Sem a presença do pai, jovem e mãe vítimas de desabamento em Olinda são enterradas
Velório ocorreu no Cemitério de Guadalupe, em Olinda
O velório e sepultamento de Juliana Alves, de 32 anos, e Flávia Rayane, de 16, aconteceu nesta segunda-feira (1°), no Cemitério de Guadalupe, em Olinda. Mãe e filha foram vítimas do desabamento parcial do Edifício Leme, ocorrido na noite da última quinta-feira (27) no bairro olindense de Jardim Atlântico.
As duas moravam no térreo do edifício com Fábio Ruan, de 17 anos. O jovem tinha saído pouco tempo antes da tragédia para fazer uma entrega. Juliana comercializava frango à parmegiana e o filho realizava as entregas aos clientes. A família voltou a morar no local há cerca de 3 meses, devido às dificuldades financeiras. Fábio Ruan estava presente no velório para dar o último adeus a mãe e a irmã.
Leia também
• Prefeitura de Olinda retifica data da interdição do Edifício Leme, que foi mesmo em 2001
• Gato do prédio que desabou em Olinda fugiu para casa vizinha, dizem moradores
• Sob os olhares de moradores, recomeça processo de demolição do Edifício Leme
De acordo com Luana Vitória, 23, amiga de infância de Flávia, Fábio Ruan ter saído antes da tragédia foi o grande livramento da vida dele.
“Ela [Juliana] vendia frango à parmegiana, e ele saiu antes para entregar, quando voltou já encontrou a situação. Acho que uma hora ou menos de uma hora antes ele conseguiu sair, disse que ia para Ouro Preto e depois voltava, mas não voltou não. Foi o livramento da vida dele, porque Deus é quem sabe que tudo”, disse Luana, que estava emocionada ao se despedir da amiga.
Anne Karoline, 28, era amiga de Flávia e sempre saía com a jovem. Com um semblante de choro e emoção, Anne relembrou como era a adolescente no dia a dia.
“Rayanne era uma pessoa muito boa, amada por todo mundo, todo mundo gostava dela, não tinha maldade no coração, a gente saía, se divertia, ia para a praia, e foi lamentável isso, ninguém acreditou. Vai fazer muita falta, não vai ser esquecida nunca”, afirmou Anne.
Pai e marido não consegue se despedir
Apesar da liberação do Governo de Pernambuco, a cerimônia de despedida foi realizada sem a presença de Fábio Leal da Silva, marido de Juliana e pai de Flávia Rayanne. Ele está preso por roubo desde 2019 em Limoeiro, no Agreste.
Em nota, o Governo de Pernambuco, através da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), informou, na manhã desta segunda-feira (1º), que Fábio tinha sido liberado e iria para o velório. “A gestão avaliou os possíveis riscos da operação e reorganizou a logística da unidade prisional para atender ao reeducando no velório dos seus familiares”, destacou a nota.
No domingo (30), antes da liberação, o Governo do Estado, também através de nota, disse que o homem não poderia se despedir “em razão da demanda intensa de visitas no final de semana”, apontando “logística inviabilizada”.
Apesar da nota do Governo de Pernambuco que confirmou a ida do detento ao velório, Fábio não saiu da penitenciária, segundo a advogada Djanine Soares. Desde a sexta-feira (28), a família das vítimas tentar, através de advogados, a liberação do preso para a despedida.
Os advogados e familiares ficaram sabendo da liberação através da imprensa. Segundo a advogada, a Seres não informou aos advogados, à penitenciária e à família sobre a permissão que o detento havia recebido.
“Quando a Seres mandou um comunicado para a Folha de Pernambuco afirmando que o mesmo seria liberado, tentei contato com o próprio Fábio, com a diretoria, mas não tinha conseguido. Quando eu consegui o contato com Fábio por meio de um contato que estava de plantão em Limoeiro, Fábio disse que a administração do presídio não recebeu nenhum encaminhamento para ele ser deslocado, não chegou nenhuma escolta e isso foi protelando, deu 14h20 e ele ainda estava lá foi quando vimos que não dava mais tempo dele se despedir da sua família”, disse a advogada.
A Folha de Pernambuco procurou a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) para saber os motivos do detento não ter ido ao velório. Em nota, a Seres afirmou que havia risco de segurança o que inviabilizou o deslocamento do detento.
"Informações apuradas pela superintendência de inteligência da Seres, pouco antes do deslocamento do detento Fábio Leal da Silva, apontaram para risco de segurança o que acabou inviabilizando o comparecimento do detento ao velório”, disse.
Comoção e revolta
De acordo com familiares, o sepultamento seria realizado no domingo (30), mas optaram por esperar a possível liberação de Fábio para a cerimônia. Nesta segunda, o velório começou às 11h. Os familiares e amigos aguardaram até o último momento, mas o reeducando não conseguiu chegar ao local e se despedir. O sepultamento foi realizado às 15h.
Revoltados com a situação, os presentes questionaram ao poder público os motivos para Fábio não ter ido, mesmo após a liberação.
“A gente está cobrando porque o pai dela e o marido dela não pode vir velar o corpo da filha e da esposa. A gente sabe que ele está preso e sabe que ele errou e a única pessoa que pode julgar ele, fez ele livre, que é Deus. E a gente só está cobrando isso, que ele possa velar o corpo da mulher e da filha, que isso é uma situação deplorável”, afirmou Luana Vitória. Segundo Luana, Juliana e Fábio estavam juntos há mais de 20 anos.
Bastante emocionada e revoltada com a situação, Jusiara Giancipoli da Silva, de 55 anos, tia de Fábio, afirmou que ele não conseguiu comparecer ao sepultamento por falta de escolta. “A governadora autorizou o meu sobrinho estar aqui no sepultamento da esposa e da filha e não apareceu porque não tem escolta”, disse Jusiara. Com a situação, Jusiara passou mal e precisou ser amparada pelos presentes.