Maduro fala em "paz e compreensão" para resolver disputa no Essequibo
Presidente se pronunciou mais uma vez sobre a disputa na área contestada neste sábado
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou, neste sábado, que deseja "paz e entendimento" com a Guiana, em meio à escalada de tensões na fronteira com a realização do referendo sobre o Essequibo. Maduro voltou a mencionar o Acordo de Genebra, de 1966, como meio correto para solucionar a disputa e declarou que tanto Georgetown quanto as empresas petroleiras que mantêm negócios com o governo vizinho terão que negociar com Caracas.
"Guiana e Exxon Mobil terão que se sentar e dialogar conosco, o governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos paz e compreensão. Certamente, tudo! Deixe o mundo ouvi-lo, com o Acordo de Genebra, Tudo!", escreveu Maduro na rede social X (antigo Twitter).
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Embora seja uma disputa antiga, que remonta o período em que a Guiana ainda era uma colônia britânica na América do Sul, a escalada promovida por Caracas com relação à região nos últimos dias, sobretudo com a realização de um referendo para decidir, internamente, se o país deveria exercer sua soberania sobre a região, causaram instabilidade ao norte do continente. O Brasil chegou a reforçar a presença militar na tríplice fronteira, posicionando homens e blindados em Roraima.
Analistas apontam que o levante sobre a região foi motivado sobretudo por determinantes internas da política venezuelana, com a questão do Essequibo sendo utilizada por Maduro para inflamar sentimentos nacionalistas e tentar mobilizar a população um ano antes da eleição presidencial. Após a votação, o governo também usou o tema para perseguir opositores, com mandados de prisão emitidos contra integrantes da equipe de María Corina Machado, principal opositora do presidente.
No entanto, os especialistas também classificam como uma importante determinante externa o interesse de Caracas pelas grandes reservas de petróleo descobertas na Guiana, sobretudo em um bloco offshore, que está em boa parte localizado no mar territorial do território contestado. A descoberta do petróleo levou a Guiana ao maior boom econômico per capita do mundo.
A principal companhia a operar na extração do petróleo, e responsável pela descoberta do Bloco Stabroek, foi a americana Exxon Mobil. Também mantêm negócios na região a Chevron, que recentemente adquiriu a Hess Corp., e a chinesa CNOOC. Pela relação especialmente estreita de Georgetown com as empresas americanas, Maduro chegou a chamar o presidente da Guiana, Irfaan Ali, de "escravo" da Exxon Mobil.
Ontem, em um ato público em frente ao Palácio Miraflores, Maduro assinou os primeiros decretos sobre a região do Essequibo. Além de confirmar a autoridade venezuelana responsável por administrar a região e estabelecer 2030 como prazo para integração do território de fato, o presidente venezuelano determinou a criação de um setor dentro da empresa estatal de petróleo, PDVSA, para distribuir as licenças e criar estratégias de exploração do novo mar territorial.
Ainda não está claro como (ou mesmo se) a Venezuela tomaria medidas efetivas para interromper as operações da Exxon Mobil na região.