Mediterrâneo perdeu 70% de sua água há 5,5 milhões de anos
A estreita passagem marítima, que separa a Espanha do Marrocos, desempenha um papel essencial nesse ecossistema
O mar Mediterrâneo perdeu 70% de sua água há 5,5 milhões de anos, um drástico ressecamento devido a um período em que o Estreito de Gibraltar estava fechado, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (18).
A estreita passagem marítima, que separa a Espanha do Marrocos, desempenha um papel essencial nesse ecossistema.
Os rios que fornecem água doce ao Mediterrâneo são muito poucos para compensar a evaporação da água do mar. Esse desequilíbrio é contrabalançado pela troca de água entre o mar e o oceano Atlântico através do estreito. Na superfície, a água do Atlântico entra no Mediterrâneo e, em profundidade, a água do Mediterrâneo - mais salgada - sai.
Se essa passagem fosse bloqueada, isso significaria uma queda no nível do mar de “cerca de 0,5 metro por ano”, afirmam os autores do estudo publicado na Nature Communications.
E foi isso que aconteceu entre 5,97 e 5,33 milhões de anos atrás, no final do Mioceno.
Leia também
• Vítimas de enchentes na Espanha podem ter parado no Mar Mediterrâneo
• Fortes tempestades no Mediterrâneo espanhol deixam nove feridos em veleiro
• Mar Mediterrâneo iguala recorde de calor registrado em 2023
O fechamento do estreito, principalmente devido aos movimentos das placas tectônicas, limitou a troca de água entre o Mediterrâneo e o Atlântico, levando a uma concentração de sais no mar.
Esse episódio, chamado de “crise do sal messiânico” em referência à cidade italiana de Messina, deixou traços visíveis: o fundo do Mediterrâneo está coberto por uma camada de sais que, em alguns setores, pode atingir de 2 a 3 quilômetros de espessura e um total de um milhão de quilômetros cúbicos, disse à AFP Giovanni Aloisi, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e geoquímico do Instituto de Física do Globo em Paris.
Mas a extensão da queda no nível do mar durante esse período era até agora uma questão de debate. “Algumas hipóteses sugeriam que o nível do Mediterrâneo quase não havia caído, outras que o mar havia quase se esvaziado”, diz Aloisi, que liderou o estudo.
A análise dos isótopos de cloro contidos nos sais extraídos do fundo do Mediterrâneo mostra que esse episódio ocorreu em duas etapas.
Na primeira fase, há cerca de 35.000 anos, o Mediterrâneo estava “cheio de água, como está agora”, mas a retração do Estreito de Gibraltar “complicou a saída de água salgada para o Atlântico”, causando um acúmulo de sais na parte oriental e tornando o mar salobre, diz o pesquisador.
A segunda fase foi muito mais curta, durando cerca de 10.000 anos. O estreito “fechou completamente”, deixando o Mediterrâneo “separado” do Atlântico e interrompendo a troca de água com o oceano, acrescenta ele. Os sais se acumularam por toda parte e o mar secou.