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Prova

Média geral de candidatos por sala no Enem foi reduzida em apenas 19,8%

Organizadores contam com aumento na abstenção para conseguir fazer distanciamento adequado

Provas acontecem neste domingo e no próximo, dias 17 e 24Provas acontecem neste domingo e no próximo, dias 17 e 24 - Foto: Arquivo/Agência Brasil

A média geral de candidatos por sala de aplicação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) será menor do que na última edição. No entanto, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão responsável pela realização da prova, não garante que todos os locais foram organizados para receber menos de 50% da capacidade, como medida de prevenção contra a Covid-19.

Com 5.687.397 inscritos, o Enem será aplicado em 205 mil salas em todo o País – uma média de 27,7 candidatos por ambiente. No ano passado, com 5.095.388 participantes, a média foi de 34,5 pessoas por sala. Um recuo de 19,8%.

Apesar da redução geral, o Inep não respondeu se todas as salas foram organizadas para receber menos de 50% da capacidade, como havia divulgado que faria, nem se há um número máximo de participantes por ambiente.

Para especialistas, ainda que haja uma redução geral na ocupação das salas, a medida não é suficiente para assegurar condições sanitárias adequadas, já que não há garantia de que todos os ambientes têm dimensões suficientes para o distanciamento seguro e ventilação.

A reportagem apurou que a principal aposta do órgão para garantir distanciamento seguro nas salas é o aumento da abstenção. Os próprios integrantes do Inep e do Ministério da Educação veem como positiva a perspectiva de que muitos candidatos deixem de ir fazer a prova.

Historicamente, a taxa de abstenção do Enem é de cerca de 25%. Integrantes do ministério avaliam que esse número pode chegar a 40% nesta edição.

"Rejeitam o adiamento sob o argumento de que os candidatos serão prejudicados. Eles já foram prejudicados, muitos não vão fazer a prova por medo. Deixar o Enem acontecer dessa maneira é reforçar desigualdades", disse Maria Inês Fini, que foi presidente do Inep no governo Temer.

Para ela, ainda que a organização da prova, que será aplicada pela Cesgranrio, tenha capacidade para garantir o cumprimento dos protocolos dentro das salas, há riscos em situações anteriores à entrada dos candidatos.

Para Chico Soares, que presidiu o Inep no governo Dilma, a ausência de diálogo com os envolvidos na realização da prova (candidatos, autoridades municipais e estaduais da área da saúde e educação) aumentou a sensação de insegurança.

"Não há uma decisão fácil nessa situação, em qualquer decisão haverá perdas. Uma boa liderança teria consultado os envolvidos e verificado as condições de cada região do País, isso não pode ser ignorado nesse momento, mas nada disso foi feito.”

Nesta quinta (13), a Justiça Federal barrou a aplicação do Enem no Amazonas devido ao colapso do sistema de saúde com a explosão de infecções e mortes no estado. Apesar da situação de calamidade, o Inep recorreu da decisão e ameaçou as autoridades locais de que não permitirá que os candidatos possam fazer o exame em nova data.

"Explicamos ao Inep a situação que estamos vivendo e que todo o mundo está vendo, não podemos fazer o Enem neste momento. Sem nenhuma dúvida, prefiro salvar vidas a fazer uma prova que poderia ser adiada", disse o secretário de Educação de Manaus, Pauderney Avelino.

A realização do Enem neste domingo (17) preocupa autoridades sanitárias de todo o País. Na segunda (11), o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) enviou carta ao MEC pedindo o adiamento diante do "comportamento assimétrico e de franca expansão da pandemia no Brasil”.

"O risco não é só para os candidatos, mas para toda a sociedade. Estamos mobilizando mais cinco milhões de pessoas, que vão se locomover até os locais de prova e depois voltar para suas casas, onde moram com pais, avôs", disse Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Segundo ela, a realização do Enem pode aumentar a circulação do vírus até mesmo em cidades que não têm aplicação da prova, já que moradores dessas localidades se deslocarão para municípios maiores para fazê-la.

"O risco que corremos é de distribuirmos ainda mais a pandemia pelo Brasil com os deslocamentos que vão ocorrer. Locais que estavam com a situação mais controlada podem ter piora", disse.

Silva compara a situação às eleições de outubro. "Dias depois vimos o aumento de casos em todo o País. E naquele caso, as pessoas ficavam poucos minutos nas escolas para votar. Agora, o governo federal vai aglomerar milhões de alunos por cinco horas dentro de uma sala para fazer a prova.” Procurado, o Inep não respondeu a nenhum dos questionamentos da reportagem.

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