Microplásticos são encontrados no cérebro de pessoas que moraram em São Paulo, aponta estudo
Pesquisa revela a presença do material nos bulbos olfativos de adultos e fetos
Pesquisadores da Universität Berlin, na Alemanha, liderados por um cientista brasileiro, descobriram microplásticos nos cérebros de brasileiros. Os materiais foram encontrados nos bulbos olfativos de 15 adultos que residiram em São Paulo por mais de cinco anos.
O estudo, conduzido pelo cientista Luís Fernando Amato Lourenço, revelou a presença de 16 partículas e fibras de polímeros sintéticos. Dentre elas, 75% eram partículas e 25% eram fibras. A maioria dos microplásticos encontrados eram fragmentos de materiais comuns em roupas e embalagens, como polipropileno e nylon.
De acordo com a pesquisa, as descobertas sugerem que a via olfativa é uma potencial porta de entrada para microplásticos no cérebro. "Este é o primeiro estudo a detectar e caracterizar microplásticos no cérebro humano, especificamente dentro dos bulbos olfativos", diz Amato Lourenço.
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A descoberta feita pelo cientista brasileiro marca um feito inédito: enquanto microplásticos já haviam sido detectados em órgãos como pulmões, intestinos e no sangue, sua presença no cérebro nunca havia sido registrada antes. Embora já tenha havido detecções de microplásticos em cérebros, esses estudos ainda estão em fase de revisão por pares para publicação em uma revista científica do grupo Nature.
Pesquisas recentes indicam que a presença de microplásticos no corpo humano está associada a um aumento no risco de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e até mesmo morte.
No crânio humano, o bulbo olfativo está posicionado à frente do restante do cérebro. É uma pequena massa de tecido localizada dentro do nariz, separada da cavidade nasal por uma fina camada óssea. Essa camada de osso é perfurada, permitindo a detecção de cheiros. Neurocientistas já concluíram que essa estrutura óssea olfativa pode ser uma via de entrada para substâncias externas no cérebro humano.
Segundo os cientistas, a barreira provavelmente impede que a maioria dos microplásticos alcance o cérebro. Apesar disso, o material pode se degradar em nanoplástico, com tamanho pelo menos 80 vezes menor que um fio de cabelo humano.
No estudo conduzido por Amato-Lourenço e sua equipe, os pesquisadores examinaram tecidos dos bulbos olfativos de indivíduos falecidos durante autópsias de rotina realizadas por legistas. As idades dos indivíduos variavam de 33 a 100 anos, com doze sendo homens. Para comparar, foram também coletadas amostras dos bulbos olfativos de dois fetos natimortos com 7 meses de gestação, que serviram como controles negativos.
A detecção de microplásticos nos bulbos olfativos foi realizada de duas formas: através de exame direto do tecido e por filtração de tecido digerido seguida de espectroscopia por infravermelho. A equipe adotou uma abordagem rigorosamente livre de plástico em todos os procedimentos, utilizando jalecos 100% algodão e luvas de látex limpas, e proibindo o uso de qualquer acessório plástico, como pulseiras, anéis ou relógios.
Litoral paulista tem um dos locais mais contaminados por microplásticos
Pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicada na revista “Science of the Total Environment” indicou que o Estuário de Santos, no litoral Sul paulista, é um dos locais com maior contaminação por microplásticos do mundo.
A conclusão se baseia na comparação de amostras de ostras e mexilhões coletados na região com os dados de mais de cem estudos realizados em 40 países. Na Baixada Santista, os moluscos foram recolhidos na região da balsa Santos-Guarujá, na Praia do Góes e na Ilha das Palmas.