Imigração ilegal

Meloni e Sunak dizem que imigração ilegal é "crise moral" na Europa, que vive encruzilhada com tema

Primeiros-ministros publicaram artigo conjunto em que condenam grupos criminosos que traficam pessoas e defenderam ação conjunta para conter fluxo para o continente

Rishi Sunak e Giorgia Meloni publicaram artigo conjunto em jornais italiano e britânico sobre imigração Rishi Sunak e Giorgia Meloni publicaram artigo conjunto em jornais italiano e britânico sobre imigração  - Foto: Reprodução/Twitter/Giorgia Meloni

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o premier do Reino Unido, Rishi Sunak, classificaram a imigração ilegal na Europa como uma "crise moral" e prometeram esforços conjuntos para coibir a ação de contrabandistas e traficantes de pessoas que dominam rotas de travessia irregular para o continente — em um momento em que o tema ganha espaço nas agendas internas de países europeus, inflamado sobretudo por correntes conservadoras e de extrema direita que usam a crise humanitária para alimentar discursos nacionalistas.

Em um artigo escrito a quatro mãos, publicado simultaneamente pelos jornais Corrieri della Sera (Itália) e The Times (Reino Unido) nesta sexta-feira, Meloni e Sunak argumentaram que as travessias do Mediterrâneo e do Canal da Mancha já provocaram mais de 2 mil mortes neste ano, alimentando grupos criminosos que exploram e lucram com a miséria de pessoas vulneráveis.

"Como disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em visita a Lampedusa no mês passado, cabe aos Estados-nação decidirem quem vem para a Europa, e não aos contrabandistas e traficantes", escreveram os líderes europeus. "Concordamos e é hora de agir. Só travando o fluxo de migrantes ilegais poderemos restaurar a confiança dos povos britânico e italiano, não apenas nas nossas fronteiras internas, mas na cooperação europeia e internacional".

O artigo foi publicado um dia após um encontro convocado "à forceps" pelo premiês conservadores à margem da reunião da Comunidade Política Europeia em Granada, na Espanha. Embora Roma já tivesse conseguido costurar, na quarta-feira, a aprovação de um acordo histórico para avançar com uma reforma do Pacto de Migração e Asilo, paralisado há três anos, que visa estabelecer mecanismo de solidariedade obrigatória entre os Estados-membros, caso algum deles enfrente a chegada em massa de migrantes às suas fronteiras, Meloni não conseguiu persuadir a organização espanhola a colocar a imigração na pauta do debate geral no dia seguinte.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, foi então que Meloni entrou em contato com Sunak, e juntos convocaram uma "mini-cúpula" em paralelo ao plenário aberto aos 27 Estados da UE, reunindo figuras do primeiro escalão da política mundial, como o presidente da França, Emmanuel Macron, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e os chefes de governo da Albânia e da Holanda — o que enfureceu outros representantes europeus reunidos em Granada.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, teria se indignado com a reunião não-oficial, que teria ofuscado o debate formal, e cancelou uma coletiva de imprensa coletiva que daria junto com Sunak na quinta-feira, segundo noticiou a agência de notícias Bloomberg. O chanceler alemão, Olaf Scholz, também não compareceu ao encontro.

Ao fim da reunião mais restrita, os participantes emitiram uma declaração conjunta, na qual dizem ter concordado em pôr em prática um plano de oito pontos para abordar os níveis crescentes de migração ilegal para a Europa continental, incluindo "medidas robustas" para combater o contrabando de migrantes,"ações conjuntas" para acabar com as cadeias de abastecimento de gangues organizadas e atualização da "estrutura jurídica" para reforçar a luta contra os traficantes de pessoas.

Crise na direita
Sunak, um descendente de imigrantes indianos conservador, e Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália, transformaram a luta contra a imigração ilegal uma das prioridades de seus respectivos governos. Ambos enrijeceram políticas internas sobre o tema, na tentativa de diminuir o fluxo de pessoas em seus litorais, atraindo a crítica de organizações não-governamentais e de escritórios das Nações Unidas.

Mas não foram apenas organizações progressistas e globalistas que se desagradaram com o endurecimento britânico e italiano sobre o tema da imigração. As soluções propostas por Londres e Roma, principalmente o rumo indicado no acordo aprovado na quarta-feira que prevê a distribuição dos migrantes ilegais em países distantes da linha-de-frente, desagradou governos de extrema direita em outras partes da Europa.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que há muito utiliza a imigração como uma ferramenta política para estimular o apoio ao seu governo populista e para extrair concessões da UE, comparou o acordo a uma agressão sexual.

— Se violam você legalmente, forçam você a aceitar algo de que não gosta, como é possível chegar a um compromisso, a um acordo? É impossível — disse Orbán.

Outro líder da extrema direita europeia que manifestou contragosto com a decisão do bloco em redistribuir os migrantes ilegais foi o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, afirmando "não ter medo" dos ditos que saem de Bruxelas e de Berlim.

Embora os chanceleres tenham chegado a um acordo para progredir com as negociações, o texto ainda será levado ao Parlamento Europeu. A aprovação da proposta a ser levada a discussão ocorreu por maioria qualificada — além das negativas de Budapeste e Varsóvia, abstiveram-se Áustria, Eslováquia e República Tcheca, que na terça-feira anunciaram uma iniciativa conjunta para controle de fronteiras para conter o fluxo de migrantes em situação clandestina procedentes da Sérvia. A maioria de origem síria.

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