Maestro Geraldo Menucci, primeiro regente da Banda Sinfônica do Recife, morre de Covid-19
Maestro Geraldo Menucci morre no Recife de Covid-19
O violinista e maestro carioca radicado no Recife, Geraldo Menucci, primeiro regente da Banda Sinfônica do Recife, morreru vítima da Covid-19, neste sábado (18). "Mais uma vida ceifada pelo Covid 19 hoje quando o Brasil completa 500 mil mortes ...meu pai Maestro Geraldo Menucci se vai, apenas 30 dias após a passagem de seu filho caçula, meu irmão Ingmar", postou Catarina Menucci, sua filha, no Facebook.
Geraldo Menucci deixa quatro filhos."Merecedor de nosso profundo reconhecimento pela dedicação de uma vida de 92 anos , intensa e obstinada pela educação através da música e das artes, que sempre acreditou ter o maior poder transformador pra evolução e felicidade humanas. Como músico neste país, passou por muitas batalhas difíceis e sempre em prol da coletividade. Meu pai respirava música e através de sua amorosa e entusiasmada postura cativou milhares de jovens e adultos.Tinha o dom da oratória e carisma admiráveis!", lembrou Catarina.
"Muito triste constatar que vivemos num país onde ainda muito poucos percebem e valorizam a importância da arte.
Que o seu esforço e resiliência não tenham sido em vão, mas sim um exemplo de que podemos ter um mundo melhor mais harmonioso e belo que é o que gera a felicidade plena! Papai, você sempre foi uma grande inspiração!", escreveu
Catarina
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Biografia
Menucci era carioca do Grajaú, descendente de italianos numa família de 11 irmãos. Estudou violino desde os 14 anos, graduou-se em Regência e Composição na Escola Nacional de Música da Universidade da Bahia e fez outras tantas práticas musicais com professores como Kurt Thomas, H.J. Koellreuter, Yulo Brandão, Pe Jaime Diniz, etc
Em 1951 o amor pela minha mãe o fez adotar Recife como sua cidade.
Foi admitido como maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Recife onde iniciou com total dedicação sua longa jornada em Pernambuco. Geminiano intrépido e sonhador, mas de grande capacidade executiva, criou em 1955 o Coral Bach do Recife, primeiro coral brasileiro a atravessar o Atlântico para apresentações de 11 concertos em vários países da Europa, em especial no VI Festival da Juventude pela Paz e Amizade em Moscou em 57.
Apaixonado por corais –“ a voz humana é o instrumento musical mais perfeito –“ dizia ele, criou o Coral Hashomer Alzair da juventude israelita de PE, recebendo muitos elogios públicos do maestro Villa Lobos , pelos trabalhos desenvolvidos.
Em 1958 foi organizador e regente da Banda Municipal de Recife. Encantado com os recursos e paisagens de Recife e com a possibilidade do uso dos belos rios, organizou uma inédita Serenata Fluvial com 250 participantes tocando e carregando luminárias acessas em seus barcos pelo Rio Capibaribe.
Após o Golpe de 64, foi obrigado a deixar Recife, e mudou-se indignado para o sudeste. Em São Paulo, criou o Coral Willys ( depois Ford Willys), com o qual realizou 108 concertos, gravou 2 LPs e regeu a Orquestra Filarmônica de SP e Orq. do Teatro Municipal do Rio de Janeiro ( Sala Cecília Meirelles) em concertos com o Coral de mais de 100 vozes.
Em 1971 mudou-se para São Carlos-SP onde na USP e UFSC criou o Madrigal de São Carlos e Coral de São Carlos, Grupo Cantigantiga e a Orq. Sinfônica de São Carlos, criou a Orq. de Câmera de São Carlos, mobilizando inúmeros jovens estudantes.
Em 1976-78 Foi Regente e Diretor artístico do Madrigal Revivis em Ribeirão Preto-SP. Nesta mesma época foi regente da Orq. Luiz Tullio do Conservatório Musical de Campinas-SP e da Unicamp. Além de ser professor de música e regente do Coral UNIMEP.
Em 1980 retorna a Recife após a” Lei da Anistia” e reassume suas funções como regente assistente da OSR e funda para a Secretaria da Educação de PE o Centro de Criatividade Musical de Recife, embrião de um projeto maior ao qual se dedicará o resto da vida.
Em 1985 Realiza seu grande sonho, o projeto da Fundação Centro de Criatividade Musical de Olinda
- “De pés descalços também se faz música”- voltado exclusivamente para jovens carentes, onde foi diretor geral e orientador pedagógico por 27 anos.
Nota de Pesar
A Fundação de Cultura do Recife publicou uma nota de pesar.
"A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife recebem com profundo pesar o falecimento do maestro Geraldo Menucci, carioca que se tornou recifense de coração, história e luta!
A música sempre foi a maior semeadura deste violinista, o primeiro regente da Banda Sinfônica do Recife. Mas o maestro Menucci foi além do talento musical, atuando como um defensor de causas. Atuou no Movimento de Cultura Popular (MCP), na década de 1960, e, na luta por melhores condições de vida para o povo brasileiro, dividindo trincheiras com nomes como Dom Helder Câmara, Paulo Freire e Abelardo da Hora, tendo também enfrentado o regime militar.
O maestro Geraldo Menucci deixa a lição de quem soube fazer da música e da cultura caminhos para a transformação e a construção de tempos melhores. “Uma grande perda, fica um enorme legado, é importante sempre aprender com quem faz da arte mais do que uma emoção, também um instrumento de luta pela vida”, declarou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello".