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DECLARAÇÃO

Ministro de extrema-direita de Israel diz que deixará o governo se acordo sobre Gaza for aprovado

Ben-Gvir chamou o acordo de 'imprudente' e declarou que consideraria voltar ao governo liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu

Itamar Ben-Gvir, durante visita a um mercado de Jerusalém Itamar Ben-Gvir, durante visita a um mercado de Jerusalém  - Foto: Menahem Kahana/AFP

O ministro da Segurança Interna de Israel, Itamar Ben-Gvir, afirmou nesta quinta-feira (16) que ele e o seu partido deixarão o governo se for aprovado o cessar-fogo com o Hamas em Gaza, mas afirmou que não derrubará a coligação.

Ben-Gvir, do partido de extrema-direita Poder Judaico, chamou o acordo de "imprudente" e declarou que consideraria voltar ao governo liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se a guerra recomeçasse após a primeira fase da trégua.

— Se a guerra contra o Hamas for retomada, com intensidade, para alcançar os objetivos que ainda não foram atingidos, voltaremos ao governo — disse ele em entrevista coletiva em Jerusalém, acrescentando que o acordo não envolverá a libertação de todos os reféns.

Ben-Gvir ocupa um lugar no Gabinete israelense ao lado de outros dois membros do Poder Judaico e contribui com seis deputados, incluindo ele mesmo, para a coalizão de 68 parlamentares de Netanyahu no Knesset, o Parlamento israelense.

Ainda assim, ele esclareceu que "sob [sua] liderança, o Poder Judaico não derrubará Netanyahu e não agirá com a esquerda [...] contra o governo".

Ben-Gvir também pediu ao ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder do partido Sionismo Religioso, que renunciasse. Smotrich havia declarado mais cedo que o acordo de cessar-fogo era "perigoso" para a segurança de Israel.

Após as declarações, o partido Likud de Netanyahu afirmou em um comunicado: "Quem desmonta um governo de direita estará para sempre em desgraça." O acordo de cessar-fogo, acrescentou, permitiria a Israel "maximizar o número de reféns vivos que serão libertados... (e) alcançar sucessos de segurança que garantirão a segurança de Israel por gerações".

O adiamento da votação do acordo pelo Gabinete de governo ocorre em meio a uma forte pressão de setores mais extremistas da sociedade israelense, incluindo essa ala mais radical da coalizão de governo de Netanyahu, que se opõem ao acordo.

Manifestantes bloquearam uma estrada em Jerusalém, com caixões representando os soldados mortos durante a guerra. Outro protesto contra o acordo foi realizado em frente à Suprema Corte do país.

Pressão interna
Tanto Ben-Gvir quanto Smotrich reiteraram repetidamente a necessidade de continuar a guerra em Gaza, com o primeiro admitindo que bloqueou várias tentativas anteriores de alcançar um cessar-fogo.

O acordo, mediado por Catar, Egito e Estados Unidos e firmado na quarta-feira, prevê inicialmente a libertação de 33 reféns sequestrados durante o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, em troca de centenas de prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses.

No entanto, Ben-Gvir propôs uma abordagem alternativa na quinta-feira.

— Para a libertação dos reféns, é necessário interromper completamente a ajuda humanitária enviada a Gaza — acrescentou. — Somente com essa condição, o Hamas libertará nossos reféns sem colocar em risco a segurança de Israel.

Interesses distintos
Se por um lado tanto Ben-Gvir quanto Smotrich mostraram insatisfação com a ideia de pôr fim aos combates em Gaza em definitivo, o premier parece estar explorando interesses distintos dos dois líderes para manter seu governo. Netanyahu manteve reuniões com Smotrich, tentando convencê-lo a apoiar o plano.

Fontes ouvidas pelo Times of Israel especulam que entre as contrapartidas pela manutenção do apoio oferecidas pelo premier ao aliado estariam a garantia de novos assentamentos na Cisjordânia e de novos padrões de defesa nas fronteiras, méritos que ele poderia explorar para si com seu eleitorado, que inclui colonos.

Israel atualmente enfrenta um processo no Tribunal Internacional de Justiça, movido pela África do Sul, acusando o país de cometer "genocídio" na Faixa de Gaza.

Israel nega veementemente a acusação. Grupos de direitos humanos apontaram declarações semelhantes de figuras como o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra, bem como Netanyahu, como possíveis evidências de intenções genocidas.

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