Ministro da Venezuela não acredita que cortes da Opep+ influenciem em sanções dos EUA
Pedro Tellechea participou da reunião dos treze membros da organização, em Viena
Os cortes na produção de petróleo anunciados pela Opep+, no domingo (4), reduzem a oferta global e buscam estimular os preços, mas o ministro venezuelano do Petróleo não acredita que influenciem em uma maior flexibilização das sanções dos Estados Unidos.
"Não acredito", disse à AFP o ministro venezuelano do Petróleo, Pedro Tellechea, em Viena, onde participou da reunião dos treze membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderados pela Arábia Saudita, junto aos seus 10 parceiros, encabeçados pela Rússia.
No encontro, a Arábia Saudita se comprometeu em reduzir sua produção em um milhão de barris diários (mdb) a partir de julho e a Rússia anunciou que nove países produtores manterão, até o final de 2024, um corte voluntário em sua oferta de mais de um milhão de barris por dia, que está em vigor desde maio.
Francisco Monaldi, diretor do Programa Latino-Americano de Energia do Centro de Estudos Energéticos do Instituto Baker, acredita que "se se produz um aumento no preço do petróleo, isso pode pôr mais pressão sobre os Estados Unidos para relaxar ainda mais as sanções à Venezuela".
"A sinalização de que a Arábia Saudita está disposta a defender os preços tem esse efeito potencial", explicou Monaldi à AFP.
Durante sua estadia em Viena, o ministro venezuelano se reuniu com representantes da empresa energética italiana, Eni, e da espanhola Repsol. "A União Europeia está esperando também", disse.
"Vamos dar licença de exportação de gás para a ENI e para a Repsol", afirmou Tellechea à AFP. "O gás não está sancionado", acrescentou.
A bola está com os EUA
"Depois da reunião da Opep, a bola está com os Estados Unidos", disse à AFP Miguel Tinker Salas, professor da Universidade de Pomona College, nos Estados Unidos.
Os EUA aplicam sanções contra a Venezuela com o objetivo de pressionar pela saída do presidente Nicolás Maduro, cuja reeleição, em 2018, consideram "fraudulenta".
Essas medidas se endureceram em 2019 com um embargo ao petróleo venezuelano, no marco da estratégia de "máxima pressão" que o governo republicano de Donald Trump impulsionou.
Porém, essa política começou a mostrar fissuras e se flexibilizou com o democrata Joe Biden, sobretudo desde a crise energética derivada da guerra na Ucrânia.
Em novembro, a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês) emitiu uma licença para que o gigante energético Chevron pudesse retomar suas operações na Venezuela, com a condição de que o dinheiro advindo das vendas seja utilizado para amortizar a dívida da petroleira estatal PDVSA.
Em maio, a Ofac renovou uma licença emitida, em novembro passado, a várias companhias de petróleo: Halliburton, Schlumberger Limited, Baker Hughes Holdings LLC e Weatherford International.
"A demanda mundial vai exigir e as empresas transnacionais vão exigir o seu direito, como o tem a Chevron", disse aos jornalistas Tellechea no sábado. "A demanda vai exigir isso."
"Nós podemos ser um dos fornecedores com muita tranquilidade e transparência para que os preços na Europa possam baixar, mas as pressões que os Estados Unidos têm exercido não permitem que a Europa tenha melhores resultados para sua economia", afirmou o ministro venezuelano.
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O ciclo eleitoral nos EUA
Para Tinker Salas, se os Estados Unidos "querem que os preços se estabilizem, a medida que se adentra no ciclo eleitoral e fazer frente às preocupações sobre uma possível escassez, então deveria eliminar as sanções e permitir que ela (Venezuela) volte ao mercado".
A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, com uma produção que está em torno dos 860.000 barris diários, segundo o governo.
"Depende muito também, de se em algum momento os Estados Unidos acreditarão que a Venezuela vá fazer algumas concessões. Se não, pode haver alguma pequena liberalização, mas duvido que sejam dados passos significativos", afirmou Monaldi.
Em abril, um dos representantes da oposição da Venezuela ante Estados Unidos, Fernando Blasi, gerou controvérsias, após defender uma flexibilização das sanções de Washington.
Mark A. Wells, subsecretário adjunto do Departamento de Estado, disse, em abril, que a política de Washington "consistiu em calibrar as sanções para que respondam tanto as necessidades humanitárias, quanto resultados democráticos positivos".
Em Viena, o ministro venezuelano declarou: "Há uma mudança no discurso político, mas isso tem que se converter em realidade".