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Medo e escassez na capital de Moçambique em plena crise política

As pessoas estão saindo timidamente de suas casas em busca de necessidades básicas

Motoristas se juntam em longas filas em um posto de gasolina em Maputo em 27 de dezembro de 2024.Motoristas se juntam em longas filas em um posto de gasolina em Maputo em 27 de dezembro de 2024. - Foto: Amilton Neves / AFP

Um clima de medo se instalou na capital de Moçambique, onde fugas em massa de prisões, rumores desenfreados e escassez de alimentos se misturam a saques e vandalismo provocados pelo anúncio da vitória eleitoral do partido governista.

Após a fuga espetacular de mais de 1.000 prisioneiros de uma prisão de segurança máxima na quarta-feira, muitos moradores foram acordados no meio da noite por vizinhos ou ruídos na rua, e foram formadas patrulhas de bairro.

“Meu vizinho me acordou e me disse que homens armados com facões estavam andando por aí”, disse à AFP Maria Amelia, uma dona de casa de 55 anos que mora em Matola, uma cidade próxima a Maputo.

“Quando saí, vi meus vizinhos armados com facas para se defender, mas ninguém mais. Fiquei apavorada”, acrescenta.

Armand Tembe, 40 anos, que trabalha em um banco, também foi arrastado de sua cama antes do amanhecer. “Não vi nenhum criminoso do lado de fora. Mas está começando a ficar assustador”, diz ele, perplexo.

“Ficamos acordados até as 04h30 da manhã e patrulhamos por algo que só ouvimos falar e ninguém viu”, confessa outra mulher que prefere permanecer anônima. “São apenas rumores. Parece um plano macabro”, ela enfatiza.

Até o momento, “não há relatos verificados de tais ataques”, resume o pesquisador moçambicano Borges Nhamirre, baseado em Pretória.

Mas o fato de o chefe de polícia ter dito à imprensa na noite de quarta-feira “que os prisioneiros poderiam ‘visitar’ as casas gera preocupação”, diz ele.

“O sentimento predominante nas conversações sugere que o governo pode ter inventado esta crise para controlar a agitação social em curso”, acrescenta.

Resultados manipulados 
Nas ruas de Maputo, as barricadas estão sendo lentamente desmontadas e o Exército libera algumas das estradas.

As pessoas estão saindo timidamente de suas casas em busca de necessidades básicas.

"Estou à procura de pão, passam mais de 4 dias, que as padarias não abrem. As duas padarias existentes aqui na zona, estão fechadas. Na verdade, está a faltar um pouco te tudo, mesmo as mercearias estão fechadas, estamos com falta de outros produtos. explica Isabel Rocha, de 29 anos, do bairro de Laulane, depois de uma noite sem dormir devido a rumores de insegurança.

Lina Chauque, 47 anos, está sentada na calçada com um grande pacote de salada e repolho. Junto com várias outras mulheres, ela está esperando há duas horas por um ônibus para vender seus produtos no mercado.

"Tentamos pedir ajuda a alguns caminhões que passam por aqui, mas os motoristas não não aceitam nos levar", lamenta.

Um pouco mais adiante, os carros fazem fila em frente a um posto de gasolina. Apenas uma bomba está funcionando.

“Estou procurando remédios para mim e para minha mãe”, explica Tomas Panguene, de 65 anos, que sofre de dor no joelho. “Ontem tentei encontrar uma farmácia, mas as ruas estavam bloqueadas”, diz ele.

O principal líder da oposição, Venancio Mondlane, continua a denunciar a manipulação dos resultados das eleições de 9 de outubro.

Os distúrbios ocorridos desde a confirmação, na segunda-feira, pela mais alta corte do país, de uma vitória esmagadora da Frelimo, no poder há meio século, deixaram mais de 125 pessoas mortas, de acordo com a ONG local Plataforma Decide.

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