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Manifestantes antirracistas mortos por adolescente nos EUA não poderão ser chamados de vítimas

Jacob Blake, um homem negro, levou quatro tiros pelas costas diante de seus filhos que, à época, tinham 3, 5 e 8 anos.Jacob Blake, um homem negro, levou quatro tiros pelas costas diante de seus filhos que, à época, tinham 3, 5 e 8 anos. - Foto: Reprodução/Twitter

Um juiz decidiu que três homens baleados por um adolescente nos atos antirracistas em Kenosha, nos EUA, em agosto de 2020, não podem ser chamados de "vítimas" durante o julgamento do atirador.

Kyle Rittenhouse, 18, responde a acusações de, entre outros crimes, homicídio e tentativa de homicídio por ter atirado em Joseph Rosenbaum, Anthony Huber e Gaige Grosskreutz –os dois primeiros morreram em decorrência dos ferimentos.


O julgamento de Rittenhouse está previsto para começar em 1º de novembro. Durante a fase do processo em que se estabelecem algumas diretrizes básicas de como se darão as audiências, o juiz Bruce Schroeder determinou que a acusação não poderá se referir aos baleados como vítimas porque, em sua visão, o termo está carregado de preconceitos.

Em contrapartida, o promotor Thomas Binger pediu ao juiz que a defesa de Rittenhouse também seja proibida de descrever Rosenbaum, Huber e Grosskreutz como "desordeiros, saqueadores ou incendiários".

Para ele, os termos são tão ou mais carregados de juízo de valor do que "vítimas" e deveriam ser banidos porque não há evidências de que os baleados estavam cometendo crimes quando foram atingidos.

O juiz Schroeder, no entanto, negou o pedido, segundo reportagem da emissora americana NBC News.

Relembre os casos de Kyle Rittenhouse e Jacob Blake À época com 17 anos, Rittenhouse foi preso em 26 de agosto sob suspeita de ter sido responsável pelo assassinato de duas pessoas durante manifestações contra o racismo e a violência policial em Kenosha, no estado americano de Wisconsin.

Milhares de pessoas tomaram as ruas naquela semana como reação a um episódio de uso excessivo de força com viés racial ocorrido dias antes. Jacob Blake, um homem negro, levou quatro tiros pelas costas diante de seus filhos que, à época, tinham 3, 5 e 8 anos.

Um vídeo publicado nas redes sociais mostra Blake andando até o assento do motorista do carro, seguido por dois policiais que apontam armas para suas costas. Quando ele abre a porta do veículo, um dos policiais dispara sete vezes –quatro tiros acertaram Blake.

Segundo a polícia, os dois agentes estavam no local em resposta a um chamado de incidente doméstico. Blake sobreviveu aos disparos, mas foi internado em estado crítico, chegou a ser algemado ao leito no hospital e ficou paralisado da cintura para baixo.

ATENÇÃO: O VÍDEO A SEGUIR CONTÉM IMAGENS FORTES

Após o caso, a cidade passou a viver dias de tensão, com as ruas tomadas tanto por manifestantes antirracismo quanto por grupos de civis armados, formados majoritariamente por brancos, que alegavam proteger propriedades de saques e depredações durante os protestos.

Durante um dos atos em Kenosha, Rittenhouse saiu pelas ruas armado com um fuzil. Imagens gravadas por testemunhas registraram o momento em que um grupo de manifestantes tentou desarmá-lo após ele ter atirado em um deles. O adolescente então fez disparos à queima-roupa contra seus perseguidores, o que resultou em duas mortes.

"Parece ser um membro de milícia que decidiu ser um justiceiro, tomar a lei com as próprias mãos e derrubar manifestantes inocentes", disse, à época, o vice-governador de Wisconsin, o democrata Mandela Barnes.
Às vésperas da eleição presidencial, os casos de Blake e Rittenhouse tiveram destaque nas campanhas de Donald Trump e Joe Biden, na esteira da onda de atos antirracismo após o assassinato de George Floyd, três meses antes.

Trump esteve em Kenosha, mas se recusou a conversar com a família de Blake após ser informado de que um advogado estaria presente. Na cidade, o republicano se encontrou com policiais, descreveu os protestos como "terrorismo doméstico" e defendeu aumentar o uso de força contra os manifestantes.

No caso Rittenhouse, o agora ex-presidente disse que o adolescente agiu em legítima defesa e "provavelmente teria morrido" se não tivesse disparado –principal tese dos advogados do atirador.

Biden também visitou a cidade e, embora tenha criticado a violência dos protestos, encontrou-se com a família de Blake, falou com ele por telefone e conversou sobre como mudar o tratamento da polícia em relação às minorias e sobre o impacto da escolha de Kamala Harris, uma mulher negra, como vice.

Em novembro de 2020, Rittenhouse pagou fiança de US$ 2 milhões e foi libertado. Depois, em janeiro deste ano, declarou-se inocente de todas as acusações. No mesmo dia, a promotoria de Kenosha anunciou que não formalizaria nenhuma denúncia contra o policial que atirou em Jacob Blake.

O agente Rusten Sheskey voltou ao trabalho em abril, após uma licença administrativa, mas não foi alvo de nenhuma medida disciplinar. Outros dois policiais que participaram da abordagem também retornaram ao trabalho depois que o chefe do departamento concluiu que eles agiram de maneira lícita e apropriada.

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