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FURACÃO MILTON

Milton: "Não conseguimos dormir essa noite", conta brasileira que decidiu não sair de casa

Em Orlando, ventos chegaram a 150 km/h, derrubaram árvores e deixaram muitas áreas alagadas e sem energia elétrica; brasileiros em Tampa e Sarasota tiveram que sair da cidade

Furacão Milton na FlóridaFuracão Milton na Flórida - Foto: Chandan Khanna/AFP

A madrugada foi de apreensão em Wintermere, na região metropolitana de Orlando. A passagem do furacão Milton, rebaixado para categoria 1, assustou os habitantes da pacata cidade na Flórida com rajadas de vento que chegaram a 150 km/h, derrubaram árvores e deixaram muitas áreas alagadas e sem energia elétrica.

Alertas de tornados também foram emitidos durante a noite, aumentando o clima de tensão mesmo entre os moradores que vinham se preparando há dias para enfrentar o pior cenário.

"Não conseguimos dormir essa noite, o barulho do vento era muito alto", conta o instrutor de artes marciais e enfermeiro Silvio Fragoso, conhecido como "Silvio Lee".

"As casas aqui são preparadas para aguentar furacões de até categoria 4, mas não confio. No nosso condomínio não teve tanto estrago, mas o vizinho está sem água. Muitas ruas estão alagadas e ainda tem o perigo dos crocodilos, porque a Flórida é um pântano".

Natural de Alegre, no Espírito Santo, Fragoso se mudou com a família para Orlando em 2018, um ano após a passagem do furacão Irma, considerado o mais forte já registrado na bacia do Oceano Atlântico fora do Caribe e do golfo do México, e que causou 134 mortes, a maior parte delas na Flórida.

"Todo ano tem furacão aqui, mas é a primeira vez que os modelos apontavam para um fenômeno como esse passando tão perto da gente. Orlando fica no centro da Flórida e geralmente sofremos apenas os efeitos da cauda [efeitos periféricos do furacão]", destaca a pesquisadora da Universidade da Flórida Débora Fragoso, casada com Silvio.

Alertas do Milton
Os primeiros alertas de furacão começaram a chegar na sexta-feira e, no domingo, as filas para comprar comida, água e combustível já haviam se formado em toda a cidade.

Débora e Silvio terminaram os preparativos na quarta-feira a tarde, depois de estocar todos os mantimentos necessários em um abrigo sem janelas no primeiro andar de sua casa.

"Se estivéssemos mais perto do litoral, nós teríamos evacuado. Mas decidimos ficar em casa e dormir na sala, para ficarmos perto do abrigo. Caso o furacão chegasse a categoria 3, nosso plano era ir para um hotel, que é à prova de furacão e tem gerador", diz Débora, que também é de Alegre.

A sensação foi de alívio quando chegaram os primeiros relatórios indicando a perda de força do furacão Milton. Mas os avisos de que uma série de tornados haviam se formado assustaram ainda mais a família.

"Uma coisa é o furacão, que a gente tem a previsão, sabe a categoria e a velocidade com que vai passar na nossa região, então sabemos o que esperar. Outra são os tornados, que chegam do nada, sem avisar", relata Débora. "A gente até recebe alerta, mas é em cima da hora".

'Nó na garganta'
Moradora de Tampa, uma das cidades mais afetadas pelo furacão Milton, a designer Laís von Söhsten, de 32 anos, também passou a noite apreensiva.

No domingo, ela e o marido decidiram sair da cidade após alugarem um imóvel em Atlanta, na Geórgia, distante mais de 700 km ao norte. Mas na correria, deixaram para trás quase todos os documentos, "passaporte, greencard, certidões, só pegamos a carteira de motorista", ela diz.

"Sou grata, porque conseguimos sair de lá e estamos numa casa boa, em segurança. Mas a mistura de ansiedade e inesperado é a pior combinação que existe. Estamos desde domingo nessa tensão", contou Laís, que é do  Recife, na quarta-feira a noite, antes da passagem do furacão.

Além dela e do marido, estão na casa o filho e o gato de estimação do casal, e uma amiga de Sarasota, primeira cidade afetada pelo furacão, com o marido, dois filhos pequenos (um deles de apenas dois meses) e a sogra, que estava passando férias com eles.

A região onde Laís mora em Tampa está sem energia, e as autoridades comunicaram que o fornecimento de luz só será restabelecido quando a água baixar. Mas sua família e a da amiga têm planos de voltar para lá na sexta-feira para avaliar os danos e as perdas — há relatos de que o imóvel possa ter alagado, já que fica no andar térreo.

"As primeiras previsões mostravam o furacão batendo bem perto da casa dessa minha amiga, mas depois vimos que ele mudou de rota e não passou tão perto", lembra Laís. "A gente sente um nó na garganta, porque não sabe se a casa vai estar lá ou não quando voltar".

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