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Mike Pence, ex-vice de Trump, entra na disputa pela Presidência americana sem mencionar antigo chefe

Após dar entrada nos documentos oficiais na segunda, republicano lançou vídeo oficializando campanha pela nomeação do partido para o pleito do ano que vem

Ex-vice presidente dos EUA, Mike Pence Ex-vice presidente dos EUA, Mike Pence  - Foto: Chip Somodevilla / Getty Images / AFP

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence deu nesta quarta-feira (7) o pontapé inicial na sua candidatura à nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais do ano que vem, afirmando que o país precisa de um mandatário que irá "recorrer aos anjos bons da nossa natureza". Ele concorrerá com seu antigo chefe, o ex-presidente Donald Trump, favorito à nomeação partidária.

Pence já havia dado entrada nos documentos oficiais para concorrer na segunda-feira, mas nesta quarta lançou um vídeo ingressando oficialmente na campanha. Sem mencionar Trump na gravação, que faz críticas ao presidente Joe Biden e à "esquerda radical", ele disse:

"Hoje nosso país e nosso partido precisam de um líder que irá recorrer, como [Abraham] Lincoln disse, aos anjos bons da nossa natureza" afirmou Pence. "Minha família e eu fomos imensuravelmente abençoados como oportunidades de servir a este país, e seria fácil ficar nos bastidores. Mas não foi assim que eu fui criado. É por isso que hoje, perante a Deus e minha família, anuncio que concorro à Presidência dos Estados Unidos."

Pence, que neste momento parece ter poucas chances de sucesso — acumula apenas 3,8% das intenções de voto dos republicanos, contra 53,2% de Trump, segundo o agregador RealClearPolitics — foi um aliado ferrenho de Trump desde a metade final da disputa de 2016, antes mesmo de ser confirmado como seu vice, e manteve-se leal durante praticamente o mandato inteiro. Apoiou a conduta anticiência do governo de que fazia parte durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, e não apresentou objeções aos questionamentos do chefe sobre a lisura do sistema eleitoral.

O rompimento, contudo, veio em 6 de janeiro de 2021. O vice, que nos EUA acumula a função de presidente do Senado, presidia a sessão conjunta no Capitólio que foi interrompida quando turbas incitadas pelo então presidente invadiram a sede do Congresso americano.

Pence se recusou a ceder às pressões trumpistas para interromper a sessão que confirmaria a vitória do democrata Joe Biden no Colégio Eleitoral, a etapa derradeira antes da posse 14 dias depois. Argumentava, com razão, que não tinha autoridade constitucional para fazê-lo diante de suas funções cerimoniais.

Após se recusar a embarcar nos impulsos golpistas de Trump, foi alvo das turbas, que gritaram palavras de ordem como "enforquem Mike Pence". Desde então, busca se distanciar do ex-chefe, afirmando que o apoio aos extremistas que invadiram o Capitólio pôs em risco sua vida, de seus parentes e de outros colegas que estavam no prédio naquele momento.

Pence, ainda assim, recusa-se a se distanciar por completo das acusações sem embasamento de Trump de que houve ampla fraude eleitoral em 2020. Em um artigo publicado dois meses após a invasão do Capitólio, não adotou a retórica estridente do ex-companheiro de chapa, mas citou "irregularidades eleitorais significativas", algo nunca provado.

Desde então, também tem sido contido em suas críticas ao antigo chefe: sobre o 6 de janeiro, por exemplo, disse que os dois podem nunca concordar sobre o que aconteceu no Capitólio. Uma das poucas críticas explícitas ao antigo presidente ocorreu quando pediu que Trump se desculpasse por jantar com o rapper Kanye West (que agora atende por Ye) — que, dias antes, havia feito uma série de comentários anissemitas e racistas — e Nick Fuentes, um conhecido supremacista branco.

Além de Trump e DeSantis, Pence junta-se a uma corrida republicana que inclui o senador Tim Scott, da Carolina do Sul; a ex-embaixadora na ONU Nikki Haley; o radialista conservador Larry Elder; Asa Hutchinson, ex-governador de Arkansas; e o empresário Vivek Ramswamy. O governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, também deve ingressar na disputa nesta quarta, segundo a imprensa americana. Na terça, quem formalizou seus planos foi o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie.

A pluralidade de nomes preocupa críticos de Trump, que temem que a divisão pulverize o voto antitrumpista dentro do partido, dando a nomeação nas mãos do ex-presidente. Até o momento, parecem ter motivo para o sinal amarelo: de acordo com o RealClearPolitics, Trump tem uma média de 53,2% das intenções de voto dos republicanos, seguido por DeSantis com 22,4%. Na frente de Pence aparece também Haley, com 4,4%.

O temor foi citado pelo governador de New Hampshire, Chris Sununu, como uma das razões para não concorrer. Ele anunciou a decisão em um artigo de opinião publicado no jornal Washington Post na segunda, afirmando que "há muita coisa em jogo para uma disputa lotada entregar a nomeação a um candidato que consegue apenas 35% do voto, e eu vou ajudar a garantir que isso não aconteça".

Os concorrentes apostam que ainda é cedo e recorrem a disputas passadas para argumentar que tudo ainda está em aberto: em 2016, por exemplo, a candidatura de Trump foi vista como uma piada, antes de abocanhar não só a nomeação republicana, mas também a Presidência. Em 2008, o então senador John McCain saiu de trás nas pesquisas para conseguir a candidatura de seu partido. Eventualmente, contudo, perdeu a Casa Branca para o democrata Barack Obama.

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