas, sob o nome Alterra.
E o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu aos países do G7 das maiores potências ocidentais que abandonem o carvão até 2030.
Entre agora e 2030 será necessário, apenas para os países em desenvolvimento, um investimento total de até 5,9 trilhões de dólares (29 trilhões de reais) para todos os aspectos da luta climática: mitigação das emissões, adaptação à nova realidade meteorológica, mudança da matriz energética, etc.
No ritmo atual, segundo os cientistas, o planeta segue para um aumento da temperatura média de entre 2,5ºC e 2,9ºC este século, quase o dobro da meta ideal (+1,5ºC).
Para conter o aquecimento é essencial acelerar o abandono dos combustíveis fósseis, alertam os especialistas.
Abandonar o mais rápido possível, sem condições, ou de maneira gradual, com margem para a situação individual de cada país, é um debate ainda sem solução e que está novamente presente no rascunho da declaração da COP28.
A declaração final deve ser apresentada oficialmente em 12 de dezembro.