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Macron se reúne com ex-presidentes para discutir nomeação de primeiro-ministro; conheça os cotados

Presidente da França tem até 1º de outubro para apresentar um nome, mas impasse no Parlamento, onde nenhum bloco detém maioria absoluta, desafia consenso para formar novo governo

O presidente francês Emmanuel MacronO presidente francês Emmanuel Macron - Foto: Aurelien Morissard / POOL / AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, se reuniu nesta segunda-feira com os ex-presidentes François Hollande (2012–2017), do Partido Socialista, e Nicolas Sarkozy (2007-2012), dos Republicanos, para discutir a nomeação do novo primeiro-ministro.

O ex-premier Bernard Cazeneuve (2016-2017) e o premier interino, Gabriel Attal, também foram consultados durante a rodada de conversas no Palácio do Eliseu. No entanto, as indefinições sobre quem será indicado e quando uma decisão será tomada permanecem, e mais personagens surgem na lista de cotados.

O país vive um impasse político desde as eleições legislativas de julho, que consagraram a vitória da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), mas sem a maioria absoluta no Parlamento, hoje fragmentado em três grandes blocos.

Na época, o centro macronista, que terminou com a segunda maior bancada, articulou um "cordão sanitário" para barrar um eventual governo do Reagrupamento Nacional (RN), sigla da extrema-direita liderada por Marine Le Pen que aparecia em primeiro nas pesquisas, mas que acabou como a terceira maior força na Casa.

A esquerda — que reúne socialistas, comunistas, verdes e a França Insubmissa (LFI, em francês), partido da esquerda radical que conquistou a maior bancada dentro do bloco — indicou o nome de Lucie Castets, diretora de finanças de Paris e membro dos socialistas, considerados uma ala mais moderada na coalizão. Mas Macron vetou Castets, alegando a necessidade de um quadro com ampla adesão entre as diferentes forças do Parlamento.

Diferentemente de outros países, na França o primeiro-ministro não precisa da maioria dos votos para se manter no cargo após a nomeação pelo presidente, apenas não pode ser alvo de uma moção de censura, ou seja, ser rejeitado pela maior parte dos parlamentares.

Este é um dos principais motivos para os dois meses de impasse na política francesa, já que tanto a extrema-direita e parte da direita tradicional já sinalizou que censuraria um premier da esquerda quanto a esquerda se nega a abrir mão do controle da Casa, uma vez que detém a maior bancada.

Macron tem sugerido em diversas declarações que "ninguém ganhou as eleições", articulando nos bastidores a viabilidade de um governo "sem extremos". No sábado, deputados da França Insubmissa enviaram ao Parlamento uma proposta de impeachment de Macron pela recusa na indicação de Castets, um processo longo que demandaria a aprovação de dois terços da Casa e que sofre relutância dentro da própria esquerda.

“Tanto a Assembleia quanto o Senado podem e devem defender a democracia contra a tentação autoritária do Presidente da República, que não sabemos onde pararia”, instou o partido no texto.

Diante da incerteza quanto à indicação de Castets, novos personagens surgiram. Um deles é o ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, que se reuniu com Macron nesta segunda e cujo nome foi amplamente mencionado no fim de semana. Sua indicação, porém, é alvo de resistência entre seus próprios correligionários. O primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, indicou que censuraria a proposta:

— Censuraremos qualquer forma de continuidade do macronismo — advertiu, sem citar explicitamente um eventual governo de Cazeneuve. — Não tenho nenhum problema pessoal com Bernard Cazeneuve. Que garantias existem para Bernard Cazeneuve, se não a de ser prisioneiro de (...) uma coalizão de Emmanuel Macron (...), mesmo que ele não tenha obtido e nem mesmo buscado o apoio da Frente Popular?

A líder da bancada da LFI, Mathilde Panot, foi ainda mais explícita durante uma entrevista nesta segunda-feira:

" Censuraremos qualquer governo que não seja liderado por Lucie Castets ", disse.

Do lado da direita, o ex-presidente Sazorky defendeu publicamente durante o fim de semana a ascensão de Xavier Bertrand, presidente regional d'Os Republicanos (LR, em francês), que durante as eleições se fragmentou, com uma parte de aliando à extrema-direita em determinados distritos. Eele foi ministro do Trabalho, das Relações Sociais e da Solidaridade entre 2007 e 2009 e não escondeu o interesse pelo cargo.

"A ideia geral é ver se as hipóteses de Cazeneuve e Bertrand são viáveis do ponto de vista do critério de estabilidade ", disse à AFP uma fonte próxima ao presidente, acrescentando que poderia haver outros nomes.

No entanto, a extrema-direita tampouco parece aceitar ambos os cotados. Em entrevista nesta segunda ao TF1, o deputado Jean-Philippe Tanguy, do RN, indicou que tanto o socialista quanto o republicano representariam uma continuidade do governo Macron.

"Cazeneuve e Macron é a mesma coisa. E Bertrand também é o Macron ", disse, acrescentando: — Cazeneuve não é de esquerda e Bertrand não é de direita, eles são mais ou menos macronistas destituídos.

Ao longo do dia, outro personagem, desconhecido do grande público, apareceu correndo por fora: Thierry Beaudet, presidente desde 2021 do Conselho Econômico, Social e Ambiental (CESE), a terceira câmara constitucional da República francesa, ao lado da Assembleia Nacional e do Senado. No entanto, lideranças de diferentes espectros políticos manifestaram ceticismo em relação a Beaudet, que nunca concorreu a um cargo político.

— [Beaudet] não tem legitimidade própria. Ninguém o conhece — disse a deputada ecologista Sophie Taillé-Polian, da frente de esquerda. — Ele teria toda a sua nomeação nas mãos de Emmanuel Macron e isso o tornaria (...) um fantoche.

Embora o tempo tenha corrido até agora a favor de Macron, que adiou a decisão de nomear um premier para depois dos Jogos Olímpicos de Paris, a indefinição sobre o Orçamento de 2025 mudou o jogo. O presidente — que não pode dissolver a Assembleia novamente até julho do ano que vem — tem até 1º de outubro para indicar um nome, prazo para que as contas do ano que vem sejam apresentadas no Parlamento.

O impasse acontece no momento em que a França corre o risco de enfrentar uma nova crise econômica devido ao déficit orçamentário de 154 bilhões de euros, cerca de 5,5% do PIB de 2023. Hoje, a dívida pública do país é 110% do seu Produto Interno Bruto.

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