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Macron viaja à América do Sul sob a sombra do acordo UE-Mercosul

O presidente centrista-direitista, enfraquecido em seu país desde as eleições legislativas antecipadas de meados de 2024, enfrenta forte pressão do setor agrícola

O presidente francês Emmanuel Macron O presidente francês Emmanuel Macron  - Foto: Ludovic Marin / AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, inicia neste sábado (15) uma viagem por Argentina, Brasil e Chile com o objetivo de revitalizar a cooperação com a América Latina, sob pressão do setor agrícola francês para bloquear o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

"Existe um momento latino-americano", destacou a Presidência francesa na quinta-feira, ao detalhar esta segunda viagem de Macron à América Latina em 2024, após sua visita ao Brasil em março, que visa "relançar a cooperação" com a região.

Desde que chegou ao poder em 2017, a América Latina nunca foi prioridade para Macron, que antes de 2024 havia visitado apenas Buenos Aires, em 2018, para uma cúpula do G20. No entanto, o interesse pela região cresceu significativamente no último ano.

"A situação da guerra na Ucrânia e suas consequências, as transformações geopolíticas, a rivalidade entre China e Estados Unidos e as mudanças nas cadeias globais de valor trazem a América Latina para o centro da atenção mundial", afirmou Gaspard Estrada, politólogo da London School of Economics, em entrevista à AFP.

Para Estrada, especialista no Sul Global, a região pode ser um "ator-chave" nos metais críticos necessários para a transição energética, na alimentação, como "grande exportadora" de matérias-primas, e no meio ambiente. Potências como a Alemanha já começaram a se aproximar da região.

Como demonstração desse interesse renovado, Macron pretende apresentar na quinta-feira, no Parlamento chileno em Valparaíso, sua visão para as relações entre a segunda maior economia da União Europeia e a América Latina, marcando seu primeiro discurso sobre a região.

As visitas à Argentina e ao Chile também têm como objetivo impulsionar as relações comerciais e os investimentos bilaterais, especialmente nos setores de metais críticos, como lítio e cobre, defesa, hidrogênio verde e transporte.

Contudo, a oposição da França ao acordo comercial em negociação entre a UE e o Mercosul também estará na pauta da visita.

"O tema será efetivamente abordado durante a viagem (...) As autoridades francesas deixaram muito claro em várias ocasiões (...) que este acordo não é aceitável em sua forma atual", informou a Presidência francesa.

Atraindo Milei 
O presidente centrista-direitista, enfraquecido em seu país desde as eleições legislativas antecipadas de meados de 2024, enfrenta forte pressão do setor agrícola, que organizou grandes protestos em janeiro.

Com a iminência da assinatura do acordo comercial entre a UE e o Mercosul, que a Comissão Europeia – negociando em nome dos 27 membros – parece decidida a concluir ainda este ano, agricultores franceses preparam novas manifestações a partir de segunda-feira.

As manifestações coincidirão com a cúpula do G20 no Brasil, prevista para segunda e terça-feira, onde Macron se reunirá com líderes dos Brics+, como o chinês Xi Jinping, o sul-africano Cyril Ramaphosa e o indiano Narendra Modi.

Antes da cúpula, Macron buscará, neste sábado e domingo, em Buenos Aires, atrair o presidente ultraliberal Javier Milei ao "consenso internacional" sobre desafios globais como o clima, após a Argentina se retirar da 29ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29), que acontece em Baku.

O giro latino-americano, realizado seis décadas após a histórica visita de três semanas à América do Sul do então presidente francês Charles de Gaulle, também terá um aspecto memorial.

No domingo, Macron prestará homenagem à cerca de vinte pessoas de nacionalidade francesa desaparecidas ou assassinadas nos primeiros anos da ditadura argentina (1976-1983), conforme exigiam seus familiares. No entanto, a Presidência francesa sinalizou que não discutirá o assunto com Milei para "não interferir na política interna".

No Chile, onde estará na quarta e quinta-feira, Macron se reunirá com o presidente de esquerda Gabriel Boric, visitará a casa do poeta Pablo Neruda em Santiago e destacará o papel da Igreja na proteção de opositores durante a ditadura chilena (1973-1990).

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