Medo do Hezbollah assombra deslocados israelenses na fronteira com o Líbano
População teme invasão do movimento islamista libanês e sequestro de pessoas
Chen Amit não quer voltar a seu kibutz, na fronteira com o Líbano, diante do medo de que combatentes do movimento islamista libanês Hezbollah invadam Israel e sequestrem pessoas, como fez o grupo palestino Hamas em 7 de outubro no sul do país.
Os militantes do partido xiita libanês “estão treinados e têm planos” para ataques similares contra o norte do país, afirma o treinador esportivo de 38 anos, convencido.
Amit deixou o kibutz de Dafna depois de 7 de outubro, dia em que homens do Hamas lançaram um inédito ataque contra Israel, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria deles civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados israelenses.
Junto a outros grupos armados, também capturaram cerca de 250 pessoas e as levaram para a Faixa de Gaza. Por volta de 100 foram liberados durante uma trégua no fim de novembro.
Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que já causou mais de 22.000 mortes no estreito território palestino, em sua maioria de mulheres e menores, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas desde 2007.
“Ação militar”
Mas o conflito também multiplicou as tensões no que os israelenses chamam de “front norte” com o Líbano. Desde o começo da guerra, as trocas de disparos entre o exército israelense e os combatentes do Hezbollah, aliado do Hamas, são quase diárias.
As autoridades israelenses evacuaram dezenas de milhares de pessoas da área. Entre eles, Amit e seus vizinhos de Dafna, que aguardam no povoado de HaOn, localizado na margem sudeste do lago Tiberias, a cerca de 60 km de seu kibutz.
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O temor de Amit não para de aumentar desde terça-feira, quando um bombardeio atribuído a Israel matou o número dois do Hamas, Saleh Al Aruri, no sul de Beirute.
“Sabemos que haverá atos” de represália por parte do Hezbollah, diz. O movimento libanês “é mais forte que o Hamas”, continua. Por isso, insiste, “é necessário que haja uma ação militar” para detê-lo.
Dafna Lior Blum, um professor de inglês de 45 anos, também não se imagina retornando. “A não ser que o problema com o Hezbollah seja resolvido a nosso favor”, explica ele, que foi evacuado junto com sua esposa e três filhos.
“Se não houver mais forças do Hezbollah” ao longo da fronteira “não haverá mais ameaça direta para nós”, afirma, às margens do lago.
“O que aconteceu no sul em 7 de outubro nos fez entender que não podemos viver o mesmo aqui, no norte”, ressalta.
“Parte de nós”
A AFP visitou o kibutz fundado em 1939 sob supervisão do exército israelense.
Não há ninguém nas ruas há quase três meses, apenas alguns gatos que passeiam de vez em quando e soldados que patrulham a área.
O porta-voz de Dafna, Arik Yaacovi, diz que a única condição para que os habitantes voltem é que “a situação seja segura”.
“Sim, temos medo”, admite Etsy Rave, de 76 anos, junto com seu marido Uzi, de 81, no povoado de HaOn. Os dois são filhos de fundadores de Dafna. “O kibutz é uma parte de nós”, declara Etsy.