Manifestantes antiaborto reúnem-se em Washington com espírito combativo
Embora a Suprema Corte tenha dinamitado o direito ao aborto, "ainda temos muito trabalho pela frente", diz o católico George Muench, 74, que participou nesta sexta-feira (20) com milhares de pessoas da manifestação anual contra o aborto na capital dos Estados Unidos.
O ambiente em Washington era mais combativo do que festivo. A maioria dos manifestantes com que a AFP conversou mal saboreou a vitória e já pensava nas futuras batalhas.
A passeata aconteceu pela primeira vez em 1974, como um desafio à sentença Roe v. Wade, proferida um ano antes pela Suprema Corte, que garantia às americanas o direito de interromper a gravidez. Uma vez por ano, em janeiro, os opositores do aborto dirigiam-se ao prédio de mármore branco que abriga o templo da lei para lhe pedir que voltasse atrás.
Em junho passado, a corte, remodelada pelo ex-presidente republicano Donald Trump, deu razão aos manifestantes e deixou cada estado livre para proibir o aborto em seu território, o que cerca de 15 deles fizeram.
Barbara Countryman, 61, não perde uma passeata há 20 anos. A multidão de agora é "consideravelmente mais jovem", observou esta moradora do estado de Maryland, que reza regularmente em frente às clínicas de seu estado. "Acho que virei até a minha morte. Temos que continuar convertendo as pessoas."
Leia também
• Ministério da Saúde revoga norma que dificultava aborto legal
• Republicanos aprovam duas resoluções sobre o aborto nos EUA
• Defensores do direito ao aborto têm vitória legal no sul dos EUA
Os manifestantes sabem que não venceram a batalha da opinião pública. Os referendos realizados desde junho se inclinam em favor da defesa do direito ao aborto, inclusive em estados conservadores, como Kansas e Kentucky.
“Os democratas o converteram em um tema político, investiram muito dinheiro em campanhas, falaram sobre os perigos quando não existe direito ao aborto, mas não disseram a verdade”, afirmou George Muench.
Rosario Cazares, 27 anos, que veio do Texas com a mãe, reconhece que há questões difíceis, como gestações resultantes de estupro, de incesto, ou de mulheres pobres, mas acredita que elas devem ser ajudadas. Esta estudante de saúde pública espera um dia abrir seu próprio "centro para mulheres grávidas".
No próximo domingo, 50º aniversário da decisão judicial Roe v. Wade, defensores do direito ao aborto sairão às ruas para se manifestar em várias cidades.