Macron pressiona Putin após teste francês confirmar envenenamento de opositor
Alexei Navalni, de 44 anos, saiu do coma induzido na semana passada
O presidente francês, Emmanuel Macron, pressionou seu homólogo russo, Vladimir Putin, nesta segunda-feira (14), para que esclareça a "tentativa de assassinato" sofrida pelo oponente do Kremlin Alexei Navalni, após análises francesas confirmarem a conclusão alemã de que ele foi envenenado.
Segundo um comunicado da Presidência francesa, em uma conversa com Putin pela manhã, Macron "expressou sua profunda preocupação com o ato criminoso" cometido contra Navalni e "enfatizou a necessidade de esclarecê-lo sem demora".
O presidente francês acrescentou que a França, com base em suas próprias análises, "compartilhou as conclusões de seus sócios europeus" de que o adversário de Putin foi vítima de "envenenamento com a ajuda de um neurotóxico [do grupo] Novichok".
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O opositor de 44 anos saiu do coma induzido na semana passada. Os países ocidentais pediram que Moscou investigue o caso, sob risco de sanções. O Kremlin rejeita a versão de envenenamento e denuncia acusações infundadas. Mais cedo, o governo alemão afirmou que laboratórios da França e da Suécia confirmaram o envenenamento com a substância, uma hipótese rejeitada pela Rússia.
O porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, informou que pediu aos dois países "uma revisão independente da evidência alemã a partir de novas amostras de Navalni", que está hospitalizado em Berlim. "Os resultados da revisão em laboratórios especializados da França e da Suécia estão disponíveis e confirmam a evidência alemã", declarou.
"Até o momento, três laboratórios apresentaram de maneira independente a prova de que um agente neurotóxico do grupo Novichok é a causa do envenenamento de Navalni", reiterou. O uso de Novichok "constitui uma violação grave da Convenção sobre as Armas Químicas", lembrou.
Seibert disse que Berlim solicitou à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) a análise das provas do caso. Segundo ele, a OPAQ extraiu amostras de Navalni e tomou medidas para análises nos laboratórios de referência da organização. "Reiteramos o pedido para que a Rússia apresente explicações sobre o que aconteceu", afirmou. "Estamos em estreita colaboração com nossos sócios europeus no que diz respeito às próximas etapas", concluiu.
Moscou pediu a Berlim que entregue as informações sobre o estado de saúde do opositor russo, especialmente as análises do laboratório alemão que identificaram o Novichok. De acordo com as autoridades russas, as análises feitas durante a internação de emergência de Navalni em Omsk, Sibéria, não revelaram a existência de nenhuma substância tóxica no organismo do ativista.
Eleições regionais Nesta segunda-feira, com resultados ainda parciais de eleições regionais na Rússia, candidatos aliados de Navalni reivindicaram vitórias em duas cidades simbólicas da Sibéria, região onde supostamente ele foi envenenado.
Em 41 das 85 regiões do país, eleitores foram convocados a escolher os governadores, representantes nas assembleias regionais, ou municipais, e quatro deputados para o Parlamento nacional.
Por sua vez, os candidatos do partido governista, Rússia Unida, preeminente na vida política apesar da queda de popularidade nos últimos anos, conquistaram a maioria das cadeiras em disputa, de acordo com o líder da sigla, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro Dmitri Medvedev.
Mas os olhares estavam voltados para as disputas municipais em Tomsk e em Novosibirsk, na Sibéria, onde Navalni fazia uma investigação sobre a corrupção da elite local e organizava a campanha de seus aliados. Em Tomsk, os dois candidatos partidários de Navalni dizem ter sido eleitos para o Parlamento municipal. Andrei Fateev e Ksenia Fadeeva venceram em duas circunscrições, de acordo com os dados preliminares da Comissão Eleitoral.
Em Novosibirsk, terceira maior cidade da Rússia e a mais importante da Sibéria, onde Navalni também fez campanha, sua coalizão teria conquistado cinco cadeiras, incluindo a de Serguei Boiko, líder de uma coalizão opositora. Navalni promoveu uma estratégia tática para desafiar o partido governista e o sistema político no qual críticos proeminentes do Kremlin são proibidos de concorrer.
Enquanto ele se recuperava no hospital nas últimas semanas, seus aliados seguiram com a estratégia, nomeando mais de mil políticos que consideravam ter chances de vencer e fazendo uma forte campanha para que os russos votassem nele.
"Acho que todos entenderão que vencer em Tomsk era uma questão de princípio depois do que aconteceu", tuitou Ksenia Fadeeva.