MEIO AMBIENTE

Luta climática requer política integral, conclui estudo; entenda

O estudo, publicado na revista Science, analisou 25 anos de políticas públicas em 41 países

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Proibir usinas de carvão, tributar o carbono ou subsidiar energias renováveis são medidas que, por si só, são insuficientes para se conseguir reduções significativas dos gases de efeito estufa, afirma um estudo internacional publicado nesta quinta-feira (22), que revela a importância de uma política integral.

O estudo, publicado na revista Science, analisou 25 anos de políticas públicas (impostos, subvenções, normas e sensibilização) em 41 países que representam 81% das emissões mundiais.

Das 1.500 políticas analisadas em setores como energia, transporte, indústria e construção, "só foram identificados 63 casos de políticas climáticas eficientes, cada uma das quais resultou em uma redução média de emissões de 19%".

"Os pesquisadores mostram que proibir as centrais elétricas de carvão ou os motores de combustão interna não resulta em reduções significativas das emissões quando se aplica de forma isolada", explica o Instituto de Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão), que dirigiu este trabalho junto com o Instituto de Pesquisa Mercator (MCC, na sigla em inglês) de Berlim.

"Os casos eficientes apenas surgem com um conjunto de impostos e incentivos tributários, combinados com um pacote de políticas bem desenhadas, como no Reino Unido para a produção elétrica de carvão ou na Noruega para os automóveis", acrescentam os pesquisadores em seu comunicado.

No caso do declínio do carvão britânico, os pesquisadores identificam uma clara ruptura em 2014-2015, após a introdução de um preço mínimo do carbono em 2013.

"Embora as publicações existentes atribuíssem a maior parte deste efeito ao preço mínimo do carbono, nosso método revela que este preço fazia parte de um amplo pacote", indicam os autores do estudo.

Este "incluía medidas reguladoras (normas e planejamento da expansão de energias renováveis, legislação mais rígida contra a poluição atmosférica e o anúncio do fechamento gradual das centrais de carvão) e incentivos baseados no mercado (tarifas de subvenção de energias renováveis e leilões)", acrescentam.

Diretrizes climáticas
As 63 políticas bem-sucedidas representaram "reduções de emissões totais de entre 600 milhões e 1,8 bilhão de toneladas equivalentes de CO2" (CO2eq), estima o estudo.

Em 2022, a humanidade emitia 57,4 bilhões de toneladas de CO2eq, segundo cálculos das Nações Unidas.

Os pesquisadores esperam que seus trabalhos influam nas diretrizes climáticas dos países que firmaram o Acordo de Paris, que devem apresentar uma versão atualizada à ONU antes de fevereiro de 2025 para tentar limitar o aquecimento global a 1,5°C desde a época pré-industrial (diante dos aproximadamente 1,2°C atuais).

"Nossas conclusões revelam que um maior número de políticas não significa necessariamente melhores resultados; ao contrário, o crucial é uma combinação acertada de medidas", explica o autor principal, Nicolas Koch, do PIK e do MCC.

Poluição atmosférica

No entanto, "ao se concentrar apenas em 63 grandes avanços estatisticamente identificáveis", os pesquisadores "ignoram o impacto de milhares de esforços mais modestos em escala mundial", acumulativos e sinérgicos, opina Michael Grubb, professor do University College London (UCL), que não participou do estudo.

Contudo, ele elogiou o que chamou de "o estudo mais sofisticado até o dia de hoje", cuja conclusão sobre a necessidade de combinar políticas "tem todo o sentido".

"O estudo analisa apenas as políticas climáticas que alcançam reduções repentinas, enquanto a maioria delas depende da eficácia de novas medidas ou visa uma trajetória de emissões de longo prazo, uma vez que o estabelecimento de infraestruturas e estilos de vida mais ecológicos leva anos", comenta também Robin Lamboll, especialista em meio ambiente do Imperial College de Londres.

Para chegarem a suas conclusões, os pesquisadores utilizaram uma base de dados sobre as políticas públicas da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e um procedimento que combina métodos de aprendizagem automatizado e análise estatística.

Um site interativo, o "Climate Policy Explorer", oferece uma visão geral acessível ao público dos resultados do estudo.

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