Mineradora da Noruega descobre depósito de minerais que pode abastecer carros elétricos por 50 anos
Norge Mining afirma ter encontrado reserva de até 70 bilhões de toneladas de fósforo, entre outros ativos considerados estratégicos para a economia europeia
Uma mineradora da Noruega anunciou a descoberta de um depósito de minerais capaz de abastecer carros elétricos e fornecer energia para painéis solares por pelo menos 50 anos. A Norge Mining estimou que a reserva, no sudoeste do país, tenha até 70 bilhões de toneladas de fósforo — o suficiente para atender a demanda das cinco próximas décadas de um dos ativos mais importantes para a economia da União Europeia.
De acordo com a Norge Mining, além da rocha fosfática, carregada com o fósforo mineral, o depósito ainda reúne montantes de vanádio e titânio, também considerados estratégicos para a economia europeia.
A demanda global por fósforo chega a 50 milhões de toneladas, por ano. Até então, a maior quantidade de rocha de fosfato havia sido localizada na região ocidental do Saara, no Marrocos, com cerca de 50 bilhões de toneladas.
Na sequência, vêm a China, com 3,2 bilhões de toneladas; o Egito, com 2,8 bilhões; e a Argélia, com 2,2 bilhões de toneladas do mineral. De acordo com o US Geological Survey, as reservas comprovadas de fosfato no mundo equivalem a 71 bilhões de toneladas, pouco mais que o total descoberto na Noruega.
Atualmente, cerca de 90% do fosfato extraído de rochas é usado pela indústria agrícola, na produção de fertilizantes. Como se trata de um recurso finito na natureza, especialistas temem que a dependência do fosfato nesse segmento leve, no futuro, a uma possível escassez de alimentos.
A aplicação industrial do fósforo também preocupa pelo impacto ambiental, já que o fertilizante fosfatado que escorre com a água da chuva tem sido vinculado à proliferação de algas em rios.
Apesar dos históricos entraves de abastecimento, nos últimos anos, a demanda por fósforo aumentou. O mineral passou a ser considerado estratégico para a indústria de chips de computador, painéis solares e baterias usadas em carros elétricos.
Os dois últimos têm ganhado impulso no mercado pelos benefícios prometidos ao meio ambiente. No entanto, a extração e o refino do fósforo podem ser altamente poluentes. Com isso, a Norge Mining tem afirmado que vai usar as técnicas de captura e armazenamento de carbono para reduzir emissões durante o processo.
A descoberta foi feita inicialmente pela Norge Mining em 2018, a partir de informações fornecidas pelo Norwegian Geological Survey. No entanto, um programa de perfuração conduzido pela companhia descobriu que as reservas são mais profundas que o previsto, naquela época. A empresa agora aguarda a expedição de licenças da União Europeia e do governo norueguês.
Leia também
• Vacinação retrocede no Brasil, outrora exemplo mundial
• Infarto: Internações aumentam mais de 150% no Brasil nos últimos 14 anos
• Setor cervejeiro no Brasil cresce quase 12% em 2022
Ativo estratégico e geopolítico
O fósforo foi descoberto em 1669 pelo cientista alemão Hennig Brandt. Um relatório do Centro de Estudos Estratégicos de Haia aponta que a União Europeia hoje depende quase totalmente das importações de rocha fosfática, enquanto China, Iraque e Síria têm os depósitos mais volumosos do mineral.
Já a "Nature" alertou para a interrupção "iminente" do fornecimento da matéria-prima devido a impasses geopolíticos, como a guerra da Ucrânia. As sanções econômicas, por sua vez, foram citadas pela revista científica como causa potencial de volatilidade do mercado.
"O mercado de compradores está ficando cada vez mais lotado pelo comércio limitado – devido à instabilidade política em vários países de origem, bem como às sanções internacionais impostas a outros", disse a Norge Mining, em junho. "Isso está forçando os importadores a temerem uma crise iminente."
Segundo o jornal "The Independent", ministro do Comércio e da Indústria da Noruega, Jan Christian Vestre, estuda agilizar a instalação de uma mina em Helleland assim que as análises de materiais colhidos em núcleos de perfuração ficarem prontas.
Neste caso, a expectativa é que a primeira grande mina comece a operar em 2028. Vestre poderou que, com a descoberta do depósito, o país tem a "obrigação" de desenvolver "a indústria mineral mais sustentável do mundo".
Um porta-voz da Comissão Europeia descreveu a descoberta como "ótima notícia" para atender aos objetivos de matéria-prima do continente.
Além da rocha fosfática, a região e os Estados Unidos poderiam se beneficiar das reservas de titânio — usado, por exemplo, na construção de aeronaves — e de vanádio — aplicado no aprimoramento do aço e nas baterias líquidas de alta tecnologia de empresas de energia.