Medicamentos e cirurgias passam a ser recomendadas para crianças obesas a partir de 12 anos nos EUA
Academia Americana de Pediatria atualiza diretrizes pela primeira vez em 15 anos diante da explosão de casos de obesidade infantil
A Academia Americana de Pediatria (AAP) pela primeira vez em 15 anos atualizou suas recomendações sobre obesidade infantil, enfatizando a necessidade de tratamento precoce e intensivo. Segundo as novas diretrizes, as crianças a partir dos 12 anos devem ser tratadas com medicamentos e com cirurgias em casos de obesidade grave para maiores de 13 anos.
Esta é a primeira vez que a orientação do grupo estabelece as idades em que as crianças e adolescentes devem receber tratamentos médicos, como medicamentos e cirurgias, além de dieta intensiva, exercícios e outras intervenções comportamentais e de estilo de vida.
Leia também
• Quase 90% dos habitantes de província chinesa tiveram Covid-19
• Ferramenta de inteligência artificial consegue detectar 'idade do cérebro' e prever Alzheimer
• Vacinação contra a covid-19 não chegou a mais de 70% dos africanos
Esperar não funciona. O que vemos é uma continuação do ganho de peso e a probabilidade de que eles tenham (obesidade) na idade adulta, afirmou Ihuoma Eneli, membro da Academia Americana de Pediatria e co-autor da diretriz.
As novas orientações chegam no momento em que há quase 15 milhões de jovens obesos nos Estados Unidos. A doença, se não for tratada, pode levar a problemas de saúde ao longo da vida, como hipertensão, diabetes e depressão.
São considerados obesos os jovens que apresentam índice de massa corporal igual ou superior ao percentil 95 para crianças da mesma idade e sexo. As crianças que atingem ou excedem o percentil 120 são consideradas com obesidade grave. O IMC é uma medida do tamanho do corpo com base no cálculo da altura e do peso.
A obesidade afeta quase 20% das crianças e adolescentes nos EUA e cerca de 42% dos adultos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Novos medicamentos
As novas diretrizes enfatizam que a obesidade é uma condição complexa e crônica sem uma correção simples. Mudanças intensivas de comportamento e estilo de vida devem ser a abordagem de primeira linha, mas não excluem o uso de cirurgias e medicamentos. Ainda mais agora que novos tratamentos medicamentosos contra a obesidade em crianças estão surgindo.
Como é o caso do Wegovy, que foi autorizado nos Estados Unidos no final do mês passado e mais recentemente no Brasil pela Anvisa. O medicamento usa a mesma droga ativa do Ozempic e do Rybelsus e imita o funcionamento da molécula semaglutida, inicialmente liberada no país para controle do diabetes, mas que mostrou importantes resultados para perda de quilos.
Um estudo recente publicado no New England Journal of Medicine descobriu que Wegovy, fabricado pela Novo Nordisk, ajudou os adolescentes a reduzir seu IMC em cerca de 16% em média, melhor do que os resultados em adultos.
Além dele, outros três medicamentos estão aprovados nos EUA para o tratamento de obesidade em adolescentes a partir dos 12 anos — Orlistat, Saxenda, Qsymia — e um, fentermina, para adolescentes com 16 anos ou mais.
Agora temos evidências de que a terapia para obesidade é eficaz. Existe tratamento e agora é a hora de reconhecer que a obesidade é uma doença crônica e deve ser abordada da mesma forma que abordamos outras doenças crônicas, afirmou Sandra Hassink, diretora médica do AAP e uma das autoras das diretrizes.
Ela, entretanto, enfatiza que os medicamentos e a cirurgia não são tratamentos de primeira linha e devem ser considerados apenas em circunstâncias especiais, quando as mudanças no estilo de vida se mostrarem ineficazes para pacientes individuais.
Apesar dos resultados satisfatórios e das novas diretrizes, especialistas afirmam que são necessárias mais pesquisas sobre a eficácia da droga em um grupo mais diversificado de crianças e sobre os potenciais efeitos a longo prazo antes de começar a prescrevê-la regularmente.