Merkel cria diálogo imaginário com coronavírus para defender novo bloqueio
Em discurso no Parlamento, chanceler alemã diz que humanidade pode mostrar ao patógeno que ele escolheu o hospedeiro errado
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, recorreu a um diálogo imaginário com o coronavírus para defender no Parlamento o que ela chamou de "bloqueio suave": novas restrições que serão impostas a partir de segunda (2).
Em discurso aos deputados nesta quinta, Merkel respondeu à suposta frase do patógeno criada por uma popular youtuber alemã, a química e jornalista Mai Thi Nguyen-Kim, cujo canal de divulgação científica MaiLab tem quase 1,1 milhão de seguidores.
Se pudesse pensar, segundo a youtuber, o novo coronavírus diria: "Eu tenho o hospedeiro perfeito aqui. Essas pessoas, que vivem em todo o planeta, são globalmente fortes, fortemente conectadas, são criaturas sociais, então não podem viver sem contatos sociais, são hedonistas, gostam de festa, então não poderia ser melhor".
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"Que nada, vírus! Você não aprendeu nada com a evolução?", respondeu a chanceler alemã. "Nós, humanos, já mostramos várias vezes que somos muito bons em nos adaptar a situações difíceis. Mostraremos que você escolheu o hospedeiro errado."
O clima da sessão no Parlamento, no entanto, esteve longe de ser descontraído. Merkel foi interrompida várias vezes por gritos de deputados, principalmente do partido de direita radical AfD (Alternativa para a Alemanha), irritados com as novas restrições impostas para conter a transmissão da Covid-19.
Durante o mês de novembro, bares e restaurantes só poderão fazer entregas, e espaços culturais e academias de ginástica ficarão fechadas. Hotéis não foram fechados, mas aconselhados a reduzir a ocupação, e viagens desnecessárias devem ser evitadas. Reuniões foram limitadas a duas famílias e no máximo dez pessoas.
"As medidas que temos que tomar agora são adequadas, necessárias e proporcionais", defendeu Merkel, que prometeu reavaliar as restrições em 15 dias e relaxá-las se a transmissão de coronavírus tiver caído.
Embora a Alemanha tenha um dos menores índices tanto de casos quanto de mortes na Europa e uma das mais bem preparadas estruturas de saúde, o governo disse que a explosão de novos casos confirmados tornou inviável rastrear e isolar quem entrou em contato com alguém infectado.
As equipes não estavam conseguindo localizar a origem de 75% das infecções, de acordo com a chanceler alemã, e os trabalhos de rastreamento foram paralisados em várias regiões do país.
Sem esse sistema de vigilância, argumenta Merkel, a pandemia sai de controle e antes do final do ano os hospitais entram em colapso, o que tornou imprescindível o atual "freio de segurança". Parlamentares, no entanto, afirmaram que o governo passou por cima do Legislativo e ameaçou a democracia. O governo também entrou na mira de donos de restaurantes, bares e empresas da área de lazer, que tiveram gastos para aumentar a segurança de seus estabelecimentos contra o contágio da Covid-19.
Apesar do anúncio de que haverá apoio do governo a empresas e trabalhadores afetados pelo novo bloqueio, os empresários temem que essa segunda paralisação acabe sendo fatal para seus negócios.
Merkel, que em várias oportunidades tem se mostrado preocupada em reduzir a pressão da pandemia antes que cheguem as festas de fim de ano, encerrou seu discurso no parlamento dizendo que o inverno será difícil: "Quatro longos meses. Mas isso vai acabar".