Vacinação

Ministro da Saúde reconheceu falta de vacina da Pfizer em SP

Em reunião, Queiroga sugeriu que SP usasse 2ª dose para cobrir falta do imunizante

Marcelo QueirogaMarcelo Queiroga - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu em uma reunião com emissários do governo de São Paulo que havia falta de vacinas da Pfizer contra Covid-19 no estado. E sugeriu um encaminhamento para o problema.

"Se tiver D2 [segunda dose, no jargão da saúde] estocada, da Pfizer, podia usar pra D1 [primeira dose], entendeu?", afirmou o ministro na sexta retrasada (6), num encontro em Brasília com o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, e técnicos.

A reportagem teve acesso ao trecho do vídeo da reunião em que Queiroga faz a sugestão. O ministro foi procurado neste sábado (14) para comentar o episódio, mas ainda não se pronunciou.

Dois dias depois daquele encontro, o ministro alegou que havia uma "divergência de cálculo" entre a pasta e o estado, que reclamava a entrega de 228 mil doses do fármaco.

Esse lote equivale a 50% da remessa que São Paulo esperava receber naquela semana do imunizante, essencial para sua estratégia de vacinar jovens de 12 a 17 anos a partir de 18 de agosto. Só a vacina da fabricante americana e sua parceira alemã BioNTech é autorizada para essa faixa etária.

Além disso, começou há pouco a vacinação da segunda dose da Pfizer no estado, três meses após a primeira. O fármaco demorou para chegar ao Programa Nacional de Imunização pela novela de protelações esmiuçada pela CPI da Covid.

Ou seja, a sugestão de Queiroga ainda ameaçaria a disponibilidade de vacinas para essas pessoas. Ela também vai contra a orientação geral do próprio ministério, que é a de manter os esquemas vacinais intactos -e tirar da D2 para dar à D1, dada o cobertor curto de fornecimento de imunizantes, implicaria risco.

Logo após São Paulo se queixar da falta das vacinas, no dia 3, o governo federal disse que havia ocorrido uma compensação devido à retirada maior do imunizante Coronavac pelos paulistas em outros meses, o que a gestão estadual negou.

O corte levou a um duro embate entre os governos de João Doria (PSDB) e de Jair Bolsonaro. Eles são rivais políticos e o tucano quer enfrentar o presidente na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem.

O manejo da pandemia os opõe desde o começo da crise, em 2020. Bolsonaro insistiu em negacionismo, combateu vacinas e medidas de isolamento social. Doria foi no caminho inverso e patrocinou a chegada do primeiro imunizante ao país, a Coronavac.

São Paulo ameaçou, na semana retrasada, tomar medidas judiciais caso a situação não fosse resolvida, o que levou o secretário Gorinchteyn a Brasília.

O ministério até corrigiu dados inflacionados sobre entregas de vacina que mantinha em seu site e prometeu que a próxima remessa da Pfizer voltaria a atender o critério demográfico de distribuição dos fármacos.

Como tem 23% dos brasileiros, São Paulo vinha recebendo mais ou menos isso a cada reparte enviado pelo ministério.

Na terça (10), houve um envio de 240 mil doses para São Paulo e a pasta sugeriu estar compensando a queixa de São Paulo. Regiane de Paula, coordenadora do Programa Estadual de Imunização, discordou: "O ministério da Saúde deve ao estado 228 mil doses da vacina da Pfizer. Cada vacina importa".

No dia seguinte, Doria acusou o ministro de descumprir o trato. "Eu aprendi com o meu pai que é feio mentir, que é feio prometer e não cumprir. Ou o ministro não tem palavra ou a sua palavra não vale no ministério da Saúde", afirmou o tucano.

Sem solução à vista para o impasse, na sexta (13) o governo estadual acabou entrando com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o ministério, exigindo as 228 mil doses e o cumprimento do critério populacional de distribuição de vacinas. O caso será analisado pelo ministro Ricardo Lewandowski.

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter