Mais 7,8 milhões de latino-americanos correm risco de sofrer insegurança alimentar
Essa quantidade de pessoas se somaria aos 86,4 milhões que já vivem nesta situação na região
Cerca de 7,8 milhões de pessoas estão em risco de sofrer insegurança alimentar na América Latina e no Caribe devido à inflação e à desaceleração do crescimento econômico, estimou nesta segunda-feira (6) a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Essa quantidade de pessoas se somaria aos 86,4 milhões que já vivem nesta situação na região.
"Isto é apenas levando em consideração a inflação e o crescimento. Se acrescentarmos o fato de que afeta muito mais as mulheres [em alusão à piora na renda e no emprego das mulheres pela pandemia], os setores informais, que não têm recursos para melhorar no social, [então] o impacto da situação pode ser ainda maior", assinalou o secretário-geral interino da Cepal, Mario Cimoli.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), a insegurança alimentar significa que a pessoa corre o risco de não ter acesso "a alimentos suficientes, inócuos e nutritivos que satisfaçam suas necessidades energéticas diárias e preferências alimentares para levar uma vida ativa e sã".
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A Cepal apresentou nesta segunda em Santiago (Chile) o relatório "Repercussões na América Latina e no Caribe da guerra na Ucrânia: como enfrentar esta nova crise?", no qual também atualiza dados sobre pobreza e extrema pobreza na região após a eclosão do conflito no Leste Europeu, em sequência da pandemia de coronavírus.
A pobreza passaria de 29,8% em 2018 para 33,7% em 2022, enquanto, no caso da extrema pobreza, o aumento seria de 10,4% em 2018 para 14,9% este ano, com ênfase em México, Colômbia, Brasil e Paraguai.
Cimoli ressaltou que "o que está acontecendo agora é um processo de choques distintos, crises em sequência e um processo cumulativo" que começou com a debacle financeira mundial de 2008, seguiu com as tensões políticas entre Estados Unidos e China em 2019, a pandemia de coronavírus a partir de 2020 e, atualmente, a guerra na Ucrânia.
Crescimento em baixa, preços em alta
A região da América Latina e do Caribe cresceu 6,3% em 2021, em plena recuperação econômica da pandemia. Para 2022, a projeção cai para 1,8%, 0,3 pontos percentuais a menos que o previsto em janeiro, e "tende a retornar ao lento padrão de crescimento de 2014-2019", assinala o relatório.
"Existe uma resposta heterogênea [dos países] com uma tendência muito forte para baixo das estimativas", argumentou o secretário interino.
O Caribe se destaca com uma projeção de 10,1% de aumento do PIB, impulsionado por Guiana (13%) e Santa Lúcia (10,5%). Por sua vez, o crescimento da América Central é estimado em 4,2%, enquanto no caso da América do Sul, a previsão é de uma expansão de 1,5%, com Venezuela (5%) e Colômbia (4,8%) na cabeça.
A inflação regional, que segue a tendência mundial, passará de 6,6% em 2021 para 8,1% em 2022, diz o relatório.
O aumento da pobreza "reflete o forte aumento dos preços dos alimentos", indica a Cepal. "Esses níveis são notoriamente superiores aos observados antes da pandemia e implicam em mais um retrocesso na luta contra a pobreza" na região, acrescenta o texto.