Médicos resgatam história do HIV em campanha para combater aumento de infecções entre jovens
Sociedade Brasileira de Infectologia lança projeto com minidocumentário e peças para redes sociais usando depoimento de figuras emblemáticas da luta contra o vírus
Um grupo de médicos infectologistas lança em 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, uma campanha contra o desconhecimento do HIV voltado a pessoas mais jovens, faixa da população onde a prevalência da doença mais cresce.
Com o mote "Lembrar para jamais esquecer", a ideia é usar a história do combate ao vírus no país para sensibilizar o público.
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Com mais de 43 mil de casos por ano no Brasil, a incidência da doença retomou o crescimento pré-pandemia, e 63% dos novos diagnósticos são na população entre 20 e 39 anos, uma geração que já não possui lembrança viva do auge da pandemia de Aids nas décadas de 1980 e 1990, quando a doença matou mais pessoas.
A avaliação do grupo que encomendou a campanha, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é que o sucesso razoável do país teve no passado com educação informativa e a luta pela universalização do tratamento tiveram o contra-efeito de atenuar o receio das pessoas com o vírus. Esses avanços acabaram diluindo consciência que a sociedade possui agora sobre a ameaça que o HIV representa.
— Queremos conscientizar o grande público de que o HIV e a Aids ainda são uma condição muito prevalente e ainda é um dos mais importantes problemas de saúde global — afirma Alexandre Naime, coordenador científico da SBI. — Nosso objetivo é também divulgar as novas estratégias de tratamento e as estratégias de profilaxia, seja elas pré ou pós exposição. Enfatizamos também a importância do diagnóstico precoce, porque demora no início da terapia antirretroviral eleva muito o risco de morte.
A nova campanha foi bancada por um grupo de laboratórios farmacêuticos que inclui GSK , Johnson&Johnson, Gilead e outros. A SBI afirma que teve liberdade científica e artística para tocar o projeto, cujo custo não foi divulgado.
A campanha inclui um minidocumentário, vídeos curtos, imagens informativas e infográficos sobre o HIV para uso em redes sociais, voltado a pessoas de 13 a 29 anos.
Com intuito de impactar mais o público, a campanha inclui depoimentos de sobreviventes do primeiro grupo de infectados e figuras históricas na trajetória da epidemia no país.
Entre os narradores da campanha estão o ativista Américo Nunes, que convive com HIV desde 1988, e o médico José Valdez Madruga, que cuidou dos primeiros doentes quando o vírus começou a se espalhar no Brasil em 1982.
— Era uma época que se perdia paciente toda semana, então era muito difícil manter a estrutura emocional para atender aquela pessoa e oferecer o conforto necessário, porque a gente não tinha outra coisa para dar além de conforto emocional — conta o médico em depoimento na campanha.
Era da PrEP
No evento de lançamento do projeto em São Paulo na quarta-feira, Valdez e Naime afirmam que a ideia é conectar essa história com a trajetória de pessoas soropositivas que contraíram o HIV num outro momento do curso da epidemia, quando o tratamento eficaz já existia e estava mais disseminado.
Um outro depoimento na campanha é o de uma mulher transgênero profissional do sexo que não é soropositiva, mas fala sobre a experiência de usar a terapia pré-exposição oral para evitar contrair o vírus.
No encontro, que reuniu muitos ativistas e influenciadores ligados à causa, os médicos testemunharam uma grande demanda dessa comunidade pela aprovação de novas terapias antirretrovirais para soropositivos e opções de PReP para soronegativos.
O Sistema Único de Saúde (SUS) já disponibiliza um medicamento de prevenção para uso de curto prazo (a combinação tenofovir + entricitabina), com doses que devem ser tomadas antes ou depois de cada relação sexual. Há novas terapias no mercado, porém, que requerem injeções com intervalos bem maiores.
Um dos medicamentos, o cabotegravir, requer aplicação a cada dois meses, e outro mais novo, o lenacapavir, a cada seis meses.
Ativistas e médicos já começaram a pressionar o governo federal para integração dessas novas terapias PReP no SUS.
— A gente briga pelo acesso, mas o nosso peso não é o mesmo do da sociedade civil. O usuário tem muito mais peso — afirmou o médico Valdez.
Segundo ele, é preciso continuar os esforços de educação para o uso de preservativos, mas a adesão a esse método contraceptivo e de proteção contra infecções nem sempre é a desejada.
— Por isso é importante que a gente tenha várias ferramentas — disse, defendendo que o governo estude a incorporação do cabotegravir e do lenacapavir.