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Médico alerta sobre contágio após flagrar infectado com varíola dos macacos em metrô de Madri

"Agora eu vou no metrô tentando me equilibrar, sem tocar em nada, e muito menos me sentar", disse Arturo Henriques

Erupções na pele causada pela varíola dos macacosErupções na pele causada pela varíola dos macacos - Foto: Reprodução

Um médico que estava no metrô de Madri, na Espanha, levou um susto ao ver um passageiro com sinais na pele tal como aparecem nos infectados por varíola dos macacos e tratou de tirar uma foto e então questioná-lo sobre a doença. Segundo seu relato, postado neste sábado no Twitter, que já soma 40 mil curtidas, o flagra ocorreu às 6h20 do último dia 15, quando o homem entrou no vagão a partir da estação de Legazpi.

"Quantas pessoas ele pode deixar doentes??? Não faço ideia", afirmou Arturo Henriques no microblog. "Agora eu vou no metrô tentando me equilibrar, sem tocar em nada, e muito menos me sentar".

Na sequência de postagens, ele disse que, a princípio, não ia postar nada sobre o caso, mas depois de refletir, achou melhor explicar a história por trás daquela imagem, registrada durante o "auge do contágio" no país.

"O homem entra no metrô. Completamente crivado de ferimentos da cabeça aos pés, incluindo as mãos. Eu vejo a situação e também vejo as pessoas ao meu redor como se nada estivesse acontecendo. Tornei-me uma KAREN, aproximei-me do homem com prudência e questionei o que ele estava fazendo no metrô se ele tinha V [varíola] dos macacos. A resposta dele: sim. Eu tenho isso, mas minha médica não me disse que eu tinha que ficar em casa. Basta usar uma máscara", contou Arturo, chocado com a reação do passageiro.

O médico então disse ter alertado o homem sobre o perigo que suas lesões pelo corpo representava aos demais. "Digo a ele que as lesões que ele tem pelo corpo são as mais contagiosas. Que eu sou médico e que possivelmente ele não entendeu todas as indicações de sua médica de família", relatou.

O passageiro, contudo, não sente qualquer necessidade por deixar o vagão. Depois que ele arruma um lugar para se sentar, o médico, ainda impressionado, pergunta para a mulher ao lado do indivíduo se ao acaso não estava preocupada em ser contagiada, ao que ela teria respondido: "como vou temer se eu não sou gay? O governo disse que eram os gays que tinham que se cuidar". "Cheguei ao meu destino e parei de discutir", concluiu o médico.

O que dizem os especialistas

Em entrevista ao GLOBO, Amílcar Tanuri coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alertou que o maior risco de contágio da varíola dos macacos é por meio da pele e das mucosas. Além disso, o tempo de transmissão também é longo, chegando a 21 dias. Antes do surto atual, sabia-se que o vírus era transmitido por contato prolongado de pele com pele, especialmente com as lesões cutâneas causadas pela doença.

"O vírus nunca foi encontrado em concentração significativa no sêmen e nos líquidos vaginais",  disse, ao ser questionado sobre a transmissão por meio do sexo. "Está claro que o vírus se espalhou com mais velocidade a partir de algumas festas gays na Europa, mas isso foi apenas como ele iniciou sua jornada pelo mundo. E essa situação não se sustenta, pois os vírus logo começam a se disseminar para a população como um todo. Então, todos precisam se precaver e o vírus tem que ser erradicado".

Outro fator de preocupação é que o grupo mais vulnerável à doença é formado por crianças e grávidas. No Brasil, os primeiros casos da varíola dos macacos em crianças foram registrados nesta semana, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Três pacientes estão "em monitoramento, sem sinais de agravamento". EUA e Holanda também já registraram a enfermidade em crianças.

Ainda em maio, conforme os casos começavam a se espalhar pela Europa, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) já denunciava comentários sobre varíola dos macacos com conotações homofóbicas e racistas que podem "minar rapidamente a luta contra a epidemia".

Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou autoridades nacionais de saúde envolviam homossexuais, bissexuais ou homens que fazem sexo com outros homens como os disseminadores da doença, a UNAIDS especificou que a doença é transmitida por contato com uma pessoa infectada e "portanto, pode afetar a todos".

"Esses estigmas e censuras minam a confiança e a capacidade de responder efetivamente uma epidemia como essa ", dissera Matthew Kavanagh, vice-diretor do UNAIDS, na ocasião.

A agência da ONU, que se vale de uma longa experiência com AIDS, acredita que esse tipo de retórica pode minar os esforços baseados em ciência e fatos para combater a doença.

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