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Melatonina: uso da substância em gominhos pode trazer risco para crianças, diz novo estudo

Pesquisa mostra que quantidade real de melatonina em gomas difere das descritas nos rótulos, o que possibilita overdose do hormônio

Foto: Pexels

Um estudo publicado na revista científica Jama Network comparou a quantidade de melatonina descrita na embalagem com a realmente encontrada em gomas vendidas em farmácias norte-americanas. Os resultados apontam que 88% dos produtos foram rotulados incorretamente, o que acende um alerta para os riscos da superdosagens do hormônio, principalmente em crianças. Normalmente, os pais dão melatonina em goma para seus filhos.

Os pesquisadores da Cambridge Health Alliance e da Universidade do Mississippi descobriram que dos 25 produtos analisados, 22 tinham uma rotulagem inadequada, com a quantidade real do hormônio variando de 74% a 347% da concentração indicada no rótulo. Isso significa que alguns produtos tinham quase quatro vezes mais melatonina do que o informado, o que pode ser um perigo.

Este mesmo estudo traz um dado do Centro de Controle de Intoxicações dos EUA que aponta que, de 2012 a 2021, o número anual de intoxicações entre crianças no país aumentou 530%, e a melatonina se tornou a substância ingerida de forma acidental com mais frequência entre crianças em 2020. Mais de 4 mil internações ocorreram, sendo que 287 pacientes pediátricos necessitaram de cuidados intensivos e duas crianças morreram.

Em setembro do ano passado, a Academia Americana do Sono recomendou que pais procurem um médico antes de dar melatonina aos filhos por conta do risco.

Com a liberação do uso de melatonina no Brasil como suplemento alimentar, as crianças daqui também estão correndo risco de intoxicação, tanto pelo consumo acidental — o formato de gomas lembram doces, o que pode chamar a atenção dos pequenos —, quanto pelo uso sem orientação médica.

Para Gleison Marinho Guimarães, especialista em medicina do sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), a administração de apenas 0,1 mg a 0,3 mg de melatonina a adultos jovens pode aumentar as concentrações do hormônio no sangue.

— Já para as crianças, consumir gomas de melatonina encontradas facilmente nas gôndolas de farmácias pode expor os pequenos à quantidades entre 40 e 130 vezes maiores do que as sugeridas. Por isso, é preciso informar aos pais que o uso pediátrico de gomas de melatonina pode resultar na ingestão de quantidades imprevisíveis. O produto pode trazer malefícios, como sonolência durante o dia, déficit de atenção e concentração, além de ajudar na desregulação do relógio biológico, se ingerido em horários desordenados — alerta o médico.

Uma publicação do Boston Children's Hospital sobre o uso do hormônio em crianças informa que "existem preocupações contínuas com base em estudos em animais que mostram que a melatonina pode afetar os hormônios relacionados à puberdade. Embora haja muito pouca evidência para sugerir que isso seja verdade em humanos", estudos de longo prazo que comprovem ou refutem esta hipótese ainda não foram realizados.

O que é a melatonina
A melatonina é um hormônio produzido pelo corpo quando nosso organismo percebe que está de noite. Ela é uma das responsáveis por preparar o corpo para o sono: induz todas as modificações necessárias para o repouso, como sono, jejum e redução da atividade cardiovascular, da pressão, da frequência cardíaca, temperatura corporal, além de alterar a produção de glicose e insulina do corpo.

Consumir a melatonina como forma de suplemento pode sim ajudar a dormir. No entanto, ele normalmente funciona para pessoas que estão com deficiência no hormônio.

Em outubro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a melatonina na forma de suplemento alimentar. Por isso, o produto pode ser vendido em farmácias em a necessidade de prescrição médica. O suplemento foi liberado para pessoas a partir de 19 anos, com consumo de até 0,21 mg por dia.

 

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