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Michael Cohen: Defesa de Trump tenta minar testemunho de ex-advogado em caso sobre suborno

Balões em formato de pênis contendo os rostos de juízes e promotores de casos criminais do ex-presidente foram soltos, e deputados republicanos foram ao tribunal prestar apoio ao magnata

O ex-advogado de Trump Michael Cohen deixa o escritório do promotor distrital de Manhattan após completar depoimento ao grande júri. O ex-advogado de Trump Michael Cohen deixa o escritório do promotor distrital de Manhattan após completar depoimento ao grande júri.  - Foto: Yuki Iwamura, Curtis Means / POOL /AFP

A defesa de Donald Trump espera desferir nesta quinta-feira um golpe definitivo na credibilidade de Michael Cohen, ex-advogado do republicano e testemunha-chave do julgamento criminal do ex-presidente, acusado de comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem teria tido um caso extraconjugal, na reta das eleições de 2016, da qual saiu vitorioso. Assim como na terça, deputados republicanos compareceram do lado de fora para prestar apoio a Trump, enquanto balões com gás hélio em formato de pênis — alguns com os rostos do juiz do caso, Juan Merchan, e o promotor Alvim Braga — foram soltos nas ruas de Manhattan.

De volta a um tribunal de Nova York, a defesa de Trump tentou impedir que os jurados acreditassem na versão de que Cohen violou a lei a mando do magnata, buscando retratá-lo como um ex-funcionário descontente em busca de vingança. O ex-aliado do magnata deve ser a última testemunha da monitoria. Todd Blanche, advogado do republicano, continuou nesta quinta com o interrogatório de Cohen, de 57 anos. Depois de um início agressivo, sua linha de questionamento pareceu entediar alguns jurados, que não conseguiram conter os bocejos ao final da sessão de terça-feira. Blanche novamente parecia ter dificuldade em encontrar uma linha de interrogatório contundente, esmagado pelas constantes objeções do promotor.

O ex-advogado, durante seus últimos depoimentos ao tribunal, admitiu ter mentido e intimidado outras pessoas pelo republicano, ter sido instruído diretamente por Trump a "cuidar" da questão de Daniels, que depôs na semana passada, e outros casos de "pegar e matar", e que contava com a proteção do então chefe para não ser investigado.

Blanche questionou Cohen sobre suas declarações, que ele fez às vezes com ar de entusiasmo, contra Trump: em uma delas, o ex-aliado teria dito querer ver Trump atrás das grades, enquanto em outra, dada durante um episódio do seu podcast, chamado "Mea Culpa", disse ter desejado que o magnata "fosse preso e apodrecesse por dentro pelo que fez" a ele e sua família. O advogado de Trump também questionou o ex-advogado sobre sua confissão de culpa em 2018 às acusações federais.

Na época, quando precisou começar a dar explicações, depois que o grupo Common Cause, que monitora contas de campanha, fez uma denúncia à Comissão Eleitoral Federal, Cohen defendeu o ex-chefe e afirmou que havia feito o pagamento por conta própria, chegando a mentir até ao Congresso. A acusação era de que o suborno para comprar o silêncio de Stormy Daniels supostamente violava as normas de financiamento de campanha (durante a campanha de Trump, em 2016).

A defesa de Trump também tentou retratá-lo como um mentiroso e, pouco antes do intervalo para o almoço, sugeriu que ele havia inventado parte do seu depoimento. Blanche tentou pressionar também o ex-advogado para que afirmasse que uma chamada telefônica, sobre a qual ele havia testemunhado, era, na verdade, uma série de ligações de um adolescente.

Cohen afirma que uma ligação feita em 2016 ao ex-guarda-costas de Trump Keith Schiller era para falar com o magnata sobre o caso de Daniels e não totalmente para mencionar um assédio que vinha sofrendo, como questionou Blanche. Segundo a CNN, esperava-se que a defesa contestasse a memória do ex-aliado de Trump sobre o telefonema, em um esforço para minar sua credibilidade.

Cohen, conhecido por ter um temperamento explosivo que poderia prejudicá-lo no depoimento – seu testemunho durante o caso de fraude civil de Trump no ano passado foi caótico –, tem sido contido até o momento ao responder às perguntas da defesa de Trump. Seu relato se alinhou em geral com o de duas outras testemunhas importantes: Daniels, que afirma ter recebido o dinheiro, e David Pecker, ex-editor de imprensa que disse ter trabalhado com Trump e Cohen para suprimir a cobertura negativa durante a primeira campanha do republicano e comprar o silêncio de outros denunciantes.

Trump, o primeiro ex-presidente dos EUA a ser processado na justiça criminal, reclama de que sua atual campanha para tentar retornar à Casa Branca está sendo prejudicada pelo julgamento. O republicano tenta politizar cada vez mais o caso, que classifica como “interferência eleitoral” e “caça às bruxas". O ex-presidente também tem atraído políticos republicanos à frente do tribunal: nesta quinta-feira, alguns deputados marcaram presença do lado de fora do edifício, como os deputados Matt Gaetz e a Anna Paulina Luna, da Flórida.

Na terça, o presidente da CâmaraTrump recebeu apoio no tribunal do presidente da Câmara, Mike Johnson, e de seu antigo rival pela indicação republicana e possível candidato a vice-presidente, Vivek Ramaswamy.

— Estamos aqui por nossa própria vontade, porque há coisas que podemos dizer que o presidente Trump está injustamente proibido de dizer — afirmou Gaetz, em uma referência à ordem de silêncio que Trump violou ao menos dez vezes e recebeu uma multa de US$ 9 mil (cerca de R$ 46 mil na cotação atual).

Repórteres da CNN presente no tribunal também relataram balões em formato de pênis do lado de fora do tribunal. Segundo um vídeo na internet, os balões com gás hélio saíram voando de um caminhão. Alguns deles continham o rosto do juiz Juan Merchan, do promotor Alvin Bragg, bem como do promotor especial do Departamento de Justiça Jack Smith, encarregado de dois dos outros três casos criminais que o republicano enfrenta: a investigação e acusação contra o ex-presidente por conspirar contra os EUA ao tentar reverter o resultado das eleições americanas em 2020 e o caso que investiga a apropriação de documentos confidenciais do governo após o magnata deixar a Casa Branca.

O ex-presidente e atual candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, é acusado de 34 crimes de falsificação de registros contábeis para disfarçar e fazer passar como despesas legais o pagamento de 130 mil dólares (R$ 668 mil na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels na reta final das eleições de 2016, nas quais derrotou Hillary Clinton.

Trump vai depor?

A defesa tem sido ambígua sobre a possibilidade de Trump depor. O empresário é famoso por se considerar seu melhor defensor, mas analistas acreditam que um testemunho pode ser negativo. Quando a deliberação começar, semanas de depoimentos muitas vezes obscenos poderão permanecer nas mentes dos jurados, mas eles também terão pilhas de documentos para examinar.

Os personagens tornam o caso complexo, mas o júri terá de decidir por unanimidade se o magnata ordenou a falsificação de documentos e se o fez com a intenção de influenciar a votação presidencial de 2016. Os promotores detalharam meticulosamente nesta semana os supostos crimes, detalhando a Cohen e ao júri a emissão de 11 cheques — a maioria assinada por Trump — em troca de faturas que o ex-advogado do republicano disse terem sido falsificadas para ocultar o reembolso do dinheiro pago secretamente a Daniels.

Cohen disse que fez os pagamentos "para garantir que a história não viria à tona, não afetaria as chances de Trump de se tornar presidente dos Estados Unidos" e o fez "em nome de Trump".

O ex-advogado de Trump passou 13 meses na prisão e mais um ano e meio em prisão domiciliar depois de se declarar culpado em 2018 por mentir ao Congresso e cometer crimes financeiros e eleitorais neste caso. Durante o interrogatório, Cohen disse que Trump o tranquilizou depois que agentes do FBI invadiram seu quarto de hotel e seu escritório em abril de 2018 em busca de provas. “Não se preocupe, tudo vai ficar bem, eu sou o presidente dos Estados Unidos”, teria dito Trump.

— Fiquei calmo porque tinha o presidente dos Estados Unidos me protegendo —acrescentou Cohen. 

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