Mais de 100 músicos fugiram do Afeganistão por medo dos talibãs
Os membros do Instituto Nacional de Música do Afeganistão desembarcaram no Catar no último domingo (3)
Mais de 100 estudantes e professores de música fugiram do Afeganistão em um voo de retirada no domingo (3), por medo de represálias dos talibãs - informou o fundador do principal instituto de música do país, Ahmad Sarmast, à AFP.
No total, 101 membros do Instituto Nacional de Música do Afeganistão desembarcaram no Catar no último domingo (3). Agora, eles esperam para poderem seguir para Portugal, disse o fundador do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, que mora em Melbourne, na Austrália.
Com a ajuda da embaixada do Catar em Cabul, os músicos foram transportados em pequenos grupos para o aeroporto da capital afegã, relatou Ahmad Sarmast.
Composto de metade homens e metade mulheres, o grupo teve alguns problemas. Militantes talibãs questionaram seus vistos e disseram que as meninas e as mulheres não poderiam deixar o país com o documento de trabalho temporário que carregavam. Em geral, ele é reservado para funcionários públicos.
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"Acho que não era tanto pelo tipo de passaporte, mas por serem meninas deixando o país", disse Sarmast.
As gestões dos diplomatas catarianos resolveram a situação e, horas depois, o voo pôde decolar do Afeganistão.
"Foi um momento de muitas lágrimas. Eu chorava sem parar. Minha família chorava comigo. Foi o momento mais feliz da minha vida", lembra Sarmast ao saber do desfecho bem-sucedido da operação.
Este voo começou a ser planejado logo após o retorno dos talibãs ao poder.
"A partir do momento em que os talibãs assumiram o poder em Cabul, começou a discriminação contra a música e os músicos", contou Sarmast.
De acordo com Sarmast, os talibãs pediram aos membros do instituto que fiquem em casa até novo aviso e, passados dois meses, nenhuma nova instrução foi dada.
Este voo é a primeira fase, disse o fundador do instituto, que espera conseguir retirar os 184 professores e alunos que ainda estão no Afeganistão.
Em declaração recente, Sarmast afirmou que, ao silenciar os músicos e privar as crianças de poderem tocar um instrumento, o Talibã "abre o caminho para o desaparecimento da rica herança musical afegã".
Em seu mandato repressivo, no período de 1996 a 2001, o Talibã aplicou uma versão rigorosa da Sharia (lei islâmica), proibindo jogos, música, fotos e televisão.
Desta vez, prometem ser mais moderados, mas ainda não definiram uma postura clara sobre a música, por exemplo. Moradores acusaram os talibãs, porém, de terem assassinado uma cantora folk em Andarab, no nordeste do país, no final de agosto.
Sobre o patrimônio, fonte de preocupação após a destruição das estátuas de Buda, por parte dos islâmicos, em Bamiyan em 2001, o Talibã não fez qualquer declaração oficial desde fevereiro, quando alegou querer preservá-lo.