Manifestantes continuam bloqueios no Equador e governo volta a pedir diálogo
Este é o quarto dia de protestos contra o aumento dos custos de vida no país
Indígenas equatorianos bloquearam o acesso a Quito e outras rodovias do país nesta quinta-feira (16) no quarto dia de protestos contra o aumento dos custos de vida, que se espalhou para outros setores, enquanto o governo de Guillermo Lasso insistiu em seu apelo ao diálogo para dar fim às ações.
No sul da capital, onde se concentravam pequenos grupos de indígenas, havia uma forte presença policial para desobstruir estradas, fechadas com pneus em chamas, troncos e pedras.
"Estamos aqui por causa do alto custo de vida. O aumento dos preços dos combustíveis nos afetou muito em nossos campos", disse à AFP José Pallo, indígena da cidade de Saquisilí.
Um caminhão que transportava manifestantes capotou na região, deixando 12 feridos, segundo os bombeiros. O veículo exibia uma placa que dizia "Presentes à greve! Fora Lasso!"
Enquanto os manifestantes protestavam nas ruas, Lasso, um ex-banqueiro de direita no poder há um ano, mais uma vez clamou por paz.
"Fazemos um chamado ao diálogo pelas famílias equatorianas, pelo camponês, pela criança que quer voltar para sua sala de aula, pelo transportador que não pode seguir em frente com uma via fechada", tuitou o presidente.
Lasso conversou com representantes do transporte de carga na sede presidencial, em uma reunião que ele descreveu como "positiva", após dezenas de caminhões fecharem a passagem para Quito.
"Indiferença"
Os protestos sem previsão de término, aos quais se uniram estudantes e professores, começaram na segunda-feira por convocação da opositora Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que pede a redução para 1,50 dólares do preço do galão de diesel de 3,78 litros e para 2,10 dólares a gasolina de 85 octanas.
Entre maio de 2020 e outubro de 2021, o diesel quase dobrou de valor, passando de 1 para 1,90 dólares, e a gasolina aditivada subiu 46%, passando de 1,75 para 2,55.
Após três dias de manifestações, ainda não há luz no fim do túnel: o líder da Conaie, Leônidas Iza, afirma que o Executivo não oferece garantias para conversar e que não respondeu aos pedidos dos povos originários.
O governo de Lasso e a Conaie realizaram negociações no ano passado, sem resultados.
"Enquanto não tivermos essa resposta, continuamos as ações de mobilização em todo o território nacional, até que o governo acorde de sua indiferença", declarou Iza em novo discurso publicado por sua organização nas redes sociais.
Reativação e perdas
A Conaie, que participou de revoltas que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005, disse que apresentou na segunda-feira ao Executivo um documento com dez demandas.
Em particular, exigem a redução dos preços dos combustíveis, mas também a regulação do preço dos produtos agrícolas e a renegociação das dívidas que quatro milhões de famílias têm com os bancos.
"Não podemos parar", respondeu Lasso. "Só temos tempo para continuar na linha de reativação" da economia, atingida pela pandemia de Covid-19.
Em 15 das 24 províncias do país foram registrados bloqueios de estradas, segundo o Serviço Integrado de Segurança ECU911.
De acordo com o movimento indígena, 14 pessoas ficaram feridas durante as manifestações. Já a polícia informou oito agentes feridos e outros 11 mais um promotor detidos temporariamente por manifestantes, além de 29 pessoas presas.
Os protestos já estão afetando o setor produtivo, inclusive o petrolífero com a paralisação de poços na floresta amazônica. O Equador produziu 481 mil barris de petróleo por dia entre janeiro e abril, segundo o Banco Central.
O ministro da Produção, Julio Prado, afirmou que os prejuízos devidos aos protestos chegam a 20 milhões de dólares. Em 2019, mais de uma semana de manifestações causaram danos econômicos de 800 milhões de dólares.