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DECLARAÇÃO

México atribui invasão de embaixada a ''governo fraco'' e critica líder do Equador: ''Inexperiente''

Em coletiva, López Obrador acusou Daniel Noboa de ser 'mal assessorado'; chanceler mexicana reforçou que país acionará a Corte Internacional de Justiça para avaliar o caso

O presidente do México, Andrés Manuel López-ObradorO presidente do México, Andrés Manuel López-Obrador - Foto: Nicholas Kamm/AFP

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, atribuiu, nesta segunda-feira (8), a invasão à embaixada de seu país em Quito, no Equador, a uma combinação de inexperiência, má assessoria e busca de apoio interno por parte do governo equatoriano, liderado por Daniel Noboa, de 36 anos.

López Obrador, que rompeu relações com Quito após a operação policial para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, disse, nesta segunda-feira, que foi uma ação "verdadeiramente autoritária" e "prepotente" por parte de Noboa.

— Quando há governos fracos, que não têm respaldo popular ou capacidade [...] candidatos são fabricados [...] e quem não tem experiência chega ao poder — sustentou López Obrador.

Mas "a política é um ofício nobre", e quando se carece de experiência ou de apoio popular, "deve-se agir com prudência, equilibrar paixão com razão", porque, de outra maneira, chegam os assessores que só zelam por seus "interesses", acrescentou o líder mexicano.

O presidente mexicano realizou sua coletiva de imprensa matinal habitual em Mazatlán, no nordeste do país, para onde viajou para observar o eclipse solar.

— Quem tomou essa decisão não sabe ou tem maus instintos, ou simplesmente está mal-aconselhado porque sempre há bajuladorDes que metem o nariz — ressaltou o governante mexicano. — Nem o temível [ditador chileno Augusto] Pinochet, nem outros se atreveram a isso.

O México, que por um século recebeu perseguidos políticos de diferentes países, só havia rompido relações com a Espanha de Francisco Franco, o Chile de Pinochet e a Nicarágua de Anastasio Somoza.

López Obrador também vinculou a incursão policial a uma disputa interna entre diversos setores políticos do Equador e o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), exilado na Bélgica após ser condenado em seu país por corrupção.

Glas já cumpriu pena pelo escândalo de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht e, em dezembro de 2023, buscou refúgio na embaixada mexicana em Quito para evitar um mandado de prisão por outro caso, no qual é acusado de peculato.

— Há um confronto interno e isso os leva a tomar uma medida deste tipo, mas sem dimensionar a repercussão para o seu povo, o Equador e os países do mundo — opinou.

Nesta mesma entrevista coletiva, a chanceler Alicia Bárcena assinalou que o México está preparando os últimos detalhes da denúncia que será apresentada perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), órgão máximo jurisdicional das Nações Unidas, contra o Equador por desrespeitar as convenções internacionais sobre o asilo político e a inviolabilidade das embaixadas.

No domingo, ao receber o pessoal diplomático que retornou de Quito, Bárcena disse que o México apresentaria essa ação judicial no tribunal de Haia nesta segunda.

— A partir de amanhã, estamos indo à CIJ onde estamos apresentando esse triste caso — disse Bárcena na ocasião, acrescentando que o objetivo do México é que a CIJ "ordene ao Estado do Equador que repare o dano". — Acreditamos que podemos vencer esse caso rapidamente.

O México fechou indefinidamente sua embaixada e estabeleceu uma plataforma eletrônica para atender aos cerca de 1,6 mil mexicanos e 30 empresas presentes no Equador.

Bárcena também disse que eles estabeleceram uma "pausa" nas conversas sobre comércio internacional. O México e o Equador negociavam um tratado de livre comércio como condição para que o país sul-americano possa ingressar na Aliança do Pacífico, bloco formado também por Colômbia, Chile e Peru, e assim ter acesso ao mercado asiático. No entanto, Quito mantém negociações diretas com a China e outros países do continente.

Tensões
A crise diplomática começou na quarta-feira passada, quando López Obrador estabeleceu um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, e a criminalidade que ocorre no México em relação às eleições de 2 de junho.

Segundo o presidente mexicano, o crime de Villavicencio criou um "ambiente de violência" que fez a candidata de esquerda Luisa González cair nas pesquisas e o Noboa crescer, resultando em sua vitória. Quito declarou na quinta-feira a embaixadora mexicana como pessoa "non grata", e López Obrador respondeu na sexta-feira concedendo asilo a Glas.

Noboa classificou essa proteção como um "ato ilícito" e defendeu a operação, alegando um "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à missão diplomática.

Depois da incursão: Equador transfere ex-vice-presidente para segurança máxima em meio à indignação internacional por invasão de embaixada

Na teoria, Glas não poderia ser preso em uma embaixada estrangeira, porque o local está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais. Segundo a chanceler mexicana, a diligência equatoriana feriu a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.

A convenção, que data de 18 de abril de 1961, estabelece em seu artigo 22 que as sedes diplomáticas são invioláveis e que os agentes responsáveis pela aplicação da lei, onde quer que estejam localizados, não podem entrar nelas sem consentimento do chefe da missão. Além disso, o texto diz que "o Estado receptor tem a obrigação especial de tomar todas as medidas apropriadas para proteger as instalações da missão contra qualquer intrusão ou dano e para evitar que a tranquilidade da missão seja perturbada ou a sua dignidade seja violada".

"As instalações da missão, o seu mobiliário e demais bens situados no local, bem como os meios de transporte da missão, não podem ser objeto de qualquer busca, requisição, apreensão ou medida de coação", reforça o documento.

O repúdio regional ao ataque foi quase unânime. A Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o colombiano, Gustavo Petro, o chileno, Gabriel Boric, e até mesmo o argentino, Javier Milei, que teve discussões acaloradas com López Obrador, ficaram do lado do México e denunciaram a flagrante violação do direito internacional pelo Equador. Bolívia e Nicarágua também romperam relações com o país.

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