Mãe é reprovada em teste e perde guarda de filhos, na Dinamarca, por meio de lei polêmica; entenda
Exame tem sido criticado por não levar em conta certas diferenças culturais e linguísticas entre o país e Groenlândia
A Dinamarca aplica polêmicos testes psicométricos para medir a competência parental de pais. Estes testes fazem parte de investigações sobre proteção infantil de novos pais, mas foram criticados por serem inadequados para os groenlandeses e outras minorias, segundo o jornal britânico "The Guardian".
O teste, oficialmente denominado forældrekompetenceundersøgelse (FKU), tem sido criticado por não levar em conta certas diferenças culturais e linguísticas entre o país e Groenlândia, território dinamarquês autônomo.
A rede de TV americana ABC aponta que um relatório de 2022 do Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos alertou que pontuações baixas nos testes poderiam ser uma representação imprecisa da capacidade cognitiva de um pai groenlandês. Recentemente, o teste de competência parental recebeu mais críticas depois que um bebê foi tirado de sua mãe groenlandesa.
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Keira Alexandra Kronvold, de 38 anos, cuja primeira língua é o Kalaallisut, fez o teste em dinamarquês durante a gravidez, língua em que não é fluente.
Poucas horas depois do parto, no dia 7 de novembro, as autoridades dinamarquesas chegaram ao hospital para lhe tirar a filha recém-nascida por ter sido reprovada no FKU. A mulher, agora, só pode visitar a filha uma vez por semana e precisava ser supervisionada.
Kronvold fez o teste do FKU em 2014, antes do nascimento de seu segundo filho e novamente enquanto estava grávida de sua terceira filha. Depois do ocorrido, ela disse ao "The Guardian" que nesta última ocasião lhe disseram que era para ver se ela era “suficientemente civilizada”. O jornal diz que, após o primeiro teste, ela foi separada definitivamente do filho de oito meses e da filha de nove anos.
Não se sabe ao certo até que ponto os resultados dos exames influenciaram essa decisão, mas acredita-se que eles tenham sido um dos motivos pelos quais, poucas horas depois de dar à luz sua terceira filha, no dia 7 de novembro, o bebê foi retirado da groenlandesa.
“As autoridades levaram minha filha embora como se ela fosse uma mera estatística, sem entender que meu amor e minha tradição eram mais importantes do que qualquer resultado de exame”, disse ela.
Na sequência do caso de Kronvold, ativistas apelaram aos groenlandeses para que deixem de ser submetidos a este tipo de testes.
"O Ministro da Criança da Gronelândia, Aqqaluaq Egede, realizou uma reunião urgente na semana passada com a Ministra dinamarquesa dos Assuntos Sociais e Habitação, Sophie Hæstorp Andersen. Egede disse mais tarde que o ministro dinamarquês tinha prometido ordenar aos municípios que parassem de usar o teste. Mas a seguinte declaração, emitida na última quarta-feira, não chegou a uma proibição total", explicou o Guardian.
De acordo com o jornal, os filhos de pais groenlandeses que vivem na Dinamarca têm muito mais probabilidades de serem colocados sob cuidados do que os de pais dinamarqueses.
“De acordo com um relatório de 2022, 5,6% das crianças de origem groenlandesa que vivem na Dinamarca são acolhidas, em comparação com 1% das crianças de origem dinamarquesa”, concluiu.
Segundo o Guardian, logo após o resultado do exame, Kronvold também perderia a guarda dos outros dois filhos, de oito meses e nove anos. No entanto, não está claro até que ponto os resultados dos testes contribuíram para essa decisão´, segundo a publicação.