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ARGENTINA

Milei anuncia "megadecreto" de desregulação econômica na Argentina; entenda

O pronunciamento inicialmente seria transmitido ao meio-dia, mas foi adiado para a noite. Presidente suspendeu barreiras às privatizações e ordenou a preparação de estatais para a venda ao setor privado

Javier Milei reúne ministros na Casa Rosada para gravar vídeo em que anuncia 'megadecreto' para desregulamentar economia Javier Milei reúne ministros na Casa Rosada para gravar vídeo em que anuncia 'megadecreto' para desregulamentar economia  - Foto: Reprodução/La Nación

O novo presidente da Argentina, Javier Milei, transmitiu na noite desta quarta (20) um vídeo em que anuncia a edição de um "megadecreto" com medidas para a desregulação de vários setores da economia do país. Ele citou 30 de um total de mais de 300 medidas que afirmou ter assinado hoje. Entre elas estão o fim de regras que limitam exportações, privatizações e aumento de preços na Argentina.

O vídeo de 15 minutos, reproduzido em cadeia nacional de rádio e TV na Argentina (a primeira do presidente em seu mandato, iniciado há dez dias), iniciou com uma longa descrição dele sobre os fracassos econômicos do país sul-americano nas últimas décadas, "num ciclo interminável de crises que têm a mesma causa: déficit fiscal".

Ele atribuiu o empobrecimento dos argentinos ao que definiu como uma ideologia de esquerda que impõe os interesses do Estado sobre os dos cidadãos do país.

-- A mudança começa hoje -- discursou o presidente, batizando o megadecreto de "Decreto de Necessidade e Urgência" e definindo o anúncio como "o primeiro passo para terminar a decadência" de décadas do país e torná-lo novamente uma "potência mundial", como fora no início do século XX.

Como parte de seu plano de governo de viés liberal na economia, Milei anunciou novas regras, por exemplo, para a relação entre proprietários de imóveis e locatários, acabando com a chamada Lei de Aluguéis. Na prática, isso dará liberdade para a negociação de contratos de aluguéis entre proprietários e locatários.

Ele revogou todas as leis vigentes, herdadas do governo passado, que regulam a oferta e armazenamento de itens de caráter essencial e os preços de produtos no comércio, as chamadas Lei de Abastecimento e Lei de Gôndolas.

Também determinou o fim da lei que impede privatizações e a preparação de estatais para serem vendidas ao setor privado. Todas serão transformadas em sociedades anônimas (SAs), que são obrigadas a seguir regras de governança, para sua posterior privatização. Isso pode incluir inclusive a venda das ações do governo na companhia aérea Aerolíneas Argentinas.
 

Times de futebol vão virar SAs
Milei anunciou que o decreto converte em sociedades anônimas todos os clubes de futebol do país, atual detentor da Copa do Mundo. Ele também declarou que haverá mudanças nas regras trabalhistas, com a modernização das leis que regem a relação entre patrões e empregados para, segundo ele, facilitar a geração de empregos.

No sentido de retirar subsídios e incentivos estatais a determinados setores, revogou todas as políticas de fomento industrial e comercial, afirmou.

E ainda anunciou uma reforma do sistema aduaneiro do país para facilitar o comércio exterior, indicando o fim de impostos e impedimentos à exportação de produtos como alimentos, um recurso muito usado nos últimos anos por governos peronistas como forma de política cambial e fiscal:

-- Desde o dia de hoje fica proibido proibir exportações -- afirmou Milei, na Casa Rosada, ladeado por 12 pessoas, entre ministros e principais auxiliares.

Entre as medidas também estão ações de desregulação de setores como mineração, vinícola, açucareiro, manejo de terras, medicina privada e de aviação civil, com a adoção da política de céus abertos, acabando com a reserva de mercado para companhias aéreas domésticas.

Milei pretende reforçar o seu princípio de liberdade contratual com a modificação do Código Civil e Comercial do país.

Transmissão adiada
O pronunciamento inicialmente seria transmitido ao meio-dia. Mas depois o governo argentino decidiu que a fala de Milei sobre mais um pacote econômico aconteceria na noite desta quarta-feira por causa das tensões ao longo do dia provocadas por uma manifestação de opositores.

No vídeo, o presidente argentino fez referência às medidas já anunciadas por seu ministro da Economia, Luis Caputo, na semana passada, com corte de despesas públicas e de subsídios e uma maxidesvalorização do já combalido peso frente ao dólar.

No vídeo de hoje, Milei definiu as medidas de Caputo como "um plano de estabilização de choque", que envolve política cambial e monetária, incluindo o que chamou de "saneamento" do banco central argentino.

O vídeo foi gravado no início da tarde. A gravação foi feita na Sala Branca da Casa Rosada, onde o líder argentino estava escoltado pelos ministros, segundo o La Nación. O jornal argentinou destacou que tudo fazia parte de uma encenação simbólica.

Mais tarde, às 15h30, o presidente da Argentina foi à Polícia Federal para acompanhar as manifestações dos grupos de esquerda realizadas ontem em Buenos Aires, bem como a implementação do novo protocolo para coibir protestos com bloqueios de vias e de meios de transporte. Com ele, estavam a ministra da Segurança, Patricia Bullrich , e a ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello.

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