Tragédia

Migrantes vivem angústia no aguardo de notícias de familiares após incêndio fatal no México

No total foram 38 mortos no centro de detenção na cidade mexicana de Ciudad Juárez

Dezenas de familiares passaram a noite em frente às instalações do Instituto Nacional de Migração (INM)Dezenas de familiares passaram a noite em frente às instalações do Instituto Nacional de Migração (INM) - Foto: Guillermo Arias / AFP

A angústia que se apoderava, nesta quarta-feira (29), de migrantes desesperados por saber se familiares e amigos estavam entre os 38 mortos no incêndio de um centro de detenção na cidade mexicana de Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos.

Dezenas deles passaram a noite em frente às instalações do Instituto Nacional de Migração (INM), onde ocorreu a tragédia na noite de segunda, à espera de informações sobre seus parentes e conhecidos.

Mais de um dia e meio depois do ocorrido, as autoridades seguiam sem informar as identidades e o número de falecidos por nacionalidade. Tampouco a situação dos 28 feridos, alguns em estado grave.

Até agora só informaram que no centro havia cidadãos da Guatemala, Venezuela, El Salvador, Honduras, Equador e Colômbia.

“É o que queremos saber, se estavam lá dentro ou não”, disse à AFP o venezuelano Gilbert Zabaleta, que procura por seus amigos Daniel e Óscar.

A última coisa que soube sobre eles foi que haviam sido conduzidos em um veículo do INM rumo ao centro de detenção, por volta do meio-dia de segunda-feira. Os jovens lhe enviaram uma foto do momento do traslado.

O governo anunciou que divulgará na tarde desta quarta um boletim sobre o desastre, que segundo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, não ficará impune.

“Não vamos ocultar nada e não haverá impunidade”, declarou o presidente durante sua coletiva de imprensa diária, em que também pediu à Procuradoria-Geral que avance nas investigações e que sejam “punidos conforme a lei quem tenha causado esta dolorosa tragédia”.

Vídeo-chave

López Obrador já havia adiantado na terça-feira que o incêndio foi iniciado quando um grupo de migrantes - que buscam atravessar para os Estados Unidos - ateou fogo a colchões em protesto por sua possível deportação.

O presidente confirmou nesta quarta a existência de imagens de câmeras de segurança em que se vê o momento de início das chamas, sem que aparentemente os funcionários abrissem o que parece ser a cela onde estava o grupo.

"Não há nenhum propósito de ocultar os fatos (...), de proteger ninguém, não se permite em nosso governo a violação dos direitos humanos nem se permite a impunidade", assegurou López Obrador.

O vídeo, de 32 segundos, centrava a discussão em torno da possível responsabilidade do governo federal, ao qual o INM é subordinado.

"Como é possível que as autoridades mexicanas tenham deixado seres humanos trancados sem possibilidade de escapar do incêndio?", questionou em nota Erika Guevara Rosas, diretora para as Américas da Anistia Internacional.

A organização denunciou que a catástrofe é "consequência das restritivas e cruéis políticas migratórias compartilhadas pelos governos do México e dos Estados Unidos".

Os migrantes consideram que essas medidas dificultam cada vez mais a possibilidade de chegar aos EUA para escapar da violência e da pobreza extrema em seus países.

"Buscar refúgio é um direito humano e não um assunto policial", lê-se em uma faixa pendurada na grade do INM em Ciudad Juárez, cujo letreiro permanece manchado de fuligem.

Pesar

Enquanto isso, a tragédia continuava suscitando manifestações de pesar. "Rezemos pelos migrantes que morreram ontem em um trágico incêndio em Ciudad Juárez, México, para que o senhor os receba em seu reino e console as famílias", disse o papa Francisco.

Um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) indica que desde 2014 cerca de 4.400 pessoas morreram ou desapareceram na fronteira entre o México e os Estados Unidos, que se estende por 3.180 km.

O presidente americano, Joe Biden, endureceu a política migratória, obrigando migrantes da Ucrânia, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Haiti a solicitar asilo a partir dos países pelos quais transitam ou a fazer agendamentos online.

O governante democrata foi acusado pela oposição republicana de ter perdido o controle da fronteira, com mais de 4,5 milhões de pessoas sem documentos interceptadas na região desde que assumiu o cargo.

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